OBJETIVO

A Coleção do Herbário Dom Bento José Pickel, cuja sigla é SPSF, tem como principal foco conservar amostras representativas dos diversos tipos vegetacionais paulistas.

As amostras, ramos de plantas com flores e/ou frutos, são prensadas, desidratadas e organizadas de acordo com um sistema de classificação científico (taxonomia). Elas servem de referência para estudos científicos e técnicos, importantes para subsidiar políticas públicas na área ambiental, como a colaboração com o componente “vegetação” nos planos de manejo, a indicação de áreas a serem preservadas e o fornecimento de dados em processos de restauração ecológica e recuperação de áreas degradadas.

HISTÓRIA

O Herbário Dom Bento José Pickel (SPSF) tem sua origem no antigo Serviço Florestal do Estado de São Paulo. Idealizado por Alberto Löfgren, no fim do século 19 e início do século 20, o Serviço Florestal só foi criado em 1911, com vistas à conservação, manejo, conhecimento e à exploração metódica das florestas paulistas.

Após um período de reorganização e melhoria da infraestrutura da instituição, teve início, em 1927, uma modesta coleção de exsicatas junto ao Museu Florestal, setor que concentrava as principais pesquisas do órgão. Deram início à coleção os engenheiros silvicultor Mansueto Estanislau Koscinski e agrônomo Octávio Vecchi, respectivamente encarregado do referido museu e diretor geral do Serviço Florestal. Ambos deram contribuições relevantes à botânica paulista e à silvicultura, enquanto pesquisadores do Museu Florestal. Em 1931, a coleção foi indexada no Index Herbariorum. Em 1932, com o falecimento de Octávio Vecchi, Koscinski dá continuidade aos acervos do herbário e do museu.

Em 1942, é contratado o biologista Dom Bento José Pickel, monge beneditino que colabora na ampliação do acervo e desenvolve importantes pesquisas botânicas e silviculturais para a flora brasileira. Em 1951, após o falecimento repentino de Mansueto Estanislau Koscinski, Dom Bento Pickel é nomeado encarregado do Museu Florestal, denominado Museu Florestal Octavio Vecchi em 1948, e passa, com sua equipe de coletores, desenhistas e especialistas em madeiras, a cuidar do incremento e manutenção da coleção botânica, incorporando ao acervo coleções do nordeste do Brasil. Aposenta-se em 1960, quando o acervo botânico contava com 5.515 exsicatas.

Ao longo desse período, pequenas coleções doadas de outras fontes foram incorporadas ao acervo do herbário, destacando-se: Herbário da Escola de Pharmacia de Ouro Preto; Herbário de Botânica Florestal do próprio Serviço Florestal; Herbário da Seção de Introdução de Essências do SF; Herbário Octávio Vecchi – Flora Lenhosa do Estado de São Paulo; Herbário da Escola de Agronomia do Nordeste – Areia – Paraíba; e Herbário da Seção de Botânica e Ecologia do SF.

Após a aposentadoria e falecimento de Dom Bento, o herbário esteve inativo por 16 anos e, nesse ínterim, o Serviço Florestal dera origem, em 1970, ao Instituto Florestal, sucedido, em 2021, pelo Instituto de Pesquisas Ambientais, atual mantenedor da coleção.

Em 1976, o então biologista João Batista Baitello, contratado nesse mesmo ano, transfere o acervo biológico e bibliográfico do museu para a então Divisão de Dasonomia, Seção de Madeiras e Produtos Florestais, passando a reorganizar o acervo e exercer a sua curadoria até 1992.

Ainda em 1992, a curadoria foi entregue ao pesquisador, biólogo João Aurélio Pastore, que a exerceu até agosto de 2012; em primeiro de setembro desse mesmo ano, o biólogo e pesquisador científico João Batista Baitello volta a exercer a Curadoria do Herbário. Em 2021, o pesquisador científico Osny Tadeu de Aguiar assume a curadoria do Herbário Dom Bento José Pickel.

IMPORTÂNCIA e USOS

A coleção está sendo administrada para se consolidar como referência para a elaboração dos planos de manejo das unidades de conservação do Sistema Ambiental Paulista. Dados da pesquisa desenvolvida por Colli-Silva et al. (2016 e 2019) revelam que o SPSF é o herbário em cujo acervo encontra-se o maior número de espécimes coletados em áreas protegidas do estado de São Paulo.

O Herbário SPSF é vinculado ao INCT – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Herbário Virtual da Flora e dos Fungos. Também é credenciado como Fiel Depositário de Amostras de Componentes do Patrimônio Genético (Brasil 2006), portanto, cumpre a função de repositório de material-testemunho, utilizado em pesquisas científicas, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico, envolvendo acesso ao patrimônio genético.

Nos últimos anos, o herbário contribuiu significativamente com os projetos multi-institucionais, como a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo; a Flora do Brasil; Plantas Raras do Brasil; Livros Vermelhos, entre outros.

Entre os projetos desenvolvidos, está o Catálogo da Flora Conhecida em Unidades de Conservação de Proteção Integral do Estado de São Paulo. Realizado em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, possibilita o acesso a informações sobre a flora conhecida de algumas dessas unidades de conservação, compondo o “Catálogo de Plantas das Unidades de Conservação do Brasil” (disponível em: https://catalogo-ucs-brasil.jbrj.gov.br). O catálogo, como proposta geral, também será útil para o desenvolvimento de atividades educativas formais e não formais, no contexto de ciência cidadã.

O Herbário Dom Bento José Pickel (SPSF) também integra o projeto de avaliação, complementação, correção e/ou validação da base de dados de registros de ocorrência de espécies de Lauraceae ameaçadas de extinção no T20-São Paulo, dentro do Programa Nacional de Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção – GEF Pró Espécies.

Com ativa participação do acervo, publicou-se ainda livro ilustrado sobre “Plantas Pequenas do Cerrado: Biodiversidade Negligenciada” (versão digital disponível em: https://arquivo.ambiente.sp.gov.br/publicacoes/2018/12/plantaspequenasdocerrado.pdf).

O acervo e pesquisadores da equipe tiveram relevante contribuição no estudo químico de uma espécie de Lauraceae da Mata Atlântica, que resultou na descoberta de um composto natural, o Ácido Cóstico, terpeno isolado dos galhos de Nectandra barbellata Coe-Teixeira (Lauraceae), espécie popularmente conhecida como canela-amarela, nativa da Mata Atlântica dos estados de São Paulo e Espírito Santo. O composto revelou-se como um potencial candidato ao desenvolvimento de um novo medicamento para combater o Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Esses e demais resultados podem ser conferidos no artigo disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0045206819315536.

O herbário, através de seu acervo e pesquisadores, em colaboração com a Superintendência de Controle de Endemias – SUCEN, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, contribuiu para identificação das espécies de árvores, onde ocorre a reprodução de mosquitos que são vetores da Febre Amarela, na Serra da Cantareira. O trabalho será publicado com o título “Atributos físicos de ocos de árvores em bordas de Mata Atlântica (Serra da Cantareira): avaliando sua associação com a presença e abundância de Haemagogus leucocelaenus imaturos”.

A coleção é referência para pesquisa científica, através de seu acervo e da equipe de pesquisadores direta ou indiretamente vinculados ao herbário. Diversas novas espécies da flora brasileira, antes desconhecidas da ciência, foram descritas ou tiveram sua nomenclatura atualizada, como por exemplo 12 espécies da família Lauraceae e duas espécies da família Myrtaceae.

DESCRIÇÃO DO ACERVO

Em março de 2023, a coleção ultrapassou os 57 mil registros no livro de tombo. Destes, 54.253 registros já foram informatizados e disponibilizados na rede speciesLink, 2.943 incluídos com imagens.

Esses quantitativos estão em constante atualização, uma vez que o acervo é incrementado por coletas de projetos em áreas protegidas do estado de São Paulo, doações e permutas e atualizado por empréstimos, visitas de especialistas, revisores e pós-graduandos monografistas. Com tal montante de registros, é a sexta coleção botânica do estado de São Paulo e a que conserva o maior número de espécimes coletados em áreas protegidas paulistas.

A maior representatividade do acervo advém das unidades de conservação da atual Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, que abrigam os diferentes tipos de vegetação do estado, especialmente nos domínios das Florestas Ombrófila Densa e Mista, Estacional Semidecidual e Cerrado, abrangendo distintos tipos de solos, climas e altitudes.

A coleção engloba coletas em todos os tipos vegetacionais paulistas (87% do seu acervo foi coletado nesses ambientes), com destaque para a flora arbórea de Spermatophyta, contendo mais de 7.200 espécies, 311 famílias e 1.750 gêneros. As maiores famílias do acervo são: Lauraceae, Myrtaceae, Fabaceae, Asteraceae, Melastomataceae, Rubiaceae, Solanaceae e Euphorbiaceae. As coleções de Lauraceae (2.445 registros, 15 gêneros e 125 espécies, das quais 35 ameaçadas de extinção) e Myrtaceae (3.128 registros, 25 gêneros e 400 espécies, 41 em listas de espécies ameaçadas de extinção) estão entre as maiores do estado de São Paulo, grande parte proveniente do esforço dos taxonomistas especialistas nestas famílias e vinculados à coleção. No momento, está sendo realizada a atualização de todas as espécies da família Myrtaceae presentes no acervo.

O herbário preserva e mantém atualizada, continuamente, uma coleção de espécimes Typus. Número de Typus atual 116, sendo: Holótipos: 13; Lectótipos: 01; Isótipos: 30; Parátipos: 71; Topótipos: 01.

Em 2018, uma coleção que compreende 1109 exsicatas dos gêneros Eucalyptus e Corymbia, de diversas origens e procedências, foi regularizada e incorporada ao acervo do Herbário Dom Bento José Pickel (SPSF), que passa a ter uma das melhores coleções envolvendo os gêneros Eucalyptus e Corymbia no estado de São Paulo.

ACESSO À COLEÇÃO – VIRTUAL

Desde 2004, a coleção faz parte da rede speciesLink, banco de dados desenvolvido e fornecido gratuitamente pelo Centro de Referência em Informações Ambientais – CRIA, com mais de 95% dos seus dados disponíveis para consultas on-line. O banco de dados é atualizado continuamente e, a cada mês, são enviadas ao menos duas atualizações ao CRIA. A coleção pode ser consultada pelo link: https://specieslink.net/.

ACESSO À COLEÇÃO – PRESENCIAL

A coleção pode ser consultada presencialmente. O Herbário Dom Bento José Pickel (SPSF) funciona em dias úteis e está aberto a visitas.

Recomendamos o agendamento prévio pelo e-mail: herbariospsf@sp.gov.br.

ATIVIDADES

Dentre as atividades de rotina do herbário, são recebidos pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa, das redes pública e privada; são realizados empréstimo e doação de acervo, contribuindo para pesquisas e enriquecimento de outras coleções científicas.

Além das ações diretamente relacionadas à gestão do acervo, a equipe do Herbário SPSF atende a solicitações de avaliação de fitossanidade de exemplares arbóreos, localizados nas unidades de conservação da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, bem como ao Ministério Público, para apoio no monitoramento de Planos de Recuperação de Áreas Degradadas.

LOCALIZAÇÃO

IPA – Unidade Horto Florestal, Prédio 79.

CONTATOS

Herbário (herbariospsf@sp.gov.br)

CURADOR

Coleções do IPA