
06/03/2024
Na última sexta-feira, 1º de março, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) ofereceu palestra sobre conservação da vida selvagem, ministrada pelo pesquisador científico Alexsander Antunes. O evento aconteceu em celebração ao Dia Mundial da Vida Selvagem, que acontece 3 de março, e começou a ser comemorado a partir da realização da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), que aconteceu em 1973. A apresentação “Ainda vivos e selvagens no século XXI”, aconteceu em ambiente online teve mais de 60 participantes.
Segundo o pesquisador do IPA, a vida selvagem está em todo lugar (animais, plantas, fungos, bactérias, protozoários, etc). Há uma estimativa conservadora de que atualmente há 10 milhões de espécies, sendo que apenas 2 milhões já foram descritas cientificamente. No entanto, as populações estão diminuindo. Ao longo da palestra, foram apresentadas as diferentes causas da crise da biodiversidade, como perda e degradação de habitat, superexploração, espécies exóticas invasoras, poluição, etc. Também foi ressaltado como tudo isso piora com as Mudanças Climáticas. Mas nem tudo está perdido. “O principal reduto da vida selvagem está em áreas naturais. A melhor estratégia para a conservação da vida selvagem está em Unidades de Conservação (UCs)”, explica o pesquisador.
Alexsander apresentou alguns projetos de pesquisa desenvolvidos na instituição que visam compreender esses processos de perda de biodiversidade para propor soluções e embasar políticas públicas de proteção ambiental.
O primeiro, foi um trabalho publicado ano passado na Revista do Instituto Florestal, de estudo realizado junto à pesquisadora Marina Kanashiro, também do IPA, no qual foram levantadas mais de 1000 espécies de animais vertebrados em 78 Unidades de Conservação de Proteção Integral (estaduais e federais) no território paulista. Os resultados mostraram que ao menos 86% das espécies nativas do estado de São Paulo estão neste tipo de Área Protegida, mostrando a importância das UCs para reduzir a perda de biodiversidade e a extinção de espécies.
O pesquisador científico, que é ornitólogo, apresentou ainda resultados oriundos de sua pesquisa de doutorado, na qual foram avaliadas as alterações nas populações de aves ao longo do tempo em um fragmento florestal: a APA Barreiro Rico e a Estação Ecológica Barreiro Rico. Os resultados apontam que algumas espécies podem ter sido prejudicadas pela degradação da cobertura vegetal e, de uma maneira geral, as aves endêmicas da Mata Atlântica foram mais negativamente afetadas pela fragmentação de hábitats e isolamento de outros fragmentos, do que espécies não endêmicas.
Por fim, foi apresentada pesquisa que Alexsander participou junto a um grupo de cientistas, incluindo a pesquisadora do IPA Giselda Durigan, no qual foram realizados experimentos de manejo com fogo na Estação Ecológica de Santa Bárbara. Com o objetivo de demonstrar que uso do fogo controlado para fins de conservação no Cerrado não representa risco de perdas de biodiversidade, foram avaliados o impacto desse tipo de manejo na diversidade de plantas, formigas, sapos, lagartos, pássaros e pequenos mamíferos. Os resultados apontaram que as queimadas não reduziram significativamente a riqueza de espécies de nenhum dos grupos analisados, mas tiveram um efeito positivo na riqueza de graminóides nas pastagens. A abundância da maioria dos grupos de animais não mostrou respostas consistentes ao fogo, exceto por uma diminuição em algumas populações de rãs nas pastagens. Esses resultados confirmam a alta resiliência da biota do Cerrado ao fogo, como esperado para os ecossistemas de savana em geral.
Alexsander defendeu que para a conservação da vida selvagem, além do que a ciência pode oferecer, questões de ética podem surpreender. O pesquisador concluiu a palestra mencionando o papel revolucionário de se ter compaixão pelo que não é humano.
Referências utilizadas na palestra:
Antunes, A.Z. 2005. Alterações na composição da comunidade de aves ao longo do tempo em um fragmento florestal do sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 13(1): 47-61.
__________. 2007. Riqueza e dinâmica de aves endêmicas da Mata Atlântica em um fragmento de floresta estacional semidecidual no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia 15(1): 61-68.
Antunes, A.Z.; Kanashiro, M.M. 2023. Uma avaliação da relevância do Sistema de Unidades de Proteção Integral para a Conservação dos Vertebrados Tetrápodes (Animalia: Chordata) no estado de São Paulo. Revista do Instituto Florestal 35(2): 209-227.
Durigan, G. et al. 2020. No Net Loss of Species Diversity After Prescribed Fires in the Brazilian Savanna. Frontiers In Forests And Global Change 3: 1-15. Doi 10.3389/ffgc.2020.00013