Mariane Cristina Inocente
Em 17 de abril de 2018, Mariane Cristina Inocente, aluna de mestrado do programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica, bolsista CAPES, defendeu sua Tese de Mestrado intitulada, “Déficit hídrico em sementes de Eugenia spp. (Myrtaceae): resistência e relações com a regenerabilidade de raízes e plântulas”.
A banca examinadora foi presidida pelo seu orientador, Dr. Claudio José Barbedo (Núcleo de Pesquisa em Sementes – IBt/SP) e composta pelo Dr. Eduardo Pereira Gomes (Núcleo de Ecologia – IBt/SP), Dr. João Paulo Naldi Silva (USP) e Dra. Fatima Conceição Márquez Piña-Rodrigues (UFSCar – Sorocaba).
O projeto desenvolvido teve como objetivo verificar a resistência das sementes de diferentes espécies de Eugenia (Myrtaceae) ao déficit hídrico e também a possibilidade de uma segunda germinação nestas sementes, quando a primeira é perdida pela falta de água disponível no meio, decorrente do período de déficit.
Déficit hídrico em sementes de Eugenia spp. (Myrtaceae): resistência e relações com a regenerabilidade de raízes e plântulas
ABSTRACT
Cutting seeds of several Eugenia species results in the production of more than one seedling. However, there is no production of more than one seedling in each fraction, suggesting some process of self-control of the formation of several seedlings simultaneously from the same reproductive fraction. This could be understood as a strategy of spreading, in time and place, the availability of new seedlings, as an alternative to the desiccation tolerance, since they are recalcitrant, and of dormancy, demonstrated by seeds of several species. One of the environmental factors that could create favorable and unfavorable time cycles for the development and establishment of seedlings is the water availability of the soil. Recalcitrant seeds may also find environmental conditions unsuitable for seedling development, such as periods of drought. In some Brazilian regions, including those in which Eugenia species are commonly found, cycles of high rainfall followed by periods of drought are found, resulting in large fluctuations in the availability of water in the soil. This research aimed to analyze the regenerative capacity of Eugenia seeds as a possible strategy to guarantee the production of new seedlings even when the seed or seedlings suffer some damages and/or the first germination does not result in plant development due to lack of sufficient water availability in the middle. We also aimed to verify if these seeds present mechanisms of resistance to environment water deficits, maintenance the hydration, and the viability as well, of totipotent tissues which are capable of regenerate new roots and seedlings when the environment conditions become suitable. Therefore, we tried to simulate conditions of water stress in order to find the limit of tolerance of the seeds to the drought and the possibility of this stress to induce the regeneration of the seedlings. Seeds of Eugenia brasiliensis, E. involucrata, E. pyriformis and E. uniflora were used. The results evidenced the amazing resistance of Eugenia seeds to the water deficit, survinving to water potential as negative as -5.0 MPa, for 60 days, after which it continued the development. They also demonstrated the continuation of the development of roots and aerial parts from a tissue apparently necrotic on its surface, evidencing that, under water stress situation, when necessary, Eugenia seeds can trigger mechanism of formation of new roots and seedlings to guarantee the survival of the species; this is possible not only from the seed, but also from the root.
Keywords: resistance, regeneration, water stress
RESUMO
Em várias espécies de Eugenia o fracionamento das sementes resulta na produção de mais de uma plântula. Contudo, não há produção de mais de uma plântula em cada fração, sugerindo algum processo de autocontrole da formação de várias plântulas simultaneamente a partir de uma mesma fração reprodutiva. Isso poderia ser interpretado como uma estratégia de ampliação, no tempo e no espaço, da disponibilidade de novas plântulas, como uma alternativa à tolerância à dessecação, uma vez que são recalcitrantes, e da dormência, demonstrada por sementes de diversas espécies. Um dos fatores ambientais capazes de criar ciclos temporais favoráveis e desfavoráveis ao desenvolvimento e estabelecimento de plântulas é a disponibilidade hídrica do solo. Sementes recalcitrantes também podem enfrentar condições não favoráveis ao desenvolvimento de plântulas, como períodos de seca. Em algumas regiões brasileiras, nas quais ocorre grande número de espécies do gênero Eugenia, há ciclos de grande precipitação pluvial seguidos de períodos de seca, resultando em grandes oscilações da disponibilidade de água no solo. Neste trabalho, buscou-se analisar a capacidade regenerativa de sementes de Eugenia como possível estratégia de garantir a produção de novas plântulas, mesmo quando a semente ou as plântulas sofrem danos e a primeira germinação não resulta em desenvolvimento de plantas por falta de suficiente disponibilidade hídrica no meio, bem como verificar se essas sementes apresentam mecanismos de resistência a déficits hídricos do meio, garantindo a manutenção de tecidos totipotentes capazes de manter um nível mínimo de hidratação que permita regenerar novas raízes e plântulas quando as condições do meio se tornam favoráveis. Para tanto, buscou-se simular condições de déficit hídrico a fim de encontrar o limite de tolerância das sementes à seca e da possibilidade desse déficit induzir a regeneração das plântulas. Foram utilizadas sementes de Eugenia brasiliensis, E. involucrata, E. pyriformis e E. uniflora. Os resultados evidenciaram a grande resistência das sementes de Eugenia ao déficit hídrico, chegando a suportar -5,0 MPa por 60 dias, e após isso continuar o desenvolvimento. Também demonstraram a continuação do desenvolvimento de raízes e partes aéreas a partir de um tecido aparentemente necrosado em sua superfície, evidenciando que, sob situação de estresse hídrico, quando necessário, as sementes de Eugenia utilizam-se do mecanismo de formação de novas raízes e plântulas para garantir a sobrevivência do exemplar, inclusive podendo germinar não só da semente, mas sendo capaz de emitir parte aérea a partir da raiz.
Palavras-chave: estresse hídrico, resistência, regeneração
Mariane Cristina Inocente
Déficit hídrico em sementes de Eugenia spp. (Myrtaceae): resistência e relações com a regenerabilidade de raízes e plântulas
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