28/08/2025

Na última quinta-feira, 21 de agosto, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) promoveu a palestra “Impacto dos diferentes habitats na brioflora em parques urbanos de regiões com temperaturas elevadas na cidade de São Paulo“, ministrada pela pesquisadora científica Sandra Visnardi. A atividade integrou o ciclo de debates científicos promovido pelo Instituto, aconteceu em ambiente online e contou com mais de 40 participantes.

A apresentação teve como foco a relação entre a fragmentação da vegetação urbana, as características microclimáticas dos parques e a presença de briófitas (conjunto de plantas avasculares, como musgos e hepáticas).

As áreas verdes são imprescindíveis para a manutenção da biodiversidade na capital paulista. As árvores trazem benefícios fundamentais, como o sequestro e a retenção do carbono, o conforto térmico, a regulação da temperatura da superfície, a drenagem urbana e a redução da poluição do ar. Também moderam os efeitos das ilhas de calor. Pouca arborização ou ausência dela se relaciona à ocorrência de ilhas de calor, que se concentram nas regiões centrais e leste da cidade de São Paulo.

As briófitas preferem ambientes com alta umidade e baixa temperatura, estando adaptadas à baixa luminosidade, sendo, portanto, excelentes indicadores das variações nessas condições ambientais, inclusive da poluição no ambiente.

Segundo a palestrante, a fragmentação dos habitats vegetais na cidade de São Paulo aumenta o risco de extinção dessas espécies. “Quanto mais isolado e desconectado for um fragmento de vegetação, menor a resiliência da brioflora local”, explicou a pesquisadora.

Comparação entre parques

Durante a palestra, Sandra apresentou dados de pesquisa que compara as populações de briófitas do Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns, na Zona Norte da cidade, e do Parque Estadual do Belém Manoel Pitta, na Zona Leste.

O estudo revelou que a brioflora é mais rica em espécies no Parque da Juventude, com trechos extensos de dossel contínuo, estando situado em área sob ilha de calor moderada, com temperatura mais amena, maior cobertura vegetal e sendo menos populosa. Por outro lado, a brioflora é mais pobre em espécies no Parque do Belém, com vegetação mais esparsa, estando situado em área sob ilha de calor forte, com temperatura mais elevada, menor cobertura vegetal e sendo mais populosa. As briófitas também preferem as áreas verdes às áreas antrópicas, ainda que arborizadas, existentes dentro dos limites de ambos os parques.

A estrutura e a continuidade da vegetação nos parques urbanos têm influência direta sobre a diversidade de briófitas. Mais do que a presença isolada de árvores, é a formação de áreas densamente arborizadas e conectadas que cria as condições ideais para o desenvolvimento dessas espécies. “Frescor está diretamente relacionado à arborização. E para a biodiversidade de briófitas, isso é essencial”, demonstrou Sandra.

Os dados do estudo, que contribuem para o monitoramento dos recursos naturais, demonstram a importância da vegetação nos parques e ao redor deles, a fim de mitigar os efeitos da ilha de calor urbana na biodiversidade das briófitas.

Clima, disponibilidade hídrica e corredores verdes

Sandra reforçou a relevância desses dados no contexto das mudanças climáticas. O aumento das ilhas de calor nas zonas densamente edificadas tem alterado o regime de chuvas e causado secas prolongadas. Além disso, o desmatamento na Amazônia influencia os padrões de precipitação na capital paulista, agravando a crise hídrica.

Nesse cenário, os corredores ecológicos são considerados fundamentais não apenas para a conservação da biodiversidade, mas também para a regulação climática. “A brioflora prefere ambientes mais úmidos e frios, e a vegetação arbórea é o principal fator que proporciona essas condições no clima urbano de São Paulo”, destacou.

Ela defendeu a criação de corredores verdes entre fragmentos vegetacionais e trouxe sugestões como conectar o Parque do Belém ao Parque Ecológico do Tietê e o Parque da Juventude ao Aeroporto Campo de Marte ou mesmo à Serra da Cantareira, maior remanescente de Mata Atlântica da região metropolitana.

 

Assista à palestra pela página do IPA no Youtube: