Kauê Fonseca
Em 29 de maio de 2020, Kauê Fonseca, aluno de mestrado do programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica– SP., por meio de videoconferência devido ao isolamento social causado pela pandemia do COVID-19, defendeu sua Dissertação de Mestrado intitulada, “Reconstituição paleoambiental da turfeira Sempre-Viva, Serra do Espinhaço Meridional (Diamantina, Minas Gerais, Brasil), durante o Pleistoceno Tardio e Holoceno.”
A banca examinadora foi presidida pela sua orientadora, PqC. Dra. Cynthia Fernandes Pinto da Luz e composta pelo Prof.ª Dr. Paulo Eduardo De Oliveira (USP) e pelo Dr. Flávio Lima Lorente (CENA/USP- Piracicaba).
A Serra do Espinhaço Meridional é uma das poucas regiões montanhosas do Brasil onde turfeiras têm sido formadas entre 1.200 e 2.000 m de altitude. As turfeiras são ecossistemas úmidos, onde a saturação de água quase permanente ocasiona a anoxidade nesses ambientes transicionais, preservando a matéria orgânica ao longo do tempo.
A vegetação do local é típica do bioma Cerrado, com “ilhas” de espécies arbóreas (Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Montana) denominadas “Formações em Capões”, formando um extenso mosaico, que aparece como manchas dispersas entre as formações campestres úmidas.
Alguns Palinomorfos, revestidos de esporopolenina, são capazes de resistir aos processos de fossilização e, portanto, são capazes de fornecer informações ecológicas do passado. Pelo entendimento de que a matéria orgânica se acumula ao longo do tempo em camadas horizontais e que a vegetação no Quaternário não sofreu processos de extinção em massa, é possível a correlação da vegetação e a forma como ela se organiza no presente com o registro de como ela se preservou no passado.
Através da análise dos palinomorfos polínicos preservados, portanto, é possível reconstituir a vegetação do passado quando somada a outros dados correlacionáveis, como por exemplo, os isótopos e a datação radiocarbono, dentre outros.
A partir da interpretação dos resultados, foi possível discutir e comparar com outros trabalhos realizados na região e, em linhas gerais, concluímos que o clima e a vegetação regional e local na turfeira Sempre-Viva sofreram mudanças ao longo do tempo, onde o Pleistoceno se caracterizou por um clima frio e úmido com uma vegetação montana mais presente que durante o Holoceno, que em sua transição apresentou uma tendência de diminuição da umidade local e uma vegetação típica de formações savânicas e campestres. O entendimento destas mudanças poderá servir como referência para futuros trabalhos acerca das turfeiras, do clima e da vegetação regional.
Reconstituição paleoambiental da turfeira Sempre-Viva, Serra do Espinhaço Meridional (Diamantina, Minas Gerais, Brasil), durante o Pleistoceno Tardio e Holoceno
ABSTRACT
The Serra do Espinhaço Meridional is one of the few mountainous regions in Brazil where mires have been formed between 1,200 and 2,000 m in altitude. Mires are humid ecosystems, where almost permanent water saturation causes anoxicity in these transitional environments, preserving organic matter over time. Some Palinomorphs, coated with sporopolenin, are able to withstand fossilization processes, and therefore are able to provide ecological information from the past. By understanding that organic matter accumulates over time in horizontal layers and that the vegetation in the Quaternary did not undergo mass extinction processes, it is possible to correlate the vegetation and the way it is organized in the present with the record of how it has preserved itself in the past. From the analysis of pollen preserved, therefore, it is possible to reconstruct the vegetation of the past when added to other correlated data, such as isotopes and radiocarbon dating, among others. The present work had as objective the reconstruction of the changes occurred in the vegetation, in the environment and in the past climate of a core in the Sempre-Viva mire, Serra do Espinhaço Meridional, Minas Gerais. For the core data, a vibrocore was used and from it the morphological analysis of the soil, the isotopic analysis of carbon and nitrogen, 14C dated by accelerator mass spectrometry (AMS) and the manufacture of palynological slides were performed. Palynomorphs were analyzed using an Olympus BX50 optical microscope using 60x and 100x objectives under immersion in anisol for identification. The identification was made based on the observable morphological characters, using methodologies of comparison with the reference collection of the Núcleo de Pesquisa em Palinologia that contains pollen and plant spores that were collected by the collaborating team in the study area, in addition to using photographic atlases and palynological bibliographic collections. Were identified 116 pollen types representing 68 families of Gymnosperms and Angiosperms and 48 non-pollen types representing 4 families of algae, 1 family of dinoflagellates, 3 orders of fungi and 12 families of monilophytes. The regional and local pollen assemblies and the non-pollen palynomorphs (NPP) were presented in the form of diagrams of percentage and concentration of palynomorphs in cm3 of sediment according to the habit of the plants and their phytophysiognomies together with 14C dating and stratigraphy, using the TILIA and CONISS softwares. The chronology of the mire, based on 3 dated samples, made it possible to establish ages calibrated at 95% probability that affect the Late Pleistocene and Holocene from 32.8 k years cal AP. Four palinozones were established, defined from the stratigraphically constrained cluster analysis by the method of incremental sum of squares. Based on the interpretation of the results, it was possible to discuss and compare it with other works carried out in the region and, in general, we concluded that the climate and the regional and local vegetation in the Sempre-Viva mire, underwent changes over time, where the Pleistocene was characterized by a cold and humid climate with mountainous vegetation more present than during the Holocene, which in its transition showed a tendency to decrease local humidity and a typical vegetation of an open savanna formation. Understanding these changes may serve as a reference for future work on peat bogs, the climate and regional vegetation.
Key-Words: Cerrado, palynomorphs, pollen, Quaternary, paleoclimate.
RESUMO
A Serra do Espinhaço Meridional é uma das poucas regiões montanhosas do Brasil onde turfeiras têm sido formadas entre 1.200 e 2.000 m de altitude. As turfeiras são ecossistemas úmidos, onde a saturação de água quase permanente ocasiona a anoxidade nesses ambientes transicionais, preservando a matéria orgânica ao longo do tempo. Alguns Palinomorfos, revestidos de esporopolenina, são capazes de resistir aos processos de fossilização e, portanto, são capazes de fornecer informações ecológicas do passado. Pelo entendimento de que a matéria orgânica se acumula ao longo do tempo em camadas horizontais e que a vegetação no Quaternário não sofreu processos de extinção em massa, é possível a correlação da vegetação e a forma como ela se organiza no presente com o registro de como ela se preservou no passado. A partir da análise dos palinomorfos polínicos preservados, portanto, é possível reconstituir a vegetação do passado quando somada a outros dados correlacionáveis, como por exemplo, os isótopos e a datação radiocarbono, dentre outros. O presente trabalho teve como objetivo a reconstituição das mudanças ocorridas na vegetação e, consequentemente, no ambiente e no clima pretérito de um testemunho da turfeira Sempre-Viva, na Serra do Espinhaço Meridional, Minas Gerais. Para a coleta do testemunho, foi utilizado um vibrotestemunhador e a partir dela foi realizada a análise morfológica do solo, a análise isotópica de carbono e nitrogênio, datação do 14C por Espectrometria de Massas com Aceleradores (EMA) e a confecção de lâminas palinológicas. Os palinomorfos foram analisados em microscópio óptico Olympus BX50 utilizando-se objetivas de 60x e 100x sob imersão em anisol, para a identificação. A identificação foi feita com base nos caracteres morfológicos observáveis, utilizando-se metodologias de comparação com o laminário da Palinoteca do Núcleo de Pesquisa em Palinologia que contém pólen e esporos de plantas que foram coletadas pela equipe colaboradora na área de estudo, além da utilização de atlas fotográficos e acervos bibliográficos palinológicos. Foram identificados 116 tipos polínicos representando 68 famílias de Gimnospermas e Angiospermas e 48 tipos não-polínicos representando 4 famílias de algas, 1 familia de dinoflagelados, 3 ordens de fungos e 12 famílias de monilófitas. As assembleias -polínicas regionais e locais e dos palinomorfos não polínicos (PNP) foram apresentadas sob a forma de diagramas de percentagem e de concentração dos palinomorfos por cm3 de sedimento de acordo com o hábito das plantas e suas fitofisionomias em conjunto com as datações por 14C e a estratigrafia, utilizando-se os softwares TILIA e CONISS. A cronologia da turfeira, com base em 3 datações, permitiu estabelecer idades calibradas a 95% de probabilidade que abrageram o Pleistoceno Tardio e o Holoceno a partir de 32,8 k anos cal AP. Foram estabelecidas quatro palinozonas, definidas a partir da análise de agrupamento restrito estratigraficamente pelo método da soma dos quadrados. A partir da interpretação dos resultados, foi possível discutir e comparar com outros trabalhos realizados na região e, em linhas gerais, concluímos que o clima e a vegetação regional e local na turfeira Sempre-Viva sofreram mudanças ao longo do tempo, onde Pleistoceno se caracterizou por um clima frio e úmido com uma vegetação montana mais presente que durante o Holoceno, que em sua transição apresentou uma tendência de diminuição da umidade local e uma vegetação típica de formações savânicas e campestres. O entendimento destas mudanças poderá servir como referência para futuros trabalhos acerca das turfeiras, do clima e da vegetação regional.
Palavras-Chave: Cerrado, palinomorfos, polen, Quaternário, paleoclima.
Kauê Fonseca
Reconstituição paleoambiental da turfeira Sempre-Viva, Serra do Espinhaço Meridional (Diamantina, Minas Gerais, Brasil), durante o Pleistoceno Tardio e Holoceno
VOLTAR AS DISSERTAÇÕES E TESES