
27/08/2025
Imagem: Macacos-prego do Parque Estadual de Águas da Prata com alimento obtido de seres humanos
No dia 31 de julho, a agência de notícias Bori divulgou estudo publicado em um dos periódicos científicos do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), a Revista do Instituto Florestal, onde pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas monitoraram os impactos da alimentação dada por humanos a macacos-prego que habitam o Parque Estadual de Águas da Prata, em São Paulo.
Leia abaixo o texto completo da matéria publicada na página da Bori:
“Estudo alerta para riscos da alimentação de macacos-prego por visitantes em parque paulista
Um novo estudo analisou os impactos da alimentação dada por humanos em macacos-prego no Parque Estadual de Águas da Prata, em São Paulo (a 225 km da capital paulista). Atualmente, 26 indivíduos compõem um único grupo de macacos-prego no parque. A observação direta permitiu identificar uma média de 7,7 eventos de alimentação antrópica por hora, ou seja, momentos em que os animais recebem alimentos diretamente de visitantes ou consomem alimentos das lixeiras.
“Entre os alimentos registrados, estavam salgadinhos industrializados, refrigerantes e até situações de compartilhamento de utensílios, como colheres, entre humanos e macacos. Embora essas situações mais extremas representem apenas 4% dos eventos observados, acendem um alerta sobre a conduta dos visitantes”, conta a autora do estudo Natascha Kelly Alves Scarabelo, bióloga da Unicamp e membro do Laboratório de Ecologia e Comportamento de Mamíferos (LAMA) da instituição, orientada por Eleonore Setz. O estudo foi publicado nesta quinta (31) na Revista do Instituto Florestal.
A metodologia da pesquisa envolveu o uso do scan sampling (ou varredura), técnica que registra as ações dos indivíduos visíveis em intervalos regulares. As observações foram realizadas em 24 dias de visita ao parque, totalizando 66 horas de contato com os animais. Também foram coletadas amostras de fezes para análise da dieta dos macacos, complementando a caracterização do comportamento alimentar. Para identificar os indivíduos do grupo, a pesquisadora utilizou padrões da pelagem, coloração, faixa etária, comportamento e características físicas únicas, como ausência de cauda.
Os dados do estudo, inédito no local, ajudam a compreender a influência da presença humana no cotidiano desses primatas. “A alimentação antrópica pode causar efeitos semelhantes aos de uma dieta inadequada em humanos: desnutrição, deficiências nutricionais, aumento de triglicérides e sódio no sangue, e comprometimento do sistema imunológico. Mas os efeitos não se limitam à saúde física. O oferecimento constante de comida altera o comportamento dos macacos. Com maior concentração na área urbana do parque, os animais ficam mais expostos a riscos como atropelamentos, choques elétricos, ataques de cães e maior vulnerabilidade ao tráfico de animais. Além disso, tornam-se menos arredios com humanos, o que facilita interações perigosas e agressões”, explica Natascha Scarabelo.
Ainda é possível haver mudanças na hierarquia e nas relações sociais dos macacos. Como o alimento antrópico costuma ser escasso e localizado, há maior chance de conflitos entre indivíduos. Machos dominantes podem agredir membros subordinados que recebem comida primeiro, e os filhotes podem deixar de aprender habilidades básicas de forrageamento ao obter alimento dos humanos.
Outros impactos preocupantes incluem o aumento da população, uma vez que a oferta constante de comida pode reduzir o efeito dos invernos secos na taxa de reprodução dos animais e resultar em uma reprodução exacerbada, bem como e a alterar o padrão de atividade dos animais, que se tornam mais sedentários, ao não precisar buscar alimento de forma natural. Há ainda o risco de que os primatas desenvolvam dependência alimentar dos humanos, o que pode levar à fome e mortalidade, quando esse fornecimento deixar de ocorrer.
Do ponto de vista sanitário, o contato próximo com pessoas representa um risco adicional: a transmissão de doenças. Vírus comuns em humanos, como o herpesvírus, podem ser letais para espécies de primatas como os saguis. A proximidade sem controle, portanto, coloca em risco tanto a saúde animal quanto a conservação da espécie.
Para minimizar esses impactos, a autora defende ações de educação ambiental, especialmente em dias de maior visitação. Sugere ainda a capacitação de funcionários do parque e a instalação estratégica de placas informativas com base nos dados de uso do espaço levantados no estudo. “Educar é essencial para evitar o oferecimento de alimentos e promover condutas adequadas durante as interações com a fauna silvestre”, afirma Scarabelo. O trabalho recebeu apoio financeiro do CNPq.”
Fonte: Agência Bori
Seguem abaixo outras pesquisas publicadas em revistas científicas do IPA divulgadas pela Bori:
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