Thaís Trindade de Lima
Num país com megadiversidade biológica e dimensões continentais como o Brasil, o conhecimento das espécies e respectiva distribuição geográfica são imprescindíveis para subsidiar as decisões referentes à conservação e utilização sustentada da biodiversidade.
No dia 31/03/2008 a aluna Thaís Trindade de Lima, do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente/Ibt,
defendeu sua a dissertação de Mestrado, intitulada
“Bromeliaceae da Serra da Mantiqueira: distribuição geográfica e conservação”.
Compuseram a banca examinadora o Drº Gustavo Martinelli (UFRJ), Drº João Vicente Coffani-Nunes (Unesp) e
sua orientadora Maria das Graças Lapa Wanderley, que aprovaram a aluna com louvor.
Bromeliaceae da Serra da Mantiqueira: distribuição geográfica e conservação
RESUMO
Nesta dissertação foram catalogadas as Bromeliaceae ocorrentes na região da Serra da Mantiqueira, área que abriga importantes remanescentes da “ameaçada” Mata Atlântica, assim como formações ímpares, que surgem em meio a exuberantes florestas, como os Campos Rupestres, Campos de Altitude e ainda, áreas de Cerrado.
Ao todo foram computados 220 táxons, sendo 192 espécies e 28 táxons infra-específicos, pertencentes a 20 gêneros, distribuídos pelas três subfamílias. Comparados a outras listagens elaboradas para a família, os valores obtidos são bastante relevantes, considerando que a Serra da Mantiqueira localiza-se entre duas formações com elevado grau de endemismo, a Serra do Mar e a Serra do Espinhaço.
A maioria das espécies registradas ocorre em áreas de Mata Atlântica, seguida das espécies que são encontradas, além desta formação, em Campos Rupestres e Campos de Altitude. Espécies restritas ao cerrado ocorrem em menor número. No entanto, enfatiza-se a necessidade de uma atenção especial a estas localidades, visto existirem poucas unidades de conservação em seus limites.
17 % dos táxons registrados são endêmicos. Embora haja outras regiões com taxas mais elevadas de endemismo, medidas conservacionistas devem ser definidas, uma vez que a Serra da Mantiqueira é uma região fortemente antropizada, com vegetação remanescente constituída apenas por fragmentos.
Observa-se que as espécies endêmicas ocorrem pontualmente ao longo de toda a serra. Destas, 45%, não ocorrem em unidades de conservação. Embora a maioria das espécies endêmicas da Serra da Mantiqueira ocorra em unidades de conservação, convém destacar que, de uma maneira geral, os táxons são conhecidos por pequenas populações, o que torna a conservação destas espécies frágil. Aponta-se para a necessidade de adequação dos planos de manejo das unidades de conservação, com medidas mais específicas com relação às espécies ameaçadas.
No estudo apresentado, mediante a analise de um grande contingente de materiais herborizados, coletas e acompanhamento de exemplares nas coleções vivas, foi possível verificar a existência de diversos grupos de espécies com problemas taxonômicos.
O escopo do trabalho não concebia análises taxonômicas mais abrangentes e aprofundadas. Pela relevância das espécies (Billbergia pohliana e Billbergia reichardtii) no que concerne a conservação, foi apresentada uma pequena discussão acerca da identidade e grau de ameaças destes táxons.
É apresentada uma espécie inédita do gênero Vriesea, que habita uma área de Campo Rupestre, no município de São Tomé das Letras, Minas Gerais. Esta descoberta infere sobre o desconhecimento de diversas porções da Serra da Mantiqueira, uma vez que, este é um dos municípios que apresentaram maiores números de coletas.
O hábito epifítico foi predominante nas espécies referidas para a Serra da Mantiqueira, refletindo a dominância dos ambientes florestais na região. Espécies terrícolas, rupícolas e saxícolas são menos freqüentes, estando normalmente associadas a áreas de Campos Rupestres, Campos de Altitude e Cerrado.
Foram computadas 2.189 coleções para a Serra da Mantiqueira, sendo mais da metade provenientes de menos de 20% dos municípios para os quais há espécies referidas. O município de Rio Preto, Minas gerais destaca-se com relação ao total de coletas e número de espécies. Importante ressaltar que a região não está inserida em nenhuma unidade de conservação.
A Serra da Mantiqueira, independentemente da exatidão dos seus limites, dos tipos de formações vegetais ocorrentes e da origem geológica, ocupa um lugar especial no coração daqueles que têm o privilégio de habitar seus contrafortes, assim como exemplificado pelo trabalho de Colabardini (2003). Esta autora analisou a percepção da Serra da Mantiqueira pelos habitantes de São João da Boa Vista e conclui que as expressões mais observadas diziam respeito “… aos desejos, às aspirações e alegria de viver, diante de uma paisagem que se oferece bela e gratuita…”.
Muitas Bromeliaceae habitam esta Serra, ocupando os mais variados ambientes, crescem sobre a serrapilheira das densas matas úmidas, sobre todos os andares das árvores, ou ainda, contemplando diariamente a trajetória do sol, sobre rochas.
A família caracteriza a maioria das áreas que apresentam remanescentes de vegetação primária, normalmente dominando a fisionomia do interior das florestas, um indício do quão estratégicos são os caminhos da seleção natural, uma vez que as Bromeliaceae são responsáveis por uma porção significativa da diversidade das florestas tropicais podendo ser consideradas como elementos chaves para a conservação da biodiversidade.
Bromélias, homens e todos os demais seres vivos compartilham a mesma obsessão: a sobrevivência. Mas somente o homem detém a chave do futuro. Caberá a cada um selar uma nova aliança, conciliando a existência mútua entre o homem e o meio. As plantas surgiram há mais de três bilhões de anos e, sem a interferência humana podem certamente continuar sua evolução. Homens certamente não mais existirão quando o perfume da última flor se extinguir.
Thaís Trindade de Lima
Bromeliaceae da Serra da Mantiqueira: distribuição geográfica e conservação
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