
10/04/2025
Foto: Mergulhão-grande (Podicephorus major) / Crédito: Fábio Schunk
Em março, a agência de notícias Bori divulgou estudo publicado em periódico científico do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) realizado no Parque Linear Nove de Julho (PLNJ), localizado na orla da represa Guarapiranga, na cidade de São Paulo. A pesquisa revela que o local é um ponto de ocorrência de aves residentes e descanso de espécies migratórias, incluindo oito ameaçadas de extinção. Segundo o estudo, mesmo com uma área menor do que outros parques da região, a riqueza de espécies encontrada pode estar diretamente relacionada à variedade de habitats e à presença de pesquisadores e observadores de aves nos últimos 24 anos. A presença de aves como o mergulhão-grande (Podicephorus major) no parque é um indicativo da qualidade ambiental da região. No entanto, a degradação das áreas alagadas pode impactar suas populações.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, do Departamento de Conservação de Biodiversidade de Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Guarulhos, do Instituto Biguá – Ecoestudantil e da Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar (Apoena).
O artigo científico “Parque Linear Nove de Julho: duas décadas de pesquisa e ciência cidadã revelam a importância de uma área verde urbana para as aves de várzea no Sudeste do Brasil” está disponível no volume 37 da Revista do Instituto Florestal.
Leia abaixo o texto completo da matéria publicada na página da Bori:
Estudo mapeia 261 espécies de aves em parque na região da represa Guarapiranga, em São Paulo
Um novo estudo publicado na Revista do Instituto Florestal nesta quinta (6) revela a riqueza da biodiversidade das aves no Parque Linear Nove de Julho (PLNJ), na orla da represa Guarapiranga, na cidade de São Paulo — são ao menos 261 espécies.
Com 46 hectares, e localizada no bairro da Capela do Socorro, trata-se de uma das áreas mais importantes para as aves de várzea e campos úmidos da Região Metropolitana de São Paulo. O local funciona como um ponto de parada e descanso de espécies migratórias, além de abrigar aves que realizam movimentos regionais e vagantes, incluindo oito espécies ameaçadas de extinção.
Segundo o estudo, mesmo com uma área menor do que outros parques da região, a riqueza de espécies encontrada pode estar diretamente relacionada à variedade de habitats e à presença de pesquisadores e observadores nos últimos 24 anos.
“O PLNJ possui um grande potencial ornitológico a ser investigado, e o número de espécies pode ser maior que o atual. Contudo, é um conhecimento que precisa ser bem documentado por imagem ou gravação de vocalização. Cerca de 30 espécies citadas na plataforma eBird não foram consideradas na lista atual, pois não possuem documentação adequada nos registros”, explica o ornitólogo Fabio Schunck, membro do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos e autor do estudo. Parte dessas espécies sem confirmação ou ainda não foram documentadas na bacia do Guarapiranga ou ainda podem ter sido confundidas com outras.
O Parque Linear Nove de Julho é um dos mais visitados por observadores e fotógrafos de aves do país, incluindo pesquisadores, sendo uma das localidades que mais contribuíram com registros novos de aves para o município de São Paulo nas últimas duas décadas. Essa elevada visitação aconteceu, inicialmente, devido à ocorrência da espécie mergulhão-grande (Podicephorus major).
Essa ave aquática da família Podicipedidae é conhecida por seu comportamento mergulhador e por habitar corpos d’água como lagos e represas. Com plumagem predominantemente acinzentada, olhos vermelhos e um bico fino e pontiagudo, o mergulhão-grande se alimenta de peixes, insetos aquáticos e pequenos crustáceos. A degradação de áreas alagadas pode impactar suas populações, tornando sua presença no parque um indicativo da qualidade ambiental da região.
“No local também foram encontradas oito espécies de aves ameaçadas de extinção, principalmente devido à destruição de seu habitat. Entre elas estão o pato-de-crista (Sarkidiornis sylvicola), o gavião-do-banhado (Circus buffoni) e o caboclinho (Sporophila bouvreuil), que vivem em áreas de várzea”, destaca o biólogo.
A comunidade de aves encontrada em campo possui espécies locais, que passam o ano inteiro por ali; aves migratórias de média distância, que se deslocam pelo estado de São Paulo e outros estados do Brasil; e aves migratórias de longa distância, que migram tanto do norte da América do Norte (de países como Canadá e EUA), como do sul da América do Sul (países como Chile e Argentina), passando um período no parque, onde descansam e se alimentam antes de retornar para as suas regiões de origem para reprodução.
“Neste contexto, o parque apresenta uma importância global para a conservação dessas espécies, sendo um local que, mesmo protegido sob forma de parque municipal, precisa ser melhor gerido, a fim de que se consolide numa plataforma de ciência cidadã, aquela que envolve ativamente pessoas comuns e pesquisadores na coleta e análise de dados sobre a biodiversidade local, transformando cada visitante em participante direto do processo científico e contribuindo para a construção do conhecimento e conservação efetiva das espécies.
Segundo Schunck, entre as iniciativas necessárias para a proteção das aves estão a implantação de uma sede física, com um projeto adequado ao ambiente local e uso de materiais sustentáveis, com estruturas básicas para os funcionários e visitantes; além da criação de programas permanentes de inventário e monitoramento de fauna, conservação ambiental e de educação ambiental, com monitores locais, incluindo a aquisição de equipamentos, como binóculos e câmeras fotográficas, e guias de campo especializados que possam explicar aos visitantes sobre as características, potencialidades e fragilidades ecológicas do parque, incentivando o máximo de receptividade e compreensão da observação de aves.
“As várzeas e as áreas úmidas estão entre os ambientes mais ameaçados do mundo, com reduções de tamanho a cada ano. Com isso, todos os animais e plantas que passam por esses ambientes são mais ameaçados. Proteger uma área de várzea e sua biodiversidade é algo vital, não só em termos de proteção e produção de dados técnicos e científicos, mas em relação ao bem-estar e segurança da população, uma vez que as várzeas são áreas que recebem o excesso de água de chuvas, evitando tragédias ambientais. Grande parte das áreas urbanas afetadas pelas fortes chuvas dos últimos anos está ilegalmente em áreas de várzea”, alerta Schunk.
Fonte: Agência Bori
Repercussão na mídia
Frederico Arzolla, editor-chefe da Revista do Instituto Florestal, comenta que foi uma das melhores repercussões de trabalho publicado que o periódico científico do IPA já teve. “Repercutiu na grande imprensa (nas seções especializadas), na imprensa regional de todo o país e em blogs individuais”, relata o pesquisador científico.
A pesquisa foi divulgada em mais de 30 mídias diferentes. Entre o veículos de grande alcance de público, vale mencionar o Jornal da Tarde, da TV Cultura, a revista Isto é, a CNN Brasil, o jornal Meia Hora, o portal de notícias UOL, a Agência Brasil, o BOL – Brasil Online e o portal Um só Planeta (ligado ao grupo Globo). O tema apareceu em mídias especializadas como o Fauna News, portal jornalístico especializado em notícias sobre fauna, e o Dinheiro Rural.
O estudo foi noticiado em periódicos locais paulistas, como jornal Mogi News (Mogi das Cruzes/SP), o Hora Campinas e o Grupo Sul News (Zona Sul da capital). Também teve destaque em periódicos de outros 14 estados brasileiros, de todas as regiões do país: A Notícia Alagoas, Leia Bahia, O Povo (CE), Contexto Exato (DF), portais Aquinotícias.com e TC Online (ES), Diário do Estado (GO), Itatiaia Brasil (MG), Cidade News MS, MTT News (MT), Repórter PB, Portal TAC (PE), CGN (PR), Portal de Notícias de Barra Mansa (RJ) e Jornal Roraima Hoje. A pesquisa publicada no periódico científico do IPA também teve destaque no Gazeta Brazillian News, jornal brasileiro publicado na Flórida (EUA), além de mídias alternativas como o Portal Graciosa e o canal Suzano TV. No dia 27 de março, a pesquisa foi divulgada no Jornal da Boa Notícia da Rádio Vibe Mundial – 95,7 fm.
Toda essa repercussão é resultado de uma parceria com a Bori que o IPA herdou do Instituto Florestal e que surgiu como resultado de uma articulação entre editores de Revista do Instituto Florestal e a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC). A agência de notícias constrói uma ponte entre os meios de comunicação e as pesquisas científicas realizadas no Brasil, por brasileiros e publicadas em periódicos científicos nacionais. A equipe da Bori avalia os artigos científicos, seleciona os mais relevantes, prepara matérias e as envia para centenas de jornalistas cadastrados, alcançando desde profissionais autônomos até aqueles que atuam em grandes mídias.
Desde o final de 2021, a Bori produziu 15 matérias jornalísticas sobre pesquisas publicadas na Revista do Instituto Florestal no âmbito dessa parceria. Até o momento, foram realizadas divulgações de artigos de autoria tanto de pesquisadores do IPA quanto de outras instituições, como a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do Acre (Ufac), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Cuiabá, no Mato Grosso, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), no Rio Grande do Norte, a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Minas Gerais, e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Segue abaixo o histórico das divulgações das pesquisas publicadas na revista do IPA realizadas pela Bori:
Estudo identifica aptidão da jurema-preta para uso em pisos de madeira (6/12/2021)
Com grande volume de água, bacias de Cunha (SP) são importante manancial da Mata Atlântica (30/03/2022)
Cultivo de eucalipto protege matas e contribui para preservação da biodiversidade em florestas (11/05/2022)
Dezoito espécies de aves são vistas pela primeira vez em matas de brejo no interior de SP (30/06/2022)
Esterco de aves é o que mais reduz acidez de solo e favorece plantações no Cerrado, aponta estudo (12/09/2022)
Um terço das Áreas de Preservação Permanente em São Luiz do Paraitinga (SP) estão suscetíveis a inundações (16/12/2022)
Árvore usada na restauração do Cerrado se torna mais fértil com adição de calcário e fósforo (30/04/2023)
Desmatamento do interior paulista provocou desaparecimento de 80 espécies de aves (22/05/2023)
Uma em cada dez espécies de árvores da Serra de Paranapiacaba está em risco de extinção (30/06/2023)
Uso de casca de coco melhora cultivo de bromélias e pode reduzir o extrativismo predatório (4/12/2023)
Ao menos 86% das espécies nativas de animais vertebrados do estado de SP estão em unidades de proteção (18/12/2023)
Óleos naturais como o de açaí têm potencial para preservar madeiras amazônicas usadas no setor moveleiro (3/05/2024)
Foto inédita: furão-pequeno é flagrado pela primeira vez em unidade de conservação ambiental, em São Paulo (12/07/2024)
239 espécies de aves são mapeadas em área da Serra de Paranapiacaba; 2 estão em risco de extinção (20/12/2024)
Estudo mapeia 261 espécies de aves em parque na região da represa Guarapiranga, em São Paulo (6/03/2025)
Revista do Instituto Florestal está recebendo submissões de artigos
A Revista do Instituto Florestal é uma revista de acesso aberto e está na plataforma Open Journal Systems – OJS, com suporte da Lepidus Tecnologia. A submissão dos artigos e a tramitação se dá de forma eletrônica. Para saber mais, acesse o link: https://rif.emnuvens.com.br/revista/about/submissions. A plataforma hospeda toda a coleção dos artigos da Revista, oferecendo mecanismos de busca e possibilitando downloads gratuitos, melhorando o acesso tanto para o corpo de cientistas, técnicos e alunos do IPA, quanto para o público externo, tornando os artigos mais acessíveis à sociedade de uma forma geral.
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