Carlos Eduardo Wetzel
Biodiversidade e distribuição espacial de diatomáceas (Bacillariophyceae)
na bacia hidrográfica do Rio Negro, Amazonas, Brasil
RESUMO
O estudo teve como objetivo principal realizar o levantamento florístico das espécies de diatomáceas (Bacillariophyceae) planctônicas e perifíticas em ambientes lóticos na bacia hidrográfica do Rio Negro. Buscou, também, avaliar a distribuição espacial das comunidades com base na representação quantitativa das espécies. A bacia possui cerca de 715.000 km2 e é uma das maiores bacias do mundo, ocupando aproximadamente 10% da bacia amazônica. Suas águas são classificadas como pretas, caracterizadas pelo baixo pH (< 5,0), elevada concentração de carbono orgânico dissolvido e baixa condutividade (< 12,5 µS cm-1). No período de fevereiro a março de 2005 foram realizadas coletas em 102 estações de amostragem localizadas em cinco trechos situados entre Manaus e São Gabriel da Cachoeira, totalizando 272 amostras. A análise qualitativa do material permitiu o registro de 848 táxons. Destes, 572 (67%) foram identificados em nível específico; 182 espécies (21%) foram identificadas somente em nível genérico; 72 (9%) foram designados como tendo semelhança com alguma espécie descrita, mas diferindo em alguns aspectos, sendo referidos como “cf.”; e, finalmente, 27 táxons (3%) são apresentados como possíveis espécies novas. São disponibilizados dados morfométricos e literatura utilizada para identificação, comentários, quando relevantes, e local de ocorrência para 663 espécies inventariadas durante a análise quantitativa. São apresentadas ilustrações dos táxons em 686 pranchas de microscopia óptica (MO) e eletrônica de varredura (MEV) totalizando ca. 9.500 fotomicrografias. São apresentadas análises ultraestruturais de 10 espécies-tipo descritas originalmente para a região amazônica (Lago Jurucuí, Rio Tapajós, PA, Brasil): Actinella peronioides Hustedt, Eunotia asterionelloides Hustedt, Eunotia biseriata Hustedt,Eunotia braunii Hustedt, Eunotia siolii Hustedt, Melosira gessnerii Hustedt, Fragilaria inflatissima Hustedt, Fragilaria javanica Hustedt,Fragilaria braunii Hustedt, Fragilaria siolii Hustedt e Peronia brasiliensis Hustedt. São descritas sete novas espécies: Eunotia emediiC.E. Wetzel, H. Lange-Bertalot, D. Bicudo, C. Peres & Ector sp. nov., Eunotia loboi C.E.Wetzel & Ector, sp. nov., Eunotia gomesii C.E. Wetzel & Ector, Eunotia kayaporum C.E. Wetzel, H. Lange-Bertalot, D. Bicudo & Ector sp. nov. Eunotia tukanorum C.E. Wetzel & D.C. Bicudo, Eunotia waimiriorum C.E. Wetzel, e um novo gênero, Bicudoa C.E. Wetzel, H. Lange-Bertalot & Ector gen. nov., sendo Bicudoa amazonica C. E. Wetzel et al. sp nov. a espécie tipo do gênero. Com relação ao gradiente longitudinal de distribuição das diatomáceas ao longo do curso principal do Rio Negro, o índice de dominância de Simpson (D) diferiu significativamente entre as amostras planctônicas e perifíticas, indicando a dominância de grupos planctônicos nos trechos inferiores do rio, principalmente, após a confluência com o Rio Branco, levando à diminuição dos valores de diversidade de Shannon (H) no canal principal. As comunidades perifíticas, por sua vez, apresentaram maiores valores de diversidade nos trechos médios e leve tendência de diminuição nos trechos inferiores. O primeiro eixo da análise de coordenadas principais (PCoA) das comunidades fitoplanctônicas separou claramente os trechos à montante e à jusante do Rio Branco. Por outro lado, o segundo eixo revelou diferenças na composição de espécies entre o canal principal e seus tributários. As comunidades perifíticas, por sua vez, foram separadas em função dos tributários amostrados, mostrando uma diferenciação longitudinal progressiva das comunidades entre os afluentes. Os padrões de diversidade beta das comunidades foram determinados principalmente pela substituição (turnover) espacial das comunidades bem como pelo baixo efeito do aninhamento (nestedness), evidenciando uma elevada diversidade beta ao longo do percurso. Ainda, as diferenças ente os tributários não puderam ser simplesmente explicadas pela diferença na riqueza de espécies. Com base nos padrões de ordenação descritos, nossos resultados sugerem que algum nível de provincianismo biogeográfico não pode ser descartado.
Palavras-chave: diatomáceas tropicais, Amazônia, Rio Negro, perifíton, fitoplâncton
Carlos Eduardo Wetzel
Biodiversidade e distribuição espacial de diatomáceas (Bacillariophyceae) na bacia hidrográfica do Rio Negro, Amazonas, Brasil
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