
11/08/2025
Foto: Arquivo da Prefeitura de Santos/Susan Hortas
Nas últimas semanas, a costa brasileira enfrentou uma série de eventos extremos associados à combinação de ressacas com maré alta anômala. Esses fenômenos resultaram em inundações costeiras, prejuízos estruturais e episódios significativos de erosão, especialmente em municípios como Santos, no litoral do estado de São Paulo.
No município, o impacto foi evidente: o mar avançou sobre a faixa de areia e trechos da avenida da orla foram interditados por conta da força das ondas. No Porto de Santos, um dos mais movimentados da América Latina, operações chegaram a ser parcialmente suspensas entre os dias 29 e 30 de julho. A água invadiu, pistas e até algumas edificações costeiras.
A pesquisadora científica do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) Celia Regina Souza explica que o fenômeno foi provocado pela atuação de um ciclone extratropical próximo à costa do Rio Grande do Sul.
A formação gerou ventos intensos de norte/noroeste em direção ao Sudeste, especialmente no dia 28 de julho. Esses ventos empurraram grandes volumes de água em direção ao continente, elevando o nível do mar e provocando ondas expressivas, mesmo sob condições de maré de quadratura (período em que os efeitos gravitacionais do Sol e da Lua tendem a se anular parcialmente, fazendo com que a maré atinja sua menor amplitude, que é a diferença de altura entre as marés alta e baixa).
“Esse tipo de evento é comum no outono e no inverno, mas tem se tornado mais frequente e intenso nas últimas décadas, possivelmente em função das mudanças climáticas”, afirma a especialista. “Temos bancos de dados que mostram isso: esses eventos têm aumentado em frequência, intensidade e magnitude neste século. É uma tendência preocupante. As mudanças climáticas aumentam a frequência e intensificam os ciclones, eles são uma estratégia que a natureza usa para compensar o aquecimento da atmosfera e do oceano. A elevação do nível do mar, apesar de lenta, influencia diretamente na altura das marés e no alcance das ressacas”, explica Celia.
Segundo ela, os impactos ambientais e urbanos de uma ressaca como a ocorrida em Santos são imediatos e graves. “Temos a erosão costeira e as inundações costeiras como principais consequências. Isso causa destruição da orla, além de afetar diretamente o tráfego, atividades econômicas e serviços essenciais nas áreas afetadas”, alerta.
Atuação do estado de São Paulo frente aos eventos extremos no litoral
Diante do avanço das mudanças climáticas e da intensificação de eventos como esses, o Instituto de Pesquisas Ambientais tem desempenhado um papel fundamental no monitoramento e mitigação de riscos costeiros. O trabalho da instituição se articula por meio de ações estratégicas que buscam integrar ciência, gestão pública e proteção da população. A pesquisadora aponta algumas das estratégias e instrumentos utilizados para lidar com esses eventos.
O Programa de Monitoramento da Erosão Costeira, dentre outras ações, realiza atualizações periódicas do Mapa de Risco de Erosão e Inundação Costeira. A versão mais recente foi lançada em 2025. O mapa é uma ferramenta que reúne dados sobre trechos do litoral mais vulneráveis, servindo de apoio para decisões de planejamento urbano e gestão de riscos.
O IPA também participa de políticas públicas estaduais e federais voltadas à conservação e manejo costeiro. Entre elas, estão o Plano de Prevenção e Defesa Civil para Ressacas e Inundações (PPDC-Ressacas), o Gerenciamento Costeiro do Estado de São Paulo (GERCO) e o Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC). Cada uma dessas iniciativas busca integrar dados científicos à formulação de políticas sustentáveis de longo prazo.
Outro eixo importante de atuação do IPA é a capacitação de defesas civis, gestores municipais e comunidades vulneráveis, por meio de oficinas, treinamentos e repasse de informações técnicas. O objetivo é fortalecer a preparação e resposta local diante de desastres naturais.
“A intensificação dos eventos extremos evidencia a urgência da atuação conjunta entre poder público, comunidade científica e sociedade civil na construção de um litoral mais resiliente”, conclui a pesquisadora.
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