11/11/2024

Nos dias 5 e 6 de novembro, aconteceu a 16ª edição do Encontro Paulista de Biodiversidade (EPBio). A temática deste ano foi “Os campos naturais na gestão ambiental paulista: avanços e desafios”. O evento teve como objetivo promover a sensibilização sobre sobre a importância dessas fitofisionomias e gerar subsídios à melhoria de seu tratamento na gestão ambiental paulista. A programação contou com palestras de diversos pesquisadores científicos do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) envolvidos em trabalhos voltados à conservação dos campos naturais. O evento aconteceu no auditório “Augusto Ruschi”, na sede da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo (Semil), na capital paulista. O primeiro dia de trabalho foi transmitido online.

A mesa de abertura contou com a participação de Jonatas Trindade, subsecretário de meio ambiente da Semil. Durante as falas de abertura, foi colocado como os campos naturais são fitofisionomias negligenciadas, além de estarem mais sujeitos às pressão antrópicas. Neste contexto, o evento propôs o debate sobre os avanços, os desafios e as ações voltadas à produção de conhecimento sobre os campos naturais, bem como à sua conservação, restauração e uso sustentável.

Na primeira mesa de debates, que teve como tema “Conservação, restauração e uso sustentável de campos naturais”, Giselda Durigan, pesquisadora científica do IPA especializada em restauração de Cerrado, realizou apresentação intitulada “Vegetação e flora dos campos naturais: estado da arte da produção de conhecimentos (avanços e lacunas), vetores de pressão, serviços ecossistêmicos e subsídios à gestão”.

“Os campos naturais não aparecem no mapas, não é reconhecida sua importância, não se conhece sua biodiversidade e não são compreendidos seu funcionamento e os fatores que os mantêm. E por conta disso, eles estão desaparecendo rapidamente”, alertou Giselda, dando a tônica das discussões que aconteceram ao longo do dia. A pesquisadora apresentou o projeto “Campos naturais do estado de São Paulo: diagnóstico, manejo e conservação” (Processo nº 20/07378-0), conhecido como Biota Campos, coordenado por ela e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O objetivo do projeto é justamente preencher boa parte das lacunas de conhecimento relativas aos campos naturais, com enfoque para o território paulista.

Em relação à legislação, a pesquisadora afirmou durante o EPBio que a Lei federal nº 13.550, de 2009, conhecida como Lei do Cerado, não protege os campos naturais. Respondendo a uma pergunta de um participante do encontro, Giselda afirmou ainda que os campos não têm sucessão ecológica, e que um dos erros desta lei foi tratar as fitofisionomias do Cerrado como sucessão. Ainda nesse sentido, foi comentado sobre erros que são cometidos na prática da restauração de áreas desse bioma, ao se considerar áreas de beiras de corpos d’água sem mata ciliar como passivos ambientais. A pesquisadora abordou ainda a necessidade do manejo controlado do fogo e defendeu que, para a conservação da biodiversidade de espécies botânicas, diferentemente das fitofisionomias florestais, a melhor estratégia é conservar uma grande quantidade de áreas muito pequenas de campos.

Já quando se trata das maiores espécies de fauna, o palestrante seguinte, Alexsander Antunes, defendeu que é necessária a conservação de áreas maiores e conexão entre essas áreas. O pesquisador científico do IPA ministrou a palestra “Fauna dos campos naturais paulistas: estado da arte da pesquisa científica (avanços e lacunas), vetores de pressão e subsídios à gestão”. O ornitólogo também integra o projeto Biota Campos e atua na caracterização de fauna. Na palestra, explicou a importância dessas fitofisionomias para os animais. É ali onde ocorre 145 espécies de aves, o que corresponde a 17% da avifauna paulista. O campos, mesmo pequenos, são estratégicos para as espécies migratórias, que param ali para descansar e “reabastacer”. Em São Paulo, recebem algumas espécies como o maçarico-do-campo (Bartramia longicauda) e o caboclinho (Sporophila bouvreuil). Nos campos naturais também ocorre 52 espécies de serpentes e 19 de mamíferos de pequeno porte não voadores (35% e 24% das espécies do estado, respectivamente).

Na parte da tarde, a segunda mesa de debates foi intitulada “Mapeamento dos campos naturais: desafios e novas perspectivas”. A pesquisadora científica do IPA Mônica Pavão apresentou a palestra “Projeto FAPESP Biota Campos e os campos paulistas no mapa”, na qual explicou os desafios em se mapear fitofisionomias não florestais. Em seguida, o pesquisador Marcio Rossi, especialista em solos, ministrou a palestra “Mapa de Áreas Úmidas no Estado de São Paulo: ecossistemas campestres”. Logo após, Marco Nalon, pesquisador científico e coordenador do IPA, contou como foi o processo histórico de desenvolvimento do mapeamento de áreas naturais no estado.

Ambas as mesas de debates foram moderadas pela pesquisadora científica do IPA Natália Ivanauskas. O evento contou com outras rodas de discussão, convidados de instituições diversas e grupos de trabalho para serem elaboradas propostas a partir desses debates.

Assista ao primeiro dia de evento na página de YouTube da Semil:

Texto: Núcleo de Divulgação Científica – IPA