
28/05/2024
Na última quarta-feira, 22 de maio, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) ofereceu palestra “O conhecimento científico atual da Flora Brasileira”, ministrada pela pesquisadora científica Rosângela Bianchini. A apresentação aconteceu em ambiente online teve a participação de cerca de 40 pessoas. O evento aconteceu em comemoração ao Dia Internacional da Biodiversidade.
A palestra foi conduzida pelo viés da taxonomia, campo científico dedicado à identificação, nomeação e classificação dos seres vivos em um sistema organizado. Atualmente, o Brasil é um dos poucos países que possui uma compilação ativa de sua flora. Na plataforma Reflora, podem ser acessadas 52.446 espécies conhecidas. A construção e atualização deste site tem uma longa história e só foi possível devido a uma união dos taxonomistas e por existirem estudos de floras estaduais e locais. Na palestra, Rosângela contou um pouco sobre esse processo histórico.
A pesquisadora iniciou pelo filósofo Teofrasto (372 a.C. – 287 a.C.), considerado o pai da Botânica e que já realizava estudos com plantas na Grécia Antiga. Em relação ao território brasileiro, apresentou diversos trabalhos, como o pioneiro de Frei José Mariano da Conceição Veloso na compilação de 1.639 espécies botânicas que resultaram na publicação da Flora Fluminensis, em 1825. Um dos mais importantes trabalhos sobre a flora do Brasil foi iniciado pelo alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, que esteve em nosso país entre 1817 e 1820, e que junto ao trabalho de outros naturalistas resultou na publicação da Flora Brasiliensis, no ano de 1940. A obra teve atualizações até o ano de 1906. São 40 volumes com 22 mil espécies. Atualmente, a publicação pode ser acessada em ambiente online. Já no século XX, Frederico Carlos Hoehne, importante botânico brasileiro e primeiro diretor do Instituto de Botânica (que em 2021 foi integrado ao recém-criado IPA), pretendia atualizar a Flora Brasiliensis. Entre 1940 e 1955, publicou pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo os 12 fascículos da Flora Brasílica.
Rosangela contou que nos tempos de faculdade, uma obra que a ajudava a identificar plantas era a Flora Ilustrada Catarinense, publicada pela primeira vez em 1965. Ela também citou a Flora de Goiás, obra de 1981 (à época incluindo o território onde atualmente fica o estado do Tocantins), que segundo ela, ajuda a identificar materiais de Cerrado em qualquer lugar do país. A taxonomista explicou que publicações com levantamentos de floras locais também ajudam muito. Neste sentido, destaccou a Flora da Serra do Cipó, iniciada em 1972 por Aylthon Brandão Joly, da Universidade de São Paulo (USP), e culminou, em 1987, na publicação de uma lista de cerca de 1.600 espécies de plantas terrestres avasculares e vasculares em 1987. O trabalho prosseguiu nos anos seguintes sendo coordenado por docentes da USP, com colaboradores de várias outras instituições, e atualmente está na ordem de 3.299 espécies. Rosangela mencionou ainda a Flora Fanerogâmica da Ilha do Cardoso, de 1991.
Em 1991, durante o 42º Congresso Nacional de Botânica, um grupo grande de taxonomistas reunidos decidiu iniciar a elaboração da Flora do Brasil. No ano seguinte, entendeu-se que deveriam ser feitos investimentos para a formação de taxonomistas e ampliação das coleções e que esse processo de levantamento da flora brasileira deveria ser dividido por estado e por família botânica.
Entre as publicações mais relevantes que ocorrem nesse período subsequente, a pesquisadora menciona a Flora da Reserva Ducke, de 1999, e a Flora do Distrito Federal, de 2001. É também no primeiro ano do século XXI que fica pronto o volume 1 da Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo, cujo trabalho foi iniciado a partir de 1993, com verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Em 2010, é publicado o Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil, que possui 2 volumes. No mesmo ano, ocorre a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em sua décima reunião (COP 10), em Nagoya, no Japão. Na ocasião, foi aprovado o Plano Estratégico de Biodiversidade, cuja Meta 1 previa que até 2020, no mais tardar, as pessoas deveriam ter conhecimento dos valores da biodiversidade e das medidas para conservá-la e utilizá-la de forma sustentável.
Nesse processo de compreender e documentar a diversidade de plantas, a tecnologia avançou. Atualmente, há possibilidade de consultas online desses catálogos. Além disso, a biologia molecular representou um salto no processo de identificação das espécies. Essas listas com levantamentos de flora subsidiam as políticas de conservação da biodiversidade, como por exemplo ajudando a determinar quais espécies botânicas nativas devem ser plantadas em projetos de regeneração ou mesmo quais espécies exóticas invasoras devem ser removidas de Unidades de conservação.
Esta foi a sétima palestra de uma série que, desde o início do ano, o IPA vem promovendo em datas comemorativas relacionadas às pautas científica e ambiental. A diversidade de assuntos abordados nesses eventos reflete a variedade de áreas de atuação do Instituto. Até o momento, já foram abordados temas como conservação de aves migratórias e da vida selvagem, armazenamento de sementes, a importância dos rios e da florestas no contexto das mudanças climáticas, o uso de musgos na jardinagem e a relação entre as briófitas e a teoria evolutiva de Darwin.
Assista à palestra no Youtube do IPA:
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