
26/07/2023
Em 26 de julho é celebrado o Dia Internacional para a Conservação do Ecossistema de Manguezais. O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), ciente da importância desse tipo de vegetação para a prestação de serviços ecossistêmicos e de sua vulnerabilidade, realiza pesquisas científicas que subsidiam sua proteção.
O Brasil possui a terceira maior área de manguezal do planeta. A geógrafa Nádia Lima, especialista ambiental do IPA, explica que os manguezais estão entre os ecossistemas mais produtivos e importantes do mundo, fornecendo inúmeros serviços ecossistêmicos para as sociedades e os sistemas costeiros, como a produção de alimentos, o controle de erosão e a retenção de sedimentos, a proteção contra vento e tempestades, a estabilidade da linha de costa, o estoque/remoção de CO2, a polinização, a manutenção da biodiversidade e a exportação de biomassa e, por fim, os benefícios culturais, como a recreação, o ecoturismo, a conservação da paisagem, entre outros. Apesar disso, as áreas de manguezais têm sido reduzidas, provocando perda de seus serviços ecossistêmicos. “Essas perdas podem ser atribuídas a vários estressores em diferentes escalas, desde ameaças localizadas de exploração de recursos até ameaças globais de mudança climática. Em muitos casos, o impacto pode ser potencializado quando se considera a soma desses fenômenos, impactando diretamente os serviços ecossistêmicos prestados,” argumenta.
Nádia é a primeira autora do artigo Impacts of Extreme Weather Event in Southeast Brazilian Mangrove Forest (Impactos de Eventos Climáticos Extremos em Manguezais do Sudeste Brasileiro), publicado neste mês no periódico científico Atmosphere, que também conta com a participação do pesquisador Gustavo Armani, também do IPA. O estudo analisou os danos causados após uma forte tempestade nos mangues do Sistema Costeiro Cananéia-Iguape, região que abriga o manguezal mais conservado do litoral paulista e que faz parte de um contínuo desse ecossistema que avança até o estado do Paraná. Desde 2008, o grupo de pesquisa do CNPq “Monitoramento Integrado de Manguezais”, do qual Nádia faz parte, vem monitorando a estrutura das florestas de mangue, com uso de parcelas permanentes, microclima, como também por meio de análise de imagens de satélites. Esse monitoramento já vinha evidenciado alterações na estrutura da floresta de mangue. Em 2019 a floresta foi atingida por um intenso evento climático, que provocou desfolhamento e marcas nos troncos das árvores. Em 2019, uma estação meteorológica instalada no manguezal registrou rajada máxima de vento de 58 km·h−1, classificada como vento forte na escala de Beaufort. Após o evento climático extremo, houve impactos catastróficos no manguezal, com mais de 90% de troncos mortos. E após três anos, a regeneração natural não ocorreu.
A pesquisa indica que eventos climáticos extremos continuaram a ocorrer ao longo das costas, alterando drasticamente a paisagem, os manguezais têm sido afetados por esses eventos e, dependendo do estado de saúde das florestas, podem ter dificuldades de recuperação. “Pesquisas como essa contribuem para um melhor conhecimento do ecossistema manguezal, auxiliando na identificação e quantificação da perda de serviços ecossistêmicos prestados e na análise de sua vulnerabilidade perante a dinâmica climática. Tende ainda a ainda a colaborar no entendimento da capacidade de resistência e/ou resiliência do manguezal, bem como poderá ajudar, posteriormente, na proposição de medidas de adaptação às mudanças climáticas para a zona costeira”, conclui Nádia. Veja o vídeo que a geógrafa gravou falando sobre o estudo.
Em outro artigo científico, publicado em 2021 na revista Sociedade & Natureza, estudando a mesma região, a geógrafa do IPA e os outros autores constataram que os manguezais conservados em Unidades de Conservação de Proteção Integral apresentam maior estabilidade térmica em termos de temperatura máxima, mínima e média do ar e a vegetação cumpre um melhor papel na redistribuição da energia dentro da floresta. O estudo indica, portanto, a importância dessas Áreas Protegidas na manutenção do bom estado de conservação dos manguezais e na estabilização do microclima.
Nádia Lima é doutora em geografia física pela Universidade de São Paulo (USP) e sua tese “Interação dos atributos climáticos nos manguezais do litoral sul de São Paulo e sua relação com os controles climáticos” recebeu o prêmio “Aziz Nacib Ab’Saber” como a melhor da área para o biênio 2014/2015.
Imagem: Nádia monitora dados de estação meteorológica em área de manguezal
Texto: Núcleo de Divulgação Científica/IPA
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