Valéria Augusta Garcia
A seleção das espécies arbóreas nativas visando ao atendimento de programas de reflorestamento, melhoramento genético e/ou de silvicultura é dificultada pelo desconhecimento tanto da qualidade fisiológica das sementes como da produção de mudas.
Dentre estas, destacam-se as palmeiras, sendo esta uma família botânica de grande importância para o paisagismo, e para os trabalhos de recomposição dos ecossistemas florestais.
As palmeiras estão entre as quatro famílias botânicas mais importantes para o uso humano, junto com as famílias Poaceae (tais como arroz, milho, trigo e cevada), Fabaceae (como soja, ervilha, feijão, alfafa e grão de bico) e Solanaceae (como batata, tomate e tabaco).
O estudo das palmeiras nativas é de fundamental importância, pois muitas possuem grande potencial sócio-econômico para diversas comunidades.
As palmeiras apresentam grande valor ecológico dentro das comunidades de plantas nas florestas tropicais e na rede de interações com polinizadores e dispersores.
Em muitas florestas neotropicais, as palmeiras destacam-se pela abundância e riqueza de espécies, tanto no sub-bosque quanto nos estratos superiores, e estão entre as plantas de maior longevidade no reino vegetal, desempenhando, assim, papel importante na estrutura e funcionamento de diversos ecossistemas e na sucessão ecológica.
O número de espécies de palmeiras é estimado de 2.600 espécies dentro de 200 gêneros, nas Américas são encontrados 67 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies, já no Brasil são 119 espécies, pertencentes a 39 gêneros.
A maioria das espécies da Família Arecaceae é propagada de forma sexuada, ou seja, por sementes.
No entanto, este processo frequentemente é dificultado, pois a germinação das sementes, de maneira geral, é lenta e desuniforme e é influenciada por vários fatores, como estádio de maturação, presença ou não de pericarpo, tempo entre colheita e semeadura, dormência física, temperatura do ambiente e substrato, entre outros.
Um dos principais fatores que ocasiona diminuição da viabilidade e representa um problema para a conservação das sementes de palmeiras é a sua desidratação.
O período de curta viabilidade durante o armazenamento e a tolerância à desidratação variam entre espécies, por essa razão, tem sido recomendado o plantio imediato das sementes ainda frescas.
Esse comportamento torna inviável, com o conhecimento atual, a conservação de espécies com sementes recalcitrantes em bancos de germoplasma que utilizam sementes.
Há necessidade, portanto, de desenvolvimento de tecnologia que permita conservar essas sementes, visto que em palmeiras há ainda dificuldades relacionadas a logística existente por serem plantas perenes, de ciclo longo e de grande altura, assim como ocorre em outras áreas do conhecimento das palmeiras.
Sendo assim, neste trabalho um dos objetivos foi estudar a fenologia reprodutiva, o desenvolvimento e maturação de sementes e frutos de Bactris gasipaes Kunth., Euterpe edulis Mart. e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman., estabelecendo relações entre as características externas visuais e físicas com as fisiológicas e, dessa forma colaborar com o conhecimento do comportamento reprodutivo e a conservação das Arecaceae, e ainda contribuir para o conhecimento da fisiologia da maturação e conservação de sementes recalcitrantes.
As avaliações fenológicas das três espécies de palmeiras no Vale do Ribeira (SP) apresentaram dois eventos de floração registrados, já que o processo reprodutivo ocorreu como um evento singular anual.
Houve variações na intensidade reprodutiva das espécies de palmeiras estudadas, entre as espécies e de um ano para outro. A espécie Bactris gasipaes apresentou média de 147 dias entre a abertura da espata floral e a formação de frutos maduros, já Euterpe edulis esse processo demorou 280 dias, e Syagrus romanzoffiana 174 dias. A maturidade fisiológica dos pirênios E. edulis foi atingida aos 267 dias após abertura da espata, período em que apresentaram máximo acúmulo de massa seca, maior índice de velocidade de germinação e poder germinativo. A colheita pode ser estendida até 280 DAAE sem perda da qualidade fisiológica dos pirênios. A coloração dos frutos é um bom indicador do ponto de maturidade fisiológica das sementes. Em S. romanzoffiana, a coloração do fruto não diferenciou a capacidade germinativa dos pirênios, não estabelecendo diferenças entre os estádios de maturação (de 135 a 174 DAAE). Para os pirênios de B. gasipaes, os estádios mais avançados de maturação foram superiores em número de sementes germinadas e em vigor.
O grau de umidade da semente e do endocarpo e suas proporções de massa seca no pirênio são diferenciados entre as espécies, e podem representar padrões diferentes nos estudos físicos e fisiológicos futuros, além de ser necessário esse conhecimento em outras espécies de Arecaceae.
Assim, pode-se concluir também que, particularmente para sementes de palmeiras das espécies estudadas, a classificação quanto ao nível de maturidade das sementes no momento de seu desligamento da planta-mãe é mais adequado para caracterizar as diferenças no comportamento dessas sementes do que a classificação em categorias, ortodoxas, intermediárias e recalcitrantes. O estudo fenológico demonstrou a estratégia de disponibilização de sementes durante longo período do ano, o acompanhamento dos processos de maturação das sementes e dos frutos, bem como das diferenças entre semente e endocarpo e a demonstração de que há evidente embrião formado e pronto a germinar, ainda que não totalmente desenvolvido para os padrões de sementes ortodoxas, mostram evidências de que as estratégias desenvolvidas pelas espécies vegetais ao longo de sua evolução e seleção, vão muito além de um simples investimento em tolerância à dessecação (das sementes ortodoxas), de um lado, e de germinação rápida, sem qualquer investimento em armazenamento em bancos no solo (das recalcitrantes), de outro, com um bloco intermediário com características tão variáveis que sequer permitem sua caracterização. Considerando o grande número de espécies ainda não estudadas, as sementes das palmeiras mostram-se, portanto, excelente material para a compreensão tanto da fisiologia de sementes, em seus conceitos e características mais elementares, quanto dos processos evolutivos que permitiram o gigantesco gradiente de comportamento das sementes das diferentes espécies.
Desenvolvimento e maturação de frutos e sementes de espécies de Arecaceae (Bactris gasipaes Kunth., Euterpe edulis Mart. e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman)
RESUMO
As avaliações fenológicas das três espécies de palmeiras no Vale do Ribeira (SP) apresentaram dois eventos de floração foram registrados, já que o processo reprodutivo ocorreu como um evento singular anual. Houve variações na intensidade reprodutiva das espécies de palmeiras estudadas, entre as espécies e de um ano para outro. A espécie Bactris gasipaes apresentou média de 147 dias entre a abertura da espata floral e a formação de frutos maduros, já Euterpe edulis esse processo demorou 280 dias, e Syagrus romanzoffiana 174 dias. A maturidade fisiológica dos pirênios E. edulis foi atingida aos 267 dias após abertura da espata, período em que apresentaram máximo acúmulo de massa seca, maior índice de velocidade de germinação e poder germinativo. A colheita pode ser estendida até 280 DAAE sem perda da qualidade fisiológica dos pirênios. A coloração dos frutos é um bom indicador do ponto de maturidade fisiológica das sementes. Em S. romanzoffiana, a coloração do fruto não diferenciou a capacidade germinativa dos pirênios, não estabelecendo diferenças entre os estádios de maturação (de 135 a 174 DAAE). Para os pirênios de B. gasipae, os estádios mais avançados de maturação foram superiores em número de sementes germinadas e em vigor. O grau de umidade da semente e do endocarpo e suas proporções de massa seca no pirênio são diferenciados entre as espécies, e podem representar padrões diferentes nos estudos físicos e fisiológicos futuros, além de ser necessário esse conhecimento em outras espécies de Arecaceae. Assim, pode-se concluir também que, particularmente para sementes de palmeiras das espécies estudadas, a classificação quanto ao nível de maturidade das sementes no momento de seu desligamento da planta-mãe é mais adequado para caracterizar as diferenças no comportamento dessas sementes do que a classificação em categorias, ortodoxas, intermediárias e recalcitrantes. O estudo fenológico demonstrou a estratégia de disponibilização de sementes durante longo período do ano, o acompanhamento dos processos de maturação das sementes e dos frutos, bem como das diferenças entre semente e endocarpo e a demonstração de que há evidente embrião formado e pronto a germinar, ainda que não totalmente desenvolvido para os padrões de sementes ortodoxas, mostram evidências de que as estratégias desenvolvidas pelas espécies vegetais ao longo de sua evolução e seleção, vão muito além de um simples investimento em tolerância à dessecação (das sementes ortodoxas), de um lado, e de germinação rápida, sem qualquer investimento em armazenamento em bancos no solo (das recalcitrantes), de outro, com um bloco intermediário com características tão variáveis que sequer permitem sua caracterização. Considerando o grande número de espécies ainda não estudadas, as sementes das palmeiras mostram-se, portanto, excelente material para a compreensão tanto da fisiologia de sementes, em seus conceitos e características mais elementares, quanto dos processos evolutivos que permitiram o gigantesco gradiente de comportamento das sementes das diferentes espécies.
Palavras-chave: jerivá, juçara, pirênio, pupunhaxto.
Valéria Augusta Garcia
Desenvolvimento e maturação de frutos e sementes de espécies de Arecaceae (Bactris gasipaes Kunth., Euterpe edulis Mart. e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman)
VOLTAR AS DISSERTAÇÕES E TESES