
18/06/2024
O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) realiza estudos e desenvolve tecnologias para a compreensão dos fenômenos climáticos e prevenção de desastres. A instituição atua no planejamento territorial, no monitoramento costeiro e na capacitação de agentes públicos e sociedade civil.
No dia 3 de junho, a pesquisadora científica Célia Souza apresentou o Sistema de Alerta de Ressacas e Inundações Costeiras (Saric), implementado entre 2020 e 2023 como parte de projeto realizado no âmbito do edital “Planos de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIPs)”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Esse novo sistema integra informações de previsão de condições marítimas, altura de maré, ondas e monitoramento de situação de praias do litoral paulista. A apresentação aconteceu no workshop “Avanços da Pesquisa Ambiental com o Programa de Desenvolvimento de Infraestrutura e Pesquisa”, que integrou a programação da Semana do Meio Ambiente da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do estado de São Paulo e aconteceu na sede da pasta de governo, na capital. Já no dia 6 de junho, ministrou a palestra online “Riscos Costeiros e Mudanças Climáticas: O que fazer?”, que contou com 90 participantes.
Durante as apresentações, a geóloga explicou que há eventos costeiros severos de curto período de tempo, como ressacas do mar (ondas de tempestade) e sobre-elevação de curto período do nível do mar (mares de tempestade), mas há também aqueles de longo período, como a elevação do nível do mar relacionada às mudanças climáticas. O pior caso de todos, segundo ela, é quando há eventos conjugados (extremos). Esses eventos causam erosão e inundação costeira, além de influenciar inundações continentais (fluviais). Célia apresentou séries históricas de eventos na Baixada Santista ocorridos entre 1928 e 2021 que mostram taxas cada vez maiores de elevação do nível do mar. Entre 1928 e 1999, o número de ressacas com ondas de mais de 2,5 metros de altura aumentou 19%. Nas duas décadas seguintes, esse índice foi de 80%.
A pesquisadora contou que existe dois tipos de erosão costeira: a crônica, que ocorre de forma progressiva, e a aguda, associada a eventos extremos. A erosão costeira se torna preocupante quando o balanço de sedimentos é negativo (está entrando menos areia do que deveria ou está saindo mais areia do que deveria). A erosão costeira crônica é um processo de muitos anos, de décadas. Quando uma praia entra nesse processo, acende um alerta de que ela não consegue mais cumprir um de seus papeis mais importantes, que é a proteção física que exerce como barreira natural contra a ação do mar. Quanto mais estreita for uma praia, quanto menos areia tiver e quanto menos natural ela for, maiores serão os impactos desses eventos.
Para combater esse tipo de erosão, a palestrante defendeu a recuperação de dunas frontais e manguezais. “Onde tem dunas é possível que haja a recuperação natural dessas praias”, revelou. Ela também destacou a importância da parte submersa da praia, pois preserva estoque de areia que foi erodida. “Em uma situação saudável essa areia volta paulatinamente”, complementou. Célia também detalhou a necessidade da adoção de outras medidas não-estruturais, como mapas de riscos, planos de prevenção e sistemas de alerta. A plataforma Saric, por exemplo, fornece previsão de eventos extremos com 4 dias (96 horas) de antecedência. No último trimestre de 2023, o IPA promoveu cursos de capacitação sobre o sistema para técnicos dos municípios do litoral paulista. Os treinamentos foram acompanhados de atividades de campo nas praias. No contexto da polêmica Proposta de Emenda à Constituição nº 03/2022, conhecida como PEC das praias, a geóloga mostrou que medidas estruturais para conter a erosão costeira e evitar inundações (obras de contenção como o muros e barreiras), além de não funcionarem, promovem mais erosão.
No início deste mês, dia 4, a pesquisadora concedeu entrevista para o programa de televisão Link Vanguarda, da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, sobre o aumento do risco de erosão no Litoral Norte de São Paulo. Anteriormente, no dia 3 de maio, Célia já havia participado do podcast Pesquisa Brasil, da revista Pesquisa Fapesp em parceria com a Rádio USP, conforme noticiamos no site do IPA. Naquele mesmo mês, no dia 23, ministrou oficina sobre Planejamento Espacial Marinho (PEM) no Parque Municipal do Juqueriquerê, em Caraguatatuba (SP), e, nos dias 27 e 28, oficina do Plano Setorial “Oceano e Zona Costeira”, no âmbito da Estratégia Nacional de Adaptação (Plano Clima Adaptação), na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), em Brasília (DF). No próximo dia 24 de maio, participa junto ao subsecretário de Meio Ambiente Jonatas Trindade do fórum A Região em Pauta, em Santos (SP). Para 20 de agosto, está prevista sua participação na mesa redonda “Mudanças Climáticas, um futuro em risco: Impactos das Chuvas Extremas no RS em Maio/2024”, que será realizada na Conferência Pan-Americana de Meteorologia (CPAM).
Assista à palestra do dia 6 de junho na página de YouTube do IPA:
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