Aline Testoni Cécel
Em 27 de maio de 2020, Dia Nacional da Mata Atlântica, Aline Testoni Cécel, aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica de São Paulo, bolsista CAPES, por meio de videoconferência devido ao isolamento social causado pela pandemia do COVID-19, defendeu sua Dissertação de Mestrado intitulada, “Dinâmica da deterioração de sementes recalcitrantes de Eugenia (Myrtaceae) sob variações ambientais”.
A banca examinadora foi presidida pelo seu orientador, PqC. Dr. Claudio José Barbedo e composta pela PqC. Dra. Catarina Nievola (Núcleo de Pesquisa em Plantas Ornamentais – Ibt/SP) e pela Profª Dra. Roseli Bragante (UFTM).
O bioma Mata Atlântica, um dos mais diversificados e devastado do Brasil, abriga espécies de um dos gêneros mais importantes da família Myrtaceae, sendo estas utilizadas na ornamentação urbana, na produção comercial de frutos (in natura ou industrializados) e na obtenção de fármacos com diversas propriedades. Dentre as espécies frutíferas nativas do Brasil, as do gênero Eugenia vêm despertando interesse econômico cada vez maior frente à crescente diversidade de usos descobertos para cada parte da planta.
O projeto desenvolvido buscou compreender a relação entre as taxas respiratórias e a velocidade de deterioração das sementes recalcitrantes de Eugenia brasiliensis Lam. e Eugenia involucrata DC. com diferentes teores de água e em diferentes temperaturas de incubação. Sementes consideradas recalcitrantes, como as espécies de Eugenia estudadas, são dispersas no ambiente com elevado conteúdo de água e intenso metabolismo, sendo capazes de germinar e colonizar rapidamente o ambiente. Contudo, são também sementes sensíveis à dessecação e, portanto, de baixa longevidade, não podendo serem incluídas em programas de conservação de sementes como os bancos de sementes. Diante da falta de conhecimento sobre a fisiologia e os processos envolvidos na deterioração das sementes recalcitrantes, desenvolveu-se metodologia que permitiu avaliar as taxas respiratórias das sementes de E. brasiliensis em diferentes condições ambientais e analisou-se as taxas respiratórias e a capacidade germinativa das sementes de E. brasiliensis e E. involucrata com diferentes níveis de hidratação e sob diferentes temperaturas.
Os resultados obtidos mostraram que as melhores condições para conservação das sementes das espécies estudadas são embalagens plásticas, uma vez que não estas não impedem completamente as trocas gasosas das sementes com o meio ambiente, e a diminuição da temperatura de armazenamento para 8° C, temperatura na qual as atividades respiratórias dessas sementes são diminuídas, evitando assim o gasto de suas reservas. Contudo, para sementes de E. brasiliensis, é importante, antes de seu armazenamento, diminuir seu teor de água para 45%, enquanto as sementes de E. involucrata devem ser mantidas úmidas. Nessas condições, foi possível conservar a viabilidade das sementes de E. brasiliensis e E. involucrata por até dois anos.
Dinâmica da deterioração de sementes recalcitrantes de Eugenia (Myrtaceae) sob variações ambientais
ABSTRACT
The seeds represent an extraordinary evolutionary gain for the plants, because in addition to carrying information to the development of the one complete plant, they can also remain viable for hundreds to thousands of years. Currently, there are not technologies to extend the storage of recalcitrant seeds, such as those of Eugenia species, in economically and functionally viable artificial conditions, to include them in germplasm banks. More than that, there is not even enough knowledge about the physiology and the process involved in deterioration of recalcitrant seeds. Thus, the objective of this work was to understand the relationship between the respiratory rates and the velocity deterioration of the seeds with different levels of hydration and under different temperatures, aiming to reduce this deterioration rates, using, as a model, two species of Eugenia. In Chapter 1, sought to develop methodology that allows to evaluate the respiratory rates of these seeds adjusting the incubation times of the seeds in respirometers, and in Chapter 2, analyzed the respiratory rates and the germination capacity of these seeds with different levels of hydration and under different incubation temperatures. The results obtained in Chapter 1 showed that the increase in CO2 concentration from 2% changed the atmosphere in which E. brasiliensis seeds were incubated, decreasing their respiratory metabolism. In Chapter 2, we saw that both the increase in the incubation temperature and the decrease in the water content of the seeds of E. brasiliensis and E. involucrate increased their respiratory activities. However, E. brasiliensis seeds had their longevity favored with drying remaining viable even after 720 days at 8° C in plastic bag when coming from E2. E. involucrata seeds, although they also remain with high germination rates after 720 days, it was only possible when they came from E2 and kept moist at 8° C in plastic bag. Despite the advance in the storage of E. brasiliensis and E. involucrata seeds it was not possible identify a pattern in the deterioration from their metabolic rates, which reinforces how complex they are and how much we has yet to be studied, mainly regarding to their metabolism.
Keywords: seeds conservation, respiratory metabolism, Mata Atlântica
RESUMO
As sementes representam um ganho evolutivo extraordinário para as plantas, pois além de carregarem informações para o desenvolvimento de uma planta completa podem, ainda, permanecerem viáveis por centenas a milhares de anos. Não há, atualmente, tecnologias que permitam prolongar o tempo de armazenamento de sementes recalcitrantes, como as de espécies de Eugenia, em condições artificiais viáveis econômica e funcionalmente, para incluí-las em bancos de germoplasma. Mais do que isso, não há sequer suficiente conhecimento quanto a fisiologia e os processos envolvidos na deterioração das sementes recalcitrantes. Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender a relação entre as taxas respiratórias e a velocidade de deterioração das sementes com diferentes níveis de hidratação e sob diferentes temperaturas, visando a reduzir estas taxas de deterioração, utilizando, como modelo, duas espécies de Eugenia. No Capítulo 1, procurou-se desenvolver metodologia que permita avaliar as taxas respiratórias dessas sementes, ajustando-se os tempos de incubação das sementes em respirômetros e, no Capítulo 2, analisou-se as taxas respiratórias e a capacidade germinativa dessas sementes com diferentes níveis de hidratação e sob diferentes temperaturas. Os resultados obtidos no Capítulo 1 mostraram que o aumento da concentração de CO2 a partir de 2% alterou a atmosfera em que as sementes de E. brasiliensis estavam incubadas, diminuindo seu metabolismo respiratório. No Capítulo 2, vimos que tanto a elevação da temperatura de incubação quanto a diminuição do teor de água das sementes de E. brasileiensis e E. involucrata aumentaram suas atividades respiratórias. No entanto, sementes de E. brasiliensis tiveram sua longevidade favorecida com a secagem, permanecendo viáveis mesmo após 720 dias armazenadas a 8 °C em saco plástico, quando provenientes do E2. Já sementes de E. involucrata, apesar de também permanecerem com elevadas taxas de germinação após 720 dias, isso só foi possível quando provenientes do E2 e mantidas úmidas a 8 °C em saco plástico. Apesar do avanço no armazenamento das sementes de E. brasiliensis e E. involucrata, não foi possível identificar um padrão na deterioração a partir de suas taxas metabólicas, o que reforça o quão complexas são e o quanto ainda se tem a estudá-las, principalmente com relação ao seu metabolismo.
Palavras-chave: conservação de sementes, metabolismo respiratório, Mata Atlântica
Aline Testoni Cécel
Dinâmica da deterioração de sementes recalcitrantes de Eugenia (Myrtaceae) sob variações ambientais
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