
19/08/2025
A análise usando imagens de satélite mostra como restaurar a vegetação nativa em áreas próximas aos cultivos pode aumentar em muito a sua produtividade
Um estudo conduzido em parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e a Universidade de São Paulo (USP), com participação de integrantes do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), foi contemplado com a principal premiação da 7ª edição do Prêmio MapBiomas – 2025, recebendo o primeiro lugar, dentre 180 trabalhos selecionados, com um estudo inovador que demonstra como a recomposição de vegetação nativa pode gerar ganhos bilionários para a agricultura paulista.
O especialista ambiental do IPA, Rafael Chaves, recebeu a premiação por parte da Semil, pelo trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Biota Síntese, em parceria com a USP e outras instituições, e com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O pesquisador Eduardo Moreira, coautor do estudo, recebeu o prêmio pela USP.
O trabalho, que contou ainda com a colaboração de 12 coautores, e 26 participantes de reuniões de síntese, foi desenvolvido em uma sistemática de coprodução de ciência e política pública. A pesquisadora do IPA Natália Ivanauskas também assina o estudo, juntamente com colaboradores da Semil (Camila Abreu e Cristina Azevedo), bem como pesquisadores da USP, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), incluindo o diretor do Biota Síntese Jean Paul Metzger e o orientador da pesquisa Danilo Boscolo.
O estudo, publicado digitalmente como nota técnico-científica da série Biota Síntese, tem o nome “Potencial do Serviço Ecossistêmico de Polinização no Estado de São Paulo”, e abordou o valor econômico e estratégico da polinização para a biodiversidade e para a agricultura.
A pesquisa inovou ao desenvolver um modelo espacial que supera limitações de trabalhos anteriores sobre o tema, incorporando a estrutura das paisagens, a diversidade de polinizadores e o contexto ambiental dos cultivos como fatores que afetam o fluxo dos polinizadores da vegetação nativa para as lavouras. Analisando imagens de satélite, pixel a pixel, os pesquisadores mapearam as áreas agrícolas (demanda de polinização) e as áreas de vegetação nativa (oferta de polinização), avaliando o fluxo de polinizadores na paisagem. Isso permitiu avaliar o efeito que a restauração ecológica ao redor dessas lavouras teria no aumento desse fluxo, sem a necessidade de suprimir a produção agrícola, mas pelo contrário: intensificando essa produção. Essa abordagem permite identificar áreas estratégicas, como margens de rios, fragmentos e bordas de propriedades, que podem ser recuperadas para ampliar a oferta de polinizadores e beneficiar a produtividade das lavouras.
Segundo o estudo, a restauração da vegetação nativa em áreas agrícolas poderia aumentar em até R$ 4,2 bilhões anuais o Produto Interno Bruto (PIB) paulista. A presença de matas, cerrados e campos próximos aos cultivos amplia a presença e diversidade de polinizadores, sobretudo abelhas, aumentando a quantidade dos frutos e grãos cultivados, mas também seu o tamanho e qualidade.
Apenas com as lavouras de soja, laranja e café, os ganhos seriam de R$ 1,4 bilhão, R$ 1 bilhão e R$ 660 milhões anuais, respectivamente. Outros cultivos permanentes (como goiaba, abacate e manga) poderiam somar mais R$ 280 milhões, enquanto temporários (como tomate, amendoim e feijão) responderiam por um acréscimo de R$ 820 milhões.
O trabalho também identificou desafios para a implementação prática do serviço, como a homogeneidade das paisagens agrícolas em regiões críticas, como o Médio Paranapanema. Nessa região, extensos monocultivos de soja em paisagens com insuficiente vegetação nativa preservada nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e isolamento dos fragmentos de mata, desfavorecem a capacidade local de provisão de polinização. A boa notícia apontada no estudo é que essa limitação poderia ser mitigada com o aumento da polinização a partir da restauração de ecossistemas e adoção de práticas amigáveis a polinizadores.
“Esses números demonstram como as soluções baseadas na natureza podem beneficiar simultaneamente a agricultura, a renda dos produtores e a proteção da biodiversidade”, afirma Rafael Chaves, que também é vice-diretor do Biota Síntese. O subsecretário de Meio Ambiente, Jônatas Trindade, ressaltou a importância do prêmio para a política pública ambiental paulista: “Esse é um reconhecimento ao trabalho de excelência desenvolvido por nossas equipes, em parceria com a academia, que traz subsídios tanto para a melhoria das políticas públicas atuais quanto para a formulação de novas políticas.” Também merece destaque o fato de recomendações do estudo já terem sido incorporadas ao Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC), recém-lançado pelo Governo do Estado em junho de 2025.
A publicação (https://doi.org/10.11606/9786587773704) traz mapas detalhados do estado de São Paulo, indicadores de potencial de provisão e dependência por cultura e recomendações para gestores públicos e agricultores sobre como alinhar produção e conservação, orientando a implantação de políticas e ações locais com base em evidências.
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