Mariana de Paula Drewinski


Em 8 de fevereiro de 2023, Mariana de Paula Drewinski defendeu sua tese de doutorado intitulada “Cogumelos comestíveis do Brasil: diversidade e viabilidade de cultivo”, pelo Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA).

A banca de defesa foi presencial, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e foi composta pelos pesquisadores: Dr. Nelson Menolli Junior (orientador) – Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, campus São Paulo (IFSP), Dr. Elisandro Ricardo Drechsler Santos – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dr. Eustáquio Souza Dias – Universidade Federal de Lavras (UFLA), Dra. Herta Stutz – Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) e Dra. Sthefany Rodrigues Fernandes Viana – Yuki Cogumelos / HN Food.

O estudo teve o objetivo de investigar a ocorrência de cogumelos comestíveis no Brasil e estudar a potencialidade de cultivo de espécies coletadas na Mata Atlântica. Com base em dados novos e de literatura, foi reportada a ocorrência de mais de 400 espécies de cogumelos comestíveis silvestres no Brasil. Os estudos de domesticação foram realizados com quatro espécies, e foi possível o cultivo exitoso de Auricularia cornea (orelha-da-mata), Auricularia fuscosuccinea (orelha-de-macaco) e Irpex rosettiformis (leque-de-anjo). Apesar do desenvolvimento exitoso do micélio de Laetiporus gilbertsonii (frango-da-floresta), não foi possível a obtenção de basidiomas dessa espécie.


Cogumelos comestíveis do Brasil: diversidade e viabilidade de cultivo


ABSTRACT

Among the 27,000 known mushroom species, about 2,000 are edible, but only 100 species are cultivated worldwide. The strains of mushrooms most commonly cultivated in Brazil are, in general, from species collected in temperate climate, which demands a high cost for acclimatization of the environment for successful cultivation. Brazilian indigenous groups know and consume several species of mushrooms found in the forests, and these naturally occurring species can be very promising for studies on cultivation and future insertion in the edible mushroom industry. Thus, the objective of this work was to summarize the edible mushrooms that occur in Brazil and to study the potential of cultivating species collected in the Atlantic Rainforest. Based on new collections and bibliographic records, we report the occurrence of 408 species of wild edible mushrooms in Brazil, of which 349 can be safely consumed and 59 need some condition to be consumed properly. Among the 408 edible species, 83 species have consistent records of occurrence in Brazil based on molecular records and/or the existence of Brazilian nomenclatural types. The species Auricularia cornea, Auricularia fuscosuccinea, Irpex rosettiformis and Laetiporus gilbertsonii were evaluated for in vitro mycelial development at different temperatures and in two substrates. The temperature of 30 °C and the substrate based on eucalyptus sawdust favored the mycelial development of the four studied species. In the experiment of cultivation in blocks, it was possible to obtain basidiomata of the species A. cornea, A. fuscosuccinea and I. rosettiformis. Despite the success in cultivating L. gilbertsonii mycelium, it was not possible to obtain basidiomata for this species. This is the first record of successful cultivation of the species I. rosettiformis. The mushrooms of the three species produced were analyzed for nutritional and mineral composition, and showed carbohydrate content ranging from 54 % to 71 %, crude fiber from 3 % to 27 %, crude protein from 10 % to 25 %, lipids from 0.8 % to 10 %, and ash from 4 % to 8 %. Among the analyzed minerals, potassium and phosphorus were the most abundant elements in the studied samples. Thus, it can be stated that there is a huge potential for the cultivation of wild edible mushrooms in Brazil. Research on the cultivation of these species can lead to the discovery of strains with higher productivity, and more adapted to local conditions than the lineages of commonly commercialized species, in addition to diversifying mushroom production and valuing Brazilian biodiversity.

Keywords: Auricularia cornea, Auricularia fuscosuccinea, domestication, Hydnopolyporus fimbriatus, Irpex rosettiformis, Laetiporus gilbertsonii, mushroom cultivation, wild edible mushrooms.

RESUMO

Dentre as 27 mil espécies de cogumelos conhecidas, cerca de 2 mil são comestíveis, mas apenas 100 espécies são cultivadas mundialmente. As cepas dos cogumelos mais comumente cultivados no Brasil são, em sua maioria, provenientes de espécies de países de clima temperado, o que demanda um alto custo para a climatização dos ambientes para o sucesso no cultivo. Os indígenas brasileiros conhecem e consomem diversas espécies de cogumelos encontrados nas matas, e essas espécies de ocorrência natural podem apresentar-se bastante promissoras para estudos de cultivo e para a futura inserção no mercado de cogumelos comestíveis. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi conhecer os cogumelos comestíveis que ocorrem no Brasil e estudar a potencialidade de cultivo de espécies coletadas na Mata Atlântica. Com base em novas coleções e em registros bibliográficos, nós reportamos a ocorrência de 408 espécies de cogumelos comestíveis silvestres no Brasil, das quais 349 podem ser consumidas com segurança e 59 necessitam de alguma condição para serem consumidas adequadamente. Dentre as 408 espécies comestíveis, 83 espécies apresentam registros consistentes de ocorrência no Brasil com base em dados moleculares e/ou pela existência de tipos nomenclaturais brasileiros. As espécies Auricularia cornea, Auricularia fuscosuccinea, Irpex rosettiformis e Laetiporus gilbertsonii foram avaliadas quanto ao desenvolvimento micelial in vitro em diferentes temperaturas e em dois substratos de cultivo. A temperatura de 30 °C e o substrato a base de serragem de eucalipto favoreceram o desenvolvimento micelial das quatro espécies estudadas. No teste de cultivo em blocos, foi possível a obtenção de basidiomas das espécies A. cornea, A. fuscosuccinea e I. rosettiformis. Apesar do sucesso no cultivo do micélio de L. gilbertsonii, não foi possível a obtenção de basidiomas para essa espécie. Este é o primeiro registro de cultivo exitoso da espécie I. rosettiformis. Os basidiomas das três espécies produzidas foram analisados quanto à composição nutricional e mineral, e apresentaram conteúdo de carboidratos variando de 54 % a 71 %, fibra bruta de 3 % a 27 %, proteína bruta de 10 % a 25 %, lipídios de 0,8 % a 10 %, e cinzas de 4 % a 8 %. Dentre os minerais analisados, potássio e fósforo foram os elementos mais abundantes nas amostras estudadas. Mediante ao exposto, pode-se afirmar que existe um enorme potencial associado ao cultivo de espécies de cogumelos silvestres do Brasil. Pesquisas sobre o cultivo dessas espécies podem levar à descoberta de isolados com maior produtividade e mais bem adaptados às condições locais do que as linhagens de espécies comumente comercializadas, além da diversificação da produção e da valorização da biodiversidade brasileira.

Palavras-chave: Auricularia cornea, Auricularia fuscosuccinea, cogumelos silvestres, cultivo de cogumelos, domesticação, Hydnopolyporus fimbriatus, Irpex rosettiformis, Laetiporus gilbertsonii.

 


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Cogumelos comestíveis do Brasil: diversidade e viabilidade de cultivo


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