
02/08/2023
O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) realizou na última terça-feira, 1º de agosto, o “Seminário sobre restauração das áreas de deslizamentos da Serra do Mar”. O evento interno da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (SEMIL) foi organizado em parceria com a Fundação Florestal (FF) e reuniu pesquisadores científicos, técnicos e profissionais da gestão de Unidades de Conservação (UCs) com o objetivo de definir diretrizes adequadas de ações para a restauração das áreas atingidas pelos deslizamentos ocorridos no último verão em São Sebastião. O Seminário aconteceu presencialmente no Plenário Paulo Nogueira Neto, na sede da SEMIL, na capital paulista, e teve transmissão online para a participação remota de funcionários do interior e do litoral do estado.
Em março, em reunião do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), o pesquisador científico do IPA Marco Nalon relatou as ações da instituição realizadas na região, desde a primeira resposta aos desastres, em caráter emergencial, fazendo o levantamento de risco geológico em auxílio às equipes de busca e resgate, o cadastramento e avaliação do risco residual das comunidades com o encaminhamento de famílias a novas habitações (determinando quais não deveriam ser reocupadas) e realizando o monitoramento intensivo de áreas não atingidas, até a definição da etapa futura no sentido da restauração ambiental, devendo ocorrer em conjunto com a FF. O Seminário ocorreu como um desdobramento desse primeiro trabalho.
Ao longo do dia foram apresentadas a situação atual e as medidas já tomadas na área atingida pelo desastre. Também foi discutida e proposta uma estrutura mínima de programas no interior do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), referente a monitoramento dos processos ecológicos e geotécnicos, restauração e manejo das áreas atingidas e pesquisa científica para a mitigação de impactos.
Os debates contaram com a participação do subsecretário de Meio Ambiente Jonatas Trindade. “O objetivo deste seminário é realizarmos uma discussão técnica e buscar a ação em relação à situação posta. Perdemos tempo e se não interferirmos agora, perdemos uma janela em relação ao período chuvoso em setembro. Precisamos definir ações realistas e apropriadas para o que precisa ser feito, levando em consideração as atribuições da nossa pasta”, pontuou. O titular da subsecretaria apresentou alguns casos de intervenções realizadas em outras UCs, como estruturas de drenagem, técnicas de diminuição da velocidade da água e contenção de sedimentos. Também falou sobre a importância de se manter a matéria orgânica na área afetada. Segundo ele, foram apenas algumas provocações para abrir as discussões. No entanto, ressaltou a necessidade de propostas de intervenção e solução imediata. “Precisamos de técnicas simples que não desconfigurem a UC, mas que tragam o mínimo de eficiência”, ponderou.
Além da contextualização dos deslizamentos ocorridos em fevereiro e suas consequências ao PESM, realizada por Diego Laranja, da FF, o seminário contou com palestras realizadas por pesquisadores do IPA sobre os aspectos geotécnicos para a restauração, os ecossistemas atingidos e o potencial de recuperação, o monitoramento de processos geológicos nas áreas atingidas e o monitoramento da regeneração da vegetação.
Laranja explicou que foi selecionada uma macro área a ser restaurada e realizada a classificação das cicatrizes. “Com base nessa classificação, separamos 8 áreas prioritárias para medidas corretivas de caráter mais imediato, correspondendo a um total de 50 hectares entre o Juquehy e a Barra do Sahy”, relatou. O diretor da Regional Litoral Norte da FF apresentou possíveis tecnologias para serem usadas para a contenção das encostas e revegetação, como a instalação de mantas biossintéticas associada a semeaduras e plantios de mudas.
Também foram debatidas quais as espécies mais adequadas para a restauração da área. O pesquisador científico do IPA Luiz Mauro Barbosa sugeriu como guia a publicação “Lista de espécies indicadas para restauração ecológica para diversas regiões do estado de São Paulo“.
O geógrafo do IPA Pedro Leal, do Grupo de Trabalho responsável pelo Plano de Ação do Programa de Gestão de Risco e Desastres relacionados a Eventos Naturais Período 2022-2025, relembrou a fase inicial do atendimento do IPA na área após os deslizamentos, com a função salvaguardar a vida de quem está no operacional (por exemplo bombeiros, que correm risco ao exercer sua atividade). Propôs intervenção geotécnica para fins de plantio e de segurança operacional e para áreas com visitação pública do PESM, garantindo a segurança dos usuários. A proposta foi corroborada na apresentação do pesquisador científico do IPA Cláudio Ferreira, também membro do Grupo de Trabalho. “O objetivo é restaurar a Mata Atlântica. Que o solo exposto volte a ter a vegetação. Vamos monitorando os processos até chegarmos nos resultados”, declarou o pesquisador.
O evento também teve uma palestra de Maria Teresa Diniz, diretora de Projetos e Programas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), que falou sobre as iniciativas de proteção às áreas habitadas e apresentou o projeto de reurbanização que vem sendo realizado na Vila Sahy.
Os encaminhamentos técnico-científicos do Seminário e recomendações estão sendo compilados para elaboração de um documento com o registro das discussões, o posicionamento institucional a respeito do tema e as diretrizes de ação para a UC e seu entorno.
Texto: Núcleo de Divulgação Científica/IPA
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