Eunice Reis Batista
No dia 25 de fevereiro de 2015, a aluna da Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica de São Paulo (IBt), Eunice Reis Batista defendeu sua tese de doutorado intitulada “Respostas fisiológicas e metabólicas de duas cultivares de Coffea arabica L. (Rubiaceae) submetidas a atmosferas enriquecidas em CO2 em Câmaras de Topo Aberto e sistema FACE”.
A banca examinadora foi composta pela orientadora Dra. Márcia R. Braga, Dra. Marília Gaspar (IBt), Dr. Oliveiro Guerreiro Filho (IAC-SP), Dr. Marcos Buckeridge (IB-USP) e Dr. Danilo Centeno (UFABC-SP).
O trabalho teve por objetivos avaliar o efeito de atmosferas enriquecidas de CO2 em Coffea arabica comparando-se as cultivares Catuaí vermelho IAC-144 e Obatã vermelho IAC-1669, respectivamente suscetível e resistente à ferrugem alaranjada, doença causada pelo fungo H. vastatrix e que provoca grandes prejuízos aos produtores. Foram avaliadas as taxas de assimilação líquida de carbono (A) e teores de compostos do metabolismo primário e secundário. Os resultados obtidos a partir do estudo, indicaram que o incremento da concentração atmosférica de CO2 tanto em casa de vegetação como sob condições de campo, tiveram efeito positivo nas taxas de fotossíntese. Os teores de carboidratos, fenólicos solúveis e lignina foram influenciados significativamente no cultivo em OTCs, o que não ocorreu, de forma geral, na estrutura experimental FACE. O aumento do CO2 atmosférico não influenciou a interação do patógeno H. vastatrix com os cafeeiros cultivados em OTCs.
Respostas fisiológicas e metabólicas de duas cultivares de Coffea arabica L. (Rubiaceae) submetidas a atmosferas enriquecidas em CO2 em Câmaras de Topo Aberto e sistema FACE
ABSTRACT
Coffee is one of the main comodities of the Brazilian agribusiness but most cultivars of Coffea arabica are susceptible to the fungus Hemileia vastatrix, the causal agent of the coffee rust disease, with negative impacts on coffee prodution. The current concerns with the scenario of climate changes have stimulated studies on impacts of environmental changes on coffee cultivation and its interaction with the pathogen. This work aimed to evaluate the effect of CO2-enriched atmospheres on two cultivars of Coffea arabica, comparing the suscetible cultivar red Catuaí 144 IAC with the resistant one IAC 1669 red Obatã. Three different experiments were carried out, two of them in Open Top Chambers (OTCs) under ambient (380ppm) and high CO2 atmosphere (760 ppm), for 100 and 45 days, respectively, and the second one with H. vastatrix inoculation. The third experiment was performed under field conditions in the first free air CO2 enrichment (FACE) system in Latin America, installed in the Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP, Brazil, in which coffee cultivars were subjected to current concentration (~ 380ppm) and CO2-enriched atmosphere (550 ppm) for 27 months. We evaluated the net carbon assimilation rates and the contents of primary and secondary metabolites. In the first experiment conducted in OTCs, an increase in carbon assimilation was observed under high CO2 conditions, mainly in the cultivar Catuaí, but without significant effects on growth. Carbohydrate levels increased until the 46th day, with accumulation of glucose and fructose in the Catuaí cultivar when compared with the Obatã, which stored predominantly starch. The photosynthetic acclimation occurred simultaneously to the accumulation of starch, following the reduction in the levels of nitrogen in both cultivars. The levels of 15N and C varied according to the availability of atmospheric CO2, with significant effects on isotopic composition (D13C) and carbon isotope discrimination (D13C). In the second experiment, the net photosynthetic assimilation was measured after infection by the fungus H. vastatrix, being higher in both cultivars under elevated CO2. Increased levels of total soluble sugars (AST), starch, soluble total phenolic (FST) and lignin and reduction of glucose, fructose, sucrose, raffinose, stachyose and reducing sugars (AR) were observed in susceptible coffee (Catuaí) not inoculated with the pathogen. Plant inoculation with the pathogen led to a reduction in the levels of AST, glucose, fructose and lignina and increasing in AST and starch with no changes in sucrose, raffinose and stachyose. No changes were observed in the severity of symptoms caused by H. vastatrix on the susceptible cultivar under high CO2 when compared to ambient atmospheric concentration. The third experiment indicated that the atmospheric CO2 concentration in the FACE system did not influence significantly the foliar concentrations of carbohydrates, total soluble phenolic and lignin, in both cultivars over the period of 27 months. On the other hand, the increase in the atmospheric CO2 led to increased of photosynthesis rates of the coffee trees, mainly during warm and rainy seasons, contributing to the elevation of the intrinsic water use efficiency. Additionally, the increased carbon isotope discrimination indicated positive influence of increased atmospheric CO2 concentration in carbon assimilation in both cultivars. In conclusion, the coffee cultivars responded to the elevated atmospheric CO2 concentration increasing photosynthesis, but this increase did not result in resistance improvement to the coffee rust fungus when coffee was grown on OTCs.
Keywords: Rubiaceae – elevated [CO2] – climate changes
RESUMO
O café é um dos principais produtos de exportação do agronegócio brasileiro, no entanto, as principais variedades de Coffea arabica cultivadas são suscetíveis ao fungo biotrófico Hemileia vastatrix, causador da ferrugem alaranjada, doença que provoca significativas perdas na produção. A atual preocupação com o cenário de mudanças climáticas tem motivado a realização de estudos sobre impactos das alterações ambientais previstas no cultivo cafeeiro e na interação planta-patógeno. Este trabalho teve por objetivos avaliar o efeito de atmosferas enriquecidas de CO2 em Coffea arabica comparando-se as cultivares Catuaí vermelho IAC-144 e Obatã vermelho IAC-1669, respectivamente suscetível e resistente à ferrugem. Foram conduzidos três experimentos, sendo dois deles em Câmaras de Topo Aberto (Open Top Chambers, OTCs) nas concentrações atmosféricas ambiente (380ppm) e o de elevado CO2 (760 ppm), com duração de 100 e 45 dias, respectivamente, e com inoculação dos cafeeiros pelo fungo Hemileia vastatrix apenas no segundo experimento. O 3º experimento foi realizado sob condições de campo no primeiro sistema de enriquecimento atmosférico de CO2 ao ar livre (FACE) da América Latina instalado no campus experimental da Embrapa Meio Ambiente de Jaguariúna, SP, no qual os cafeeiros das duas cultivares foram submetidos a concentrações atual (~380ppm) e de 550 ppm de CO2 ao longo de 27 meses de cultivo. No primeiro experimento, realizado em OTCs, foi observado aumento nas taxas de assimilação de carbono sob condições de elevado CO2, principalmente na cultivar Catuaí, porém sem efeitos significativos sobre o crescimento. Os teores de carboidratos aumentaram até os 46 dias, sendo que a cv. Catuaí acumulou maiores teores de glucose e frutose enquanto a cv. Obatã acumulou maiores teores de amido. A aclimatação fotossintética ocorreu simultaneamente ao acúmulo de amido, sendo observada redução dos teores de nitrogênio nas duas cultivares. Os teores de 15N e C variaram de acordo com a disponibilidade de CO2 atmosférico, com reflexos significativos na composição isotópica (d13C) e de discriminação isotópica do carbono (D13C). No segundo experimento, as medidas de taxas de fotossíntese realizadas após o ciclo da infecção pelo fungo H. vastatrix foram maiores em todos os cafeeiros cultivados na concentração elevada de CO2. Também foram verificados aumentos dos teores de açúcares solúveis totais (AST), amido, fenólicos solúveis totais (FST) e lignina e diminuição dos teores de glucose, frutose, sacarose, rafinose, estaquiose e de açúcares redutores (AR) em cafeeiros suscetíveis (Catuaí) não inoculados com o patógeno. Quando foram inoculados com o patógeno, esses cafeeiros, apresentaram redução dos teores de AST, glucose, frutose e lignina e elevação dos teores de AR e amido e não apresentaram variações nos teores de sacarose, rafinose e estaquiose. Não foi observada alteração na severidade dos sintomas causados por Hemileia vastatrix nos cafeeiros suscetíveis crescidos em alto de CO2 em comparação com aqueles mantidos na concentração atmosférica ambiente. O 3º experimento indicou que o aumento da concentração atmosférica de CO2 nos cafeeiros cultivados no sistema FACE não influenciou significativamente as concentrações foliares de carboidratos, de fenólicos solúveis totais e de lignina, nas duas cultivares ao longo do período de 27 meses. Por outro lado, propiciou o aumento das taxas de fotossíntese do cafeeiro, principalmente no período quente e úmido, contribuindo ainda para a elevação da eficiência intrínseca do uso da água. Adicionalmente, o aumento da discriminação isotópica de carbono indicou influência positiva da maior concentração atmosférica de CO2 na assimilação de carbono em todos os cafeeiros. Em resumo, as cultivares de cafeeiro estudadas responderam ao incremento da concentração atmosférica de CO2 com aumento na fotossíntese, porém este incremento não resultou em melhora de resistência ao fungo causador da ferrugem do café quando cultivado em OTCs.
Palavras-chave: 1. Rubiaceae. 2. Mudanças climáticas. 3. CO2 elevado
Eunice Reis Batista
Respostas fisiológicas e metabólicas de duas cultivares de Coffea arabica L. (Rubiaceae) submetidas a atmosferas enriquecidas em CO2 em Câmaras de Topo Aberto e sistema FACE
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