
30/08/2024
A araucária (Araucaria angustifolia) é uma espécie arbórea brasileira de grande importância ambiental e econômica e tem presença marcante no município paulista de Cunha, tanto em fragmentos florestais quanto em árvores isoladas na paisagem. Suas sementes, os pinhões, constituem um importante recurso econômico para a sustentabilidade de comunidades coletoras e contribuem significativamente para o Produto Interno Bruto municipal. No entanto, desde 2013, a araucária está na categoria “Criticamente em perigo” na “Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas” da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) em função da contínua redução de sua população.
Um levantamento realizado em 2018, pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do estado de São Paulo, apontou a existência de 180 pequenas propriedades em Cunha onde a atividade de coleta de pinhão é realizada, servindo de sustento ou complementando a renda de agricultores familiares. No ano de 2019, mostramos no site do antigo Instituto Florestal (IF), atual Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), que, além da importância ecológica e econômica, a espécie tem relevância cultural, movimentando turismo em diferentes pontos do Brasil, e nutricional. Um estudo da Universidade de Reading (Reino Unido) publicado naquele mesmo ano, mostrou que as araucárias podem desaparecer por completo até 2070 devido às mudanças climáticas caso não haja intervenções direcionadas para ajudar a garantir sua sobrevivência na natureza. Anteriormente, em 2017, divulgamos pesquisa que aponta que a conservação da araucária deve focar não somente em fragmentos florestais, mas também árvores isoladas. Tamanha importância desta espécie tem direcionado a atenção de pesquisadores e extensionistas para a araucária com o objetivo de conhecer suas relações com o ambiente local e incentivar seu plantio.
Anos atrás, pesquisadores do IF desenvolveram estudo para promover o reflorestamento de araucárias em Cunha, de forma a atender demandas tanto de conservação da natureza quanto de geração de renda para as comunidades locais. Outra pesquisa, realizada no âmbito da instituição, contribuiu para o conhecimento da distribuição temporal da queda dos pinhões no município e embasou uma nova política pública para sua colheita, materializada pela Resolução SIMA 121/2022, que dispõe sobre os procedimentos de coleta no estado de São Paulo, entre eles, a comunicação prévia de coleta do pinhão. Atualmente, está sendo desenvolvido um projeto de pesquisa interinstitucional envolvendo pesquisadores do IPA e extensionistas da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) da SAA.
Os estudos visam caracterizar os sistemas de produção e manejo do pinhão (coleta no chão ou por escalada na árvore), bem como seus custos. O objetivo é compreender os mercados local e nacional do produto, considerando tanto a venda in natura como seus processamentos, beneficiamentos e canais de comercialização, caracterizando o seu potencial na bioeconomia local e os fatores limitantes para seu desenvolvimento. Além disso, a pesquisa visa avaliar os impactos dessa atividade para o desenvolvimento rural sustentável do município. Também é foco do trabalho a realização da análise econômico-financeira do cultivo do pinhão, elencando ações prioritárias e propondo políticas públicas que contribuam para a consolidação desse mercado, com agregação e distribuição justa de valor na cadeia produtiva e promoção da segurança alimentar das comunidades coletoras.
O projeto é desenvolvido pelos pesquisadores do Núcleo de Uso Sustentável dos Recursos Naturais do IPA Roberto Starzynski, Clovis de Oliveira Junior, José Arimatéia Machado e Fernanda Peruchi, em parceria com Cesar Frizo e Priscilla de Souza, extensionistas da Casa da Agricultura de Cunha.
“Fóssil vivo”
Originalmente, a área florestal da Araucaria angustifolia era de 185.000 km², distribuindo-se nas regiões Sul e Sudeste do país, principalmente no estado do Paraná. Entretanto, a partir do começo do século XX, a espécie sofreu uma indiscriminada exploração, o que levou à redução de seu habitat natural. Estima-se que atualmente sua distribuição atual esteja limitada a uma pequena porcentagem (de 1 a 5%) da área original.
Na década de 1940, o engenheiro silvicultor Mansueto Koscinski escreveu que “êsse extraordinário êxito do pinheiro, tão útil para nossa economia, tornou-se perigoso para o resto das florestas nativas, ameaçando-as de completo aniquilamento, pois a produção natural de pinheiro é muito inferior ao crescente consumo. Já começam a aparecer campos rasos em lugares onde havia outrora pujantes e majestosos pinheirais. Prova cabal de que não há reservas florestais “inesgotáveis”“. No livro O Pinheiro Brasileiro, publicado pela Edições Melhoramentos, Koscinski defende a cultura da araucária pelos “bons brasileiros” e “previdentes industriais” de forma a “garantir a continuidade da produção, plantando novas florestas e reflorestando sem demora os terrenos onde estão sendo derrubadas.”
Considerada um “fóssil vivo”, já que é uma espécie primitiva com milhares de anos de existência no planeta, a araucária é um elemento importante para a biodiversidade da Mata Atlântica. A espécie pode atingir uma altura de até 50 metros quando adulta e viver em média até os 250 anos.
Notícias relacionadas
- Pesquisador do IPA palestra em evento da Semil sobre a relação dos solos com as mudanças climáticas e a saúde humana
- Diagnóstico de viveiros mapeia produção de mudas nativas em São Paulo e fortalece metas do Programa Refloresta-SP
- Laboratório de Hidrologia Florestal do IPA, em Cunha, recebe pesquisadores da Polônia para estudos de interações água-dossel