
31/01/2025
Uma pesquisa científica realizada na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Parque Florestal São Marcelo, localizada no município paulista de Mogi Guaçu, traz o registro inédito de 14 espécies de aves de rapina para a área. A unidade de conservação da natureza (UC) foi criada em 2002 e seu projeto de implementação foi desenvolvido pelo antigo Instituto de Botânica, atual Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), que conduziu, ao longo dos anos, a restauração de 240 hectares de áreas degradadas a partir do plantio de mais de 100 espécies de árvores nativas da Mata Atlântica. A presença de aves de rapina nesses fragmentos florestais restaurados aponta para a recuperação das funções ecológicas da área e a formação de habitats adequados para a vida silvestre.
As aves de rapina desempenham um papel fundamental nos ecossistemas como predadoras de topo de cadeia, regulando populações de presas e contribuindo para o equilíbrio ecológico. As espécies de aves registradas pertencem às 4 famílias reconhecidas como sendo do grupo das rapinantes, o que sugere que o fragmento está tornando-se um habitat propício para elas, que dependem de uma cadeia alimentar equilibrada e de espaços para caça e nidificação. Assim, sua presença também indica o potencial da área em servir como habitat para outras diversas espécies da fauna, que dispõem de poucos remanescentes florestais com grandes extensões. Ano passado, noticiamos o registro do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) na área, primata ameaçado de extinção e que vem sendo avistado na RPPN desde 2023.
Esses resultados ressaltam a importância de continuar os esforços de restauração, que têm se mostrado uma importante estratégia para a sustentabilidade dos serviços ecossistêmicos e para a manutenção da biodiversidade. A presença da fauna é indicativo da qualidade ambiental da área. Os registros também apontam para a importância das UCs para a proteção da biodiversidade.
O levantamento das aves de rapina na RPPN é parte da pesquisa de doutorado de Fernando Cirilo de Lima, assistente técnico de pesquisa científica e tecnológica do IPA, desenvolvida no programa de pós-graduação da instituição. A diversidade de espécies foi observada em expedições de campo mensais entre os anos de 2021 e 2023, nas quais foram obtidos registros visuais e sonoros das espécies. Também foram aproveitados dados de expedições anteriores, realizadas entre 2016 e 2018. O trabalho foi apresentado na forma de pôster no 3º Simpósio do IPA, realizado em novembro passado, e integra os anais do evento.
O projeto de restauração ecológica da área, pertencente à empresa de papel Sylvamo do Brasil Ltda, foi coordenado pelo pesquisador científico do IPA Luiz Mauro Barbosa, que também é orientador da pesquisa de doutorado de Fernando. Além das equipes do Instituto e da empresa, a restauração da área contou com a participação de estudantes de pós-graduação. Entre os benefícios da RPPN, destacam-se a vegetação favorecida pela alta diversidade de espécies plantadas e a influência da fauna como agente dispersor não apenas na UC, mas também em seu entorno.
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