Simone Soares da Silva
Em 6 de maio de 2020, a aluna de mestrado do Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente Simone Soares da Silva, defendeu sua dissertação intitulada “Cuscuta L. (Convolvulaceae) na Região Sudeste do Brasil”. O trabalho, voltado para a linha de pesquisa em Plantas Vasculares, foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa Curadoria do Herbário SP e contou com a orientação e colaboração de diversos pesquisadores de reconhecida atuação internacional, como a Dra. Rosângela Simão Bianchini (IBt- orientadora), Dra. Ana Rita Simões (Kew Gardens) e Dr. Mihai Costea (Wilfrid Laurier University- Herbário WLU).
Quando pensamos em plantas parasitas, percebemos que muito pouco sabemos sobre esse grupo peculiar de plantas. Porém, esse grupo vegetal representa cerca de 1% de toda a diversidade de Angiospermas do mundo, sendo reconhecidas cerca de 4500 espécies, distribuídas em 270 gêneros. A família da batata-doce, Convolvulaceae, é considerada uma das cinco famílias de angiospermas mais importantes dentre àquelas relacionadas ao parasitismo vegetal. Cuscuta, está representado por cerca de 200 espécies com distribuição cosmopolita e são plantas que apresentam redução extrema das estruturas vegetativas, que faz com que a identificação a nível específico seja bastante problemática, pois suas características distintivas estão encerradas em suas minúsculas flores (2-7mm).
Em geral, as espécies de Cuscuta são conhecidas por serem frequentemente combatidas na agricultura. Entretanto deve-se ressaltar que dentre as cerca de 200 espécies conhecidas, apenas 15 apresentam potencial de se disseminar amplamente. A maioria apresenta distribuição restrita e muitas ainda se encontram sob risco de extinção. Essas, atuam como espécies chave na dinâmica dos ecossistemas, pois são capazes de interferir diretamente nos ciclos de extinção e reaparecimento de espécies nas comunidades, influenciando assim nos índices de riqueza e diversidade local.
No Brasil, Cuscuta é conhecido popularmente como cipó-chumbo e fios-de-ovos e, mesmo possuindo um estereótipo tão negativo, apresentam diversas aplicações ainda pouco exploradas. Em todo o mundo são registrados usos no artesanato, pela extração de pigmentos; na medicina tradicional pela extração e uso de diversos compostos de interesse farmacológico, os quais são amplamente pesquisados, e; em trabalhos de restauração ecológica, onde a introdução de plantas parasitas nativas favorecem a supressão de espécies invasoras.
Mesmo com tantas aplicações o conhecimento desse gênero no Brasil permaneceu estagnado desde os anos 1950, quando a última monografia para Cuscuta foi publicada pelo botânico argentino A.T. Hunziker, o qual fez um amplo tratamento taxonômico para as espécies sul americanas. Os estudos com Cuscuta encontram-se bastante adiantados em todo o mundo, mas, por falta de taxonomistas que se dediquem a explorar suas diminutas flores, a América do Sul permanece sub amostrada. Assim, estima-se que ainda haja cerca de 15-20 espécies a serem descritas em todo o continente americano.
Na intenção de sanar essa lacuna de conhecimento, o objetivo do estudo foi retomar os estudos taxonômicos direcionados ao gênero Cuscuta, com o desenvolvimento de uma monografia para o gênero no Sudeste do Brasil. Adicionalmente, foram identificados os hospedeiros de cada espécie de Cuscuta, a fim de oferecer um subsídio adicional a identificação das espécies. Foram estudadas as coleções de 12 herbários do Sudeste e duas do Sul brasileiro, onde mais de 400 exsicatas foram examinadas para identificação e coleta de informações morfológicas, geográficas e ecológicas. Foram reconhecidos 13 táxons, sendo dois deles representados por variedades. As espécies C. orbiculata e C. xanthochortos são registradas pela primeira vez na área de estudo. Três táxons permanecem sem confirmação de identificação devido a quantidade mínima de espécimes para identificação ou informações insuficientes, indicando assim que os estudos sejam aprofundados e amplificados para uma maior área geográfica, a fim de que as dúvidas sejam sanadas. Cuscuta racemosa Mart. foi o único táxon registrado que apresenta ampla distribuição no Sudeste, sendo uma espécie frequentemente registrada tanto em ambientes preservados como em locais antropizados.
O exame de defesa foi presidido pela Dra. Rosângela Simão Bianchini e, a comissão avaliadora composta pela Dra. Fátima Otavina de Souza Buturi (Universidade São Judas Tadeu) e pelo Dr. João Batista Baitello (Instituto Florestal).
Cuscuta L. (Convolvulaceae) na Região Sudeste do Brasil
ABSTRACT
Cuscuta is a marked genus from Convolvulaceae. Since its circumscription, its position has been much discussed, having occupied different positions in the various classification systems, sometimes being considered a distinct family (Cuscutaceae), mainly due to his adaptations to the habit of holoparasitic life, or else included in Convolvulaceae, a position recently confirmed by phylogenetic analyzes. The most recent studies helped to solve many conflicts inside the genus, furthering its reorganization concerning the Sections and Subsections poorly circumscribed since the first classification rehearsed in the nineteenth century. Nevertheless, even the advance of the morphological and phylogenetical studies, the South America remains under sampled, rightly because of the lack of dedicated taxonomists that qualify for explore this peculiar genus. This study aims to contribute to fill the knowledge gap about the South American Cuscuta species, proposing the inventory of species from the Southeast Region of Brazil, also presenting information about the host range of each species. The studies were based in the herbaria sample, enhanced with new collects. It is recognized 13 taxa, being two of them varieties. Together with the morphological analyzes, it is presented a wide investigation about the hosts of each species to furnish an additional tool to support the identification, especially at the field. Additionally, are furnished identification keys, photography sheets and information about distribution and habitat.
Key words: Dodder, floristic survey, parasitic plants, taxonomy, weeds.
RESUMO
Cuscuta é um gênero singular de Convolvulaceae. Desde a sua circunscrição, seu posicionamento em família foi muito discutido, tendo ocupado posições diferentes nos vários sistemas de classificação, às vezes sendo considerado uma família distinta (Cuscutaceae), devido principalmente às suas adaptações ao hábito de vida holoparasita, ou então incluída entre as Convolvulaceae, posição que recentemente análises filogenéticas comprovaram. Os estudos mais recentes ajudaram também a resolver muitos conflitos dentro do gênero, promovendo sua reorganização em relação às Seções e Subseções muito conflituosas desde a primeira classificação ensaiada no século XIX. No entanto, mesmo com o avanço dos estudos morfológicos e filogenéticos, a América do Sul permanece subamostrada devido à falta de taxonomistas dedicados que se qualifiquem a explorar esse gênero tão peculiar e desafiador. Este estudo tem como objetivo contribuir para completar a lacuna de conhecimentos sobre as espécies de Cuscuta sul americanas, propondo o inventário das espécies da Região Sudeste do Brasil, além de apresentar informações sobra a morfologia das espécies. Os estudos foram baseados principalmente em amostras de herbário, enriquecidas de novas coletas. São reconhecidos 13 táxons, sendo 11 espécies e duas variedades. Juntamente com as análises morfológicas, é apresentada uma ampla investigação sobre os hospedeiros de cada espécie, a fim de fornecer uma ferramenta adicional para apoiar a identificação, principalmente em campo. Além disso, são fornecidas chaves de identificação, pranchas fotográficas e informações sobre distribuição e habitat.
Palavras-chave: cipó-chumbo, plantas parasitas, plantas daninhas, levantamento florístico, taxonomia.
Simone Soares da Silva
Cuscuta L. (Convolvulaceae) na Região Sudeste do Brasil
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