
23/01/2025
Estudo é o mais extenso sobre briófitas para a localidade em mais de um século
Uma pesquisa científica realizada na Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba (RBASP), unidade de conservação da natureza estadual localizada no município de Santo André/SP, identificou 423 espécies de briófitas que ocorrem na área, sendo que 46 representam os primeiros registros para o estado de São Paulo. O estudo foi publicado em dezembro passado na Rodriguésia, revista científica do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O levantamento foi parte da pesquisa de mestrado do biólogo Douglas Oliveira, realizada no programa de pós-graduação do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) com orientação do pesquisador científico Denilson Peralta e cuja defesa ocorreu em 2022. Atualmente, Douglas é aluno de doutorado na instituição.
Para se chegar a esses resultados, foram realizadas coletas em grandes áreas da Reserva com diferentes fitofisionomias, além da análise de espécimes depositados no Herbário SP, uma das coleções científicas do IPA. Das 1.105 amostras analisadas, 478 resultaram das coletas realizadas durante o trabalho de campo. As expedições aconteceram entre 2020 e 2021 e renderam a coleta de 78 espécies pela primeira vez na área. A RBASP possui 50 espécies endêmicas do Brasil, sendo 35 restritas à Mata Atlântica. O número total de 423 espécies levantadas no estudo corresponde a 26% das briófitas do Brasil e 31% das espécies do bioma Mata Atlântica. As briófitas encontradas na unidade de conservação atingem 46% do total já reportado para o estado de São Paulo.
Embora a região sudeste do Brasil tenha um alto número de inventários florísticos, com briófitas documentadas em fragmentos de Mata Atlântica, os novos registros para o estado de São Paulo e para o bioma destacam esse tipo de pesquisa como um importante instrumento para entender a biodiversidade desse grupo. Assim, os dados apresentados no estudo podem servir de base para futuras pesquisas taxonômicas e ecológicas e as briófitas levantadas se somam à flora de outros grupos vegetais já conhecidos na RBASP.
Pequenas notáveis
As briófitas constituem o segundo maior grupo de plantas conhecido, com aproximadamente 24 mil espécies catalogadas. Estão presentes em todos os ecossistemas, exceto o marinho, com alta diversidade e endemismo em florestas tropicais, onde desempenham um papel ecológico ativo e significativo na estabilização e formação de solo úmido que ajuda outras mudas vasculares a se desenvolverem mais tarde. As briófitas aumentam as taxas de nitrogênio fixo e a fotossíntese nas comunidades de epífitas das florestas tropicais. Além disso, sua biomassa pode interceptar a chuva e acumular matéria orgânica em pântanos e turfeiras. Devido à sua sensibilidade às mudanças microclimáticas, as comunidades de briófitas podem servir como excelentes indicadores da qualidade ambiental. Elas são pioneiras na colonização e regeneração de áreas degradadas, desempenhando um papel crucial na ciclagem de nutrientes e no aumento da biodiversidade local.
Até hoje, já foram catalogadas 1.617 espécies de briófitas que ocorrem no Brasil. Dentre os biomas, a Mata Atlântica se destaca com 1.359 espécies, das quais 238 são endêmicas. O estado de São Paulo concentra 56,6% das briófitas conhecidas no país.
A primeira Reserva Biológica da América do Sul
A Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba foi criada em 1909 pelo médico e naturalista Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista à época. Em 1913, foi transferida para o governo do estado de São Paulo. É considerada a primeira área protegida sul-americana da categoria de Reserva Biológica.
A área está localizada entre o Planalto Atlântico e a Serra do Mar, abrangendo 336 hectares com vegetação de Mata Atlântica. Alguns trechos de áreas antropizadas com poluição atmosférica também podem ser observados devido às atividades industriais próximas à Reserva e à extração ilegal de madeira. Dentro de sua área estão fontes de importantes corpos d’água. A unidade de conservação representa um cinturão verde crucial de proteção ambiental para a floresta e sua diversidade, reforçando assim a necessidade de manter sua natureza protetora. Desde sua fundação, a diversidade e riqueza florística da RBASP têm sido objeto de fascínio e estudos por pesquisadores de diferentes países. Por se enquadrar na categoria Unidade de Conservação de Proteção Integral, conforme a lei federal nº 9.985/2000 todas as atividades humanas na área são proibidas, exceto aquelas com objetivos educacionais e estudos científicos previamente autorizados.
Notícias relacionadas
- Estudantes de pós-graduação do IPA ministram aulas e palestras em evento sobre botânica realizado na USP
- Alunos da pós-graduação do IPA apresentam a Jônatas Trindade pesquisas em andamento para colaborar com o Programa Refloresta SP
- Pesquisadora aposentada do antigo Instituto de Botânica narra sua trajetória profissional em vídeo