
28/02/2024
O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) possui coleção com mais de 4 mil fósseis de diferentes regiões do Brasil. O acervo, além de possuir grande potencial para divulgação científica, é um testemunho da história da pesquisa no estado de São Paulo.
“Os fósseis são objetos de estudo da paleontologia. São registros de vida passada preservados em rochas, reunidos para fins de pesquisa ou didáticos. O acervo do IPA inclui fósseis vegetais e animais”, explica o historiador Diego Grola, especialista ambiental do IPA. “O acervo corresponde a uma grande coleção de amostras que foram sendo incorporadas ao longo de décadas de estudos e pesquisas, representando uma parte da evolução da vida e da evolução geológica da Terra”, complementa o pesquisador científico Francisco Negri, também do Instituto.
O acervo é constituído de 2.572 fósseis de invertebrados, 920 de vertebrados e 750 de vegetais. Também possui amostras de organismos recentes para fins de comparação (444 bivalves atuais), além de cerca de 975 amostras de rochas sedimentares e espécimes da antiga coleção do Museu Paulista e outras não catalogadas por insuficiência de dados, que estão em estudo e/ou aguardando para serem processadas. Anexo ao espaço destinado ao acervo, há um laboratório de paleontologia e uma sala destinada para consulta, observação e estudo.
Breves recortes históricos
Além de constituir um importante repositório de fósseis, o acervo é testemunho das pesquisas realizadas desde o final do século XIX pela Commissão Geographica e Geologica de São Paulo (CGG) e pelos órgãos que a ela se seguiram (a exemplo do antigo Instituto Geológico), assim como da contribuição da instituição para a produção de conhecimento sobre o território paulista.
A CGG foi criada em 1886 com o objetivo de expansão da fronteira agrícola e fortalecimento da economia cafeeira, tendo como primeiro chefe o geólogo estadunidense Orville Derby, que teve um papel crucial nos levantamentos geológicos e no início do desenvolvimento das pesquisas paleontológicas em São Paulo. A partir das coletas pioneiras realizadas pelos geólogos da Comissão, foram reunidos os primeiros fósseis que dariam origem à coleção institucional: vertebrados (anfíbios, peixes, mamíferos e répteis), invertebrados (bivalves, braquiópodes, crustáceos e rastros de vermes) e vegetais (madeiras petrificadas ou silicificadas). O acervo atual conta com a Coleção Original de 1994 fósseis, iniciada naquela época.
Em 1998, o acervo recebe o nome de Sergio Mezzalira. Formado em História Natural na década de 1940, ingressou no então Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo e deu início à reorganização do acervo paleontológico da casa. O acervo foi ampliado significativamente, incluindo coletas em superfície (afloramentos) e em subsuperfície (testemunhos de sondagem de poços para captação de águas subterrâneas). Sua contribuição soma 504 exemplares de invertebrados (incluindo icnofósseis), 154 vertebrados, 350 vegetais e 220 fósseis do período Quaternário.
Em 2001, foi implantada no Acervo e Laboratório Paleontológico Sérgio Mezzalira a Coleção de Entrada, incluindo 1707 macrofósseis, sendo 1178 de invertebrados, 360 de restos de vertebrados e 169 de vegetais fósseis. Negri explica que uma coleção de entrada é o registro inicial (numeração/identificação) que as amostras de fósseis recebem ao serem incorporadas ao acervo. “Este registro, serve como referência para citações em livros, artigos, etc. Funciona como se fosse um “RG” do fóssil”, esclarece o pesquisador.
Museu Geológico
Até 2022, parte do acervo de fósseis estava em exibição no Museu Geológico “Valdemar Lefèvre” (Mugeo), então situado no Parque da Água Branca, na capital. A presença de fósseis autênticos foi fundamental para fazer deste museu um espaço de aprendizado de conceitos e construção de conhecimentos difíceis de serem aprendidos e construídos apenas em sala de aula ou na internet. A ampliação da coleção paleontológica institucional, a partir da atuação de Mezzalira, foi um fator fundamental para o sucesso do Museu, que passou a contar com fósseis de maior apelo estético e possibilitou exibições mais atrativas para o público. Espécimes particularmente impactantes, seja pela qualidade da fossilização, tamanho avantajado (ossos de baleia), ou pertencentes a táxons populares entre o público (dinossauros), foram fatores responsáveis por aumentar o interesse pela ciência, despertar vocações científicas e dar suporte para os estudos de gerações de estudantes que visitaram o espaço. Além disso, amostras representativas dos diferentes períodos do tempo geológico enriqueceram o desenvolvimento de atividades didáticas sobre temas relevantes, como evolução da vida na Terra, extinção de espécies, mudanças climáticas, entre outros.
Ainda que o relatório da CGG de 1906, que registra a criação do museu, não faça referência a fósseis, é possível que esse acervo estivesse sob sua guarda naquela fase inicial. Tanto o Mugeo quanto a coleção paleontológica institucional trilharam caminhos próprios, o que não significa que não tenham se cruzado ao longo do tempo. No início, o Mugeo era essencialmente um repositório das coleções de pesquisa institucionais. Nos anos 2000, pode ser descrito como lugar de memória e espaço de divulgação científica, responsável por salvaguardar e exibir a um público diversificado coleções que documentam a história da pesquisa científica em São Paulo.
O Mugeo encerrou suas atividades no Parque da Água Branca em 2022 e será futuramente instalado na unidade Vila Mariana do IPA.
A revista científica Derbyana, periódico científico do antigo Instituto Geológico, possui seção temática sobre avanços na paleontologia. O artigo “Coleção de fósseis do Instituto de Pesquisas Ambientais: histórico, publicações correlatas e uso didático”, que serviu de referência para essa matéria, foi publicado em 2023 no volume 44.
Notícias relacionadas
- Revista científica do IPA lança nova seção temática e aborda cartografia geomorfológica para o Antropoceno
- Elaboração do plano museológico, banco de dados com acervo online e exposição temporária foram destaques do Mugeo na Semana Nacional de Museus
- Hoehnea, revista científica de botânica do IPA, obtém indexação na base Scopus-Elsevier