10/09/2025

Na última quinta-feira, dia 28 de agosto, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) promoveu uma palestra on-line com o tema “Resiliência Verde: estratégias das plantas para sobreviver ao calor e à poluição”, ministrada por Geane Martins, doutoranda no programa de pós-graduação da instituição.

Assim como os seres humanos são afetados por doenças e condições ambientais adversas, as plantas também adoecem e precisam de mecanismos para resistir. O evento abordou os desafios enfrentados pelas plantas em ambientes urbanos, como os remanescentes de Mata Atlântica da cidade de São Paulo, que sofrem diretamente os impactos do aquecimento global e da poluição atmosférica.

A Mata Atlântica, que originalmente cobria cerca de 15% do território brasileiro, hoje possui menos de 12% de sua área original. Grande parte dessa vegetação remanescente está fragmentada. Essa fragmentação, segundo Geane, torna a floresta mais vulnerável. Em especial, abre espaço para espécies pioneiras, plantas de crescimento rápido que colonizam áreas degradadas e preparam o solo para espécies mais sensíveis e de vida longa. Esse processo é conhecido como sucessão ecológica, vital para a regeneração das florestas. No entanto, com as condições ambientais cada vez mais extremas, até mesmo as pioneiras enfrentam dificuldades para se estabelecer.

Durante a palestra, Geane destacou dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que alerta para um aumento progressivo da temperatura média global. “Desde o período pré-industrial, já observamos aumento de 1° C, e a previsão é de 1,5° C até 2050”, afirmou.

Essa elevação impacta o ciclo hidrológico, agrava o estresse hídrico nas florestas e, combinada à urbanização desenfreada, resulta em maior liberação de poluentes no ar. Nas grandes cidades, como São Paulo, a vegetação urbana está continuamente exposta a partículas contaminantes oriundas da queima de combustíveis fósseis, desgaste de pneus, freios e poeiras suspensas.

Mecanismos de sobrevivência

Um dos destaques da palestra foi a explicação detalhada dos mecanismos de defesa das plantas, especialmente sua capacidade de retirarem gases e metais pesados do ambiente e armazená-los em seus tecidos, contribuindo para a regulação climática e descontaminação do solo e do ar.

Esse sequestro, porém, exige complexos mecanismos antioxidantes das plantas. A pesquisadora explicou como a exposição a metais pesados e temperaturas elevadas pode gerar espécies reativas de oxigênio (ROS), substâncias oxidantes que causam danos celulares. Plantas mais resistentes ativam enzimas e compostos como a glutationa para neutralizar esses danos e continuar crescendo.

Geane compartilhou os resultados de sua pesquisa de mestrado, intitulada “Níveis de tolerância de espécies da floresta Atlântica ao excesso de metais e elevação da temperatura”. O estudo foi realizado nas câmaras climatizadas do Laboratório de Estudos Ambientais do IPA, simulando dois cenários: o clima atual e um cenário futuro com maior calor e concentração de poluentes. Foram testadas duas espécies da Mata Atlântica: Croton floribundus (pioneira) e Esenbeckia leiocarpa (não pioneira). A primeira apresentou maior tolerância ao estresse oxidativo, absorvendo metais como zinco e cobre e apresentando menor dano celular, maior produção de biomassa foliar e melhor desempenho em altas temperaturas. Já a E. leiocarpa demonstrou maior sensibilidade, com menor capacidade de defesa antioxidante.

Esses resultados demonstram que espécies pioneiras podem ter maior resiliência e, portanto, ser estratégicas para restauração ecológica, especialmente em áreas contaminadas e urbanas.

“Precisamos pensar na floresta como um todo. Avaliar como cada espécie responde é fundamental para que a restauração seja eficiente e resiliente. A ciência está aqui para ajudar a tomar decisões mais assertivas”, conclui.

 

Assista à palestra na página de Youtube do IPA: