Jéssica Soares de Lima
A defesa aconteceu às 14:00 do dia 20 de março de 2020 no anfiteatro do Instituto de Botânica de São Paulo, com a presença dos Doutores Denilson Fernandes Peralta, Dimas Marchi do Carmo e a Dra. Sônia Aragaki.
O trabalho envolveu o levantamento das briófitas do Parque Nacional da Serra da Bocaina, que apresentou uma grande diversidade de briófitas. Obtivemos mais que a metade das espécies que ocorrem em todo o estado de São Paulo. O trabalho pôde fornecer informações inexistentes para a área sobre a distribuição e ocorrência das briófitas ocorrentes na Mata Atlântica e sua diversa fitofisionomia, assim como: as espécies endêmicas desse bioma, ocorrendo exclusivamente nas fitofisionomias ali existentes; as espécies raras, uma vez que é sabido que esses indivíduos de ambientes florestais não alterados são extremamente sensíveis às alterações do habitat; e as espécies de novas ocorrências.
Assim como outros trabalhos confirmaram que a família Lejeuneaceae aparece como a mais rica (o que também foi confirmado neste trabalho), para esses mesmos trabalhos as espécies de Anthocerotophyta são citadas como escassas (Visnadi 2005, Visnadi 2009; Yano & Peralta 2007, Peralta & Yano 2008, Carmo et al 2016, Amélio et al 2019). Porém o atual trabalho mostrou uma grande riqueza de espécies de antóceros para a Serra da Bocaina, sendo encontradas cinco espécies, um número relativamente alto comparado com demais trabalhos realizados na Mata Atlântica. Para gêneros restritos a Mata Atlântica, nesse caso, o gênero Ditrichum, a Serra da Bocaina mostrou grande importância, sendo coletadas três das sete espécies ocorrentes no Brasil. Assim como também foi encontrada pela primeira vez no estado de São Paulo a espécie Ditrichum crinale (Taylor) Kuntze.
Estes dados realçam ainda mais a importância da realização de inventários florísticos e conservação das reservas biológicas situados no território brasileiro. A Serra da Bocaina possui uma grande extensão e formações vegetacionais extremamente distintas, assim como seus diversos micro-habitats e substratos importantes para as briófitas. Este trabalho atingiu seu objetivo de fornecer novas informações de distribuição e ocorrência das espécies encontradas no PNSB.
Grande parte das espécies encontradas neste trabalho como epíxilas, também crescem sobre outros substratos e principalmente sobre árvores vivas, podemos afirmar assim, que as briófitas epíxilas podem ser classificadas como generalistas. Como já esperado, 70% das espécies consideradas frequentes são musgos pleurocárpicos, isso devido a característica destes serem livremente ramificados, possibilitando uma maior área de colonização. Diferentemente da espécie mais ocorrente encontrada nas 30 UA, que é um musgo acrocárpico (Campylopus arctocarpus (Hornsch.) Mitt.) ou seja, possui gametófito ereto e simples. Porém, essa espécie em especial já havia sido citada como frequente em troncos decompostos devido a sua capacidade de ramificação, o que a difere das demais espécies de seu gênero, se assimilando a um musgo pleurocárpico. Contudo, em relação a abundância sobre todas as unidades amostrais, esta mesma espécie também obteve grande valor, diferindo por 1% da espécie Thuidium delicatulum (Hedw.) Schimp. que mostrou o maior valor.
Os estudos ecológicos, assim como as análises dos aspectos morfo-ecológicos, proporcionaram respostas quanto ao entendimento da ocorrência das briófitas em troncos em decomposição e quais as possíveis características de cada espécie que permitem a ocorrência desta comunidade. Mostrando que, fatores do meio (biótico ou abiótico) que não foram medidos neste estudo, podem ser responsáveis pelo estabelecimento e desenvolvimento das espécies das briófitas epíxilas, uma vez que, não houve diferenças entre a riqueza e abundância entre os diferentes níveis de decomposição dos troncos amostrados. Assim como podemos concluir também que troncos caídos são importantes para a ocorrência das briófitas e proporcionam um ambiente adequado, porém nada significa dizer que quanto mais decomposto, maior a riqueza e/ou abundância deste.
Gostaria de agradecer ao Instituto de Botânica de São Paulo (IBt) por toda infraestrutura prestada para a realização deste trabalho. À Universidade Paulista (UNIP) pelo apoio, incentivo e financiamento das viagens a campo e à toda equipe do Parque Nacional da Serra da Bocaina pela hospedagem e auxílio.
Levantamento das briófitas do Parque Nacional da Serra da Bocaina e caracterização de briófitas em troncos em decomposição
ABSTRACT
Bryophytes are the second largest group of terrestrial plants in number of species after angiosperms and are the first group to colonize the terrestrial environment. They have a wide geographical distribution with greater abundance in humid places, as they need water for the mobility of their male gametes, the antherozoids. Bryophytes are a polyphyletic group, and the species are organized into three divisions or morphologically distinct groups, namely: Anthocerotophyta; Marchantiophyta and Bryophyta. With near 17,900 species bryophytes and 1,570 recognized for Brazil, 15 of which are hornworts, 673 liverworts and 882 mosses. The Serra da Bocaina National Park (PARNA Serra da Bocaina) is part of the Atlantic Forest biome, which is one of the main biomes in the ranking of the planet’s biodiversity hotspots. According to the bibliography found, there are many areas in need of surveys of bryophytes biodiversity and only Peralta et al. in 2008, cites samples of bryophytes from Serra da Bocaina, listing important new occurrences for the state of São Paulo. A common and important substrate in areas of the Atlantic Forest are logs of forest trees; a wide range of species is established there. The bryophytes that occur in this type of substrate are classified as epixylic, which are the third most endangered group, having their riches and abundances reduced with habitat disturbance. PARNA Serra da Bocaina is the only PARNA in the state of São Paulo and it is an area located between the states of Rio de Janeiro and São Paulo and is considered a natural heritage due to its beautiful scenery and tourist potential. It was created in 1971, as a Conservation Unit, by Federal Decree 68,172 of 1971, thus ensuring the conservation of a fragment of great importance in the Atlantic Forest inserted in Serra do Mar hills (MMA 2005). This park has interesting geographic and ecological characteristics regarding the occurrence of bryophytes, in this way, floristic studies are extremely valuable in several approaches such as, for example, taxonomy and ecology, and belongs to a region of endemism estimated at 48% in the southeastern region of Brazil, one of the ten centers of high diversity and endemism in Tropical America (Tan & Pócs 2000). This study aims to carry out a floristic survey of the bryophytes of PARNA Serra da Bocaina by analyzing the composition of the community found and its geographic distribution and to expand knowledge about epixylic bryophytes from Serra da Bocaina, analyzing the composition, frequency and ecological characteristics. Know which species occur at different levels of the decomposition of a trunk and if there are differences between the richness and abundance of the epixylic bryophyte species. The results were divided into two and organized with the following titles: 1. Bryophytes of the Serra da Bocaina National Park, São Paulo, Brazil). Were found 486 species of bryophytes, with Lejeuneaceae as the richest family with 94 species. Bryaceae presented the largest number of moss species, with 23 ssp. and the hornworts with five species. Were found 47 species as new records for the São Paulo state, 61 are Brazilian endemic and 155 are rare in Brazil. Among all the collected species, 43% are restricted to the Atlantic Forest. These number represents the importance of this Park to the preservation of the bryophyte species into the country. Were found 31% of species cited to Brazil, which is significantly important for knowledge and for future work in Serra da Bocaina. 2. Characterization of epixylic bryophytes of the Serra da Bocaina National Park, São Paulo, Brazil). Thirty logs found around three trails in the Parque Nacional da Serra da Bocaina National were sampled, to study the composition of the communities belonging to three levels of decomposition, X = early (solid wood and intact cortex); Y = intermediate (wood partially soft, with cracks) Z = advanced (wood completely soft, no definite form), 10 plots of each level were sampled. We found 74 species of bryophytes (37 genera and 22 families), 80% of then are pleurocarpous mosses. The results show no preference of the species for a specific level of decomposition and that there is no geographical structuration (similarity x distance), so the distribution of epixylic bryophytes may be associated with some environmental factor. The PCA showed that the ecological traits strongish related with the composition of bryophytes community are the humidity and the pH composition.
Keywords: bryophytes, floristic, Atlantic Forest, ecology, epixylic
RESUMO
As briófitas compõem o segundo maior grupo de plantas terrestres em número de espécies depois das angiospermas e foram o primeiro grupo a conquistar o ambiente terrestre. Possuem uma distribuição geográfica muito ampla. Ocorrem com maior abundância em locais úmidos, pois necessitam da água para a mobilidade dos seus gametas masculinos, os anterozóides. As briófitas são um grupo polifilético, e as espécies estão organizadas em três Divisões ou grupos morfologicamente distintos, sendo eles: Anthocerotophyta; Marchantiophyta e Bryophyta. São conhecidas cerca de 17.900 espécies de briófitas e para o Brasil são reconhecidas 1.570 espécies, sendo 15 delas são antóceros, 673 hepáticas e 882 musgos. O Parque Nacional da Serra da Bocaina (PARNA Serra da Bocaina) está inserido dentro do bioma Mata Atlântica, que é um dos principais biomas no ranking dos hotspots de biodiversidade do planeta. De acordo com a bibliografia encontrada, muitas são as áreas carentes de levantamentos de biodiversidade com briófitas e apenas Peralta et al. em 2008, cita amostras de briófitas provenientes da Serra da Bocaina, listando importantes novas ocorrências para o estado de São Paulo. Um substrato comum e importantes em áreas de Mata Atlântica são os troncos caídos de árvores da floresta; ali se estabelece uma ampla gama de espécies. As briófitas que ocorrem nesse tipo de substrato são classificadas como epíxilas, estas que são o terceiro grupo mais ameaçado de extinção, tendo suas riquezas e abundâncias reduzidas com a perturbação do habitat. O PARNA Serra da Bocaina é o único PARNA do estado de São Paulo e trata-se de uma área localizada entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo e é considerado um patrimônio natural em virtude de suas belas paisagens e potencial turístico. Foi criado em 1971, como uma Unidade de Conservação, pelo decreto Federal 68.172 de 1971, assegurando, assim, a conservação de um fragmento de grande importância de Mata Atlântica inserido na Serra do Mar (MMA 2005). Este parque apresenta características geográficas e ecológicas interessantes quanto à ocorrência de briófitas, desta maneira, estudos florísticos são extremamente valiosos em diversas abordagens como, por exemplo, taxonomia e ecologia, pertence a uma região de endemismo estimado em 48% (Delgadillo 1994) e localiza-se na região sudeste do Brasil, um dos dez centros de alta diversidade e endemismo da América Tropical (Tan & Pócs 2000), o que a torna um excelente ambiente para estudos de diversidade de briófitas. Este estudo visa realizar um levantamento florístico das briófitas do PARNA Serra da Bocaina analisando a composição da comunidade encontrada e sua distribuição geográfica e ampliar o conhecimento sobre as briófitas epíxilas da Serra da Bocaina, analisando a composição, freqüência e as características ecológicas das espécies que colonizam este substrato. Saber quais espécies ocorrem nos diferentes níveis da decomposição de um tronco e se há diferenças entre a riqueza e a abundância das espécies de briófitas epíxilas. Os resultados foram divididos em dois e organizados com os seguintes títulos: 1. Briófitas do Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo, Brasil. Sendo encontradas 486 espécies de briófitas, sendo Lejeuneaceae a família com a maior riqueza encontrada, com 94 espécies. Para os musgos, a família Bryaceae apresentou 23 espécies e os antóceros cinco espécies. Encontramos 47 espécies como novas ocorrências para o estado de São Paulo, 61 espécies endêmicas do Brasil e 155 espécies apresentam ocorrência rara no Brasil. Dentre todas as espécies coletadas, 43% possuem ocorrência restrita à Mata Atlântica. Estes números apresentam a importância deste Parque para a preservação das espécies de briófitas do país. Foram encontradas 31% das espécies ocorrentes no Brasil, o que é significativamente importante para o conhecimento e para a realização de futuros trabalhos na área. 2. Caracterização de briófitas epíxilas do Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo, Brasil). Para este estudo foram amostrados trinta troncos, para estudar a composição das comunidades ocorrentes em três níveis de decomposição, totalizando 10 parcelas em cada nível: X = precoce (madeira maciça e córtex intacto), Y = intermediária (madeira parcialmente macia, com rachaduras) e, Z = avançada (madeira completamente macia, sem forma definida). Foram encontradas 74 espécies (em 37 gêneros e 22 famílias), dos quais 80% foram musgos pleurocárpicos. Os resultados obtidos sugerem que não existam diferenças entre a preferência das espécies para um nível de decomposição e que não há estruturação geográfica (similaridade x distância), sendo assim, que a distribuição das espécies de briófitas epíxilas podem estar associada a algum fator não incluído neste estudo. A PCA mostrou que as características morfo-ecológicas que mais influenciam a composição da comunidade de briófitas epíxilas são a disponibilidade de água e o pH do substrato.
Palavras-chave: briófitas, florística, Mata Atlântica, ecologia, epíxila
Jéssica Soares de Lima
Levantamento das briófitas do Parque Nacional da Serra da Bocaina e caracterização de briófitas em troncos em decomposição
VOLTAR AS DISSERTAÇÕES E TESES