
03/06/2025
O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) integra projeto que monitora o comportamento do jacarandá azul (Jacaranda mimosifolia) em vários ambientes e localidades do planeta. A espécie, também conhecida como jacarandá mimoso, é nativa da América do Sul e se tornou muito popular em projetos de arborização urbana do mundo todo. O Projeto Jacarandá Azul tem o objetivo de compreender como o clima afeta a árvore. Para isso, envolve pesquisadores científicos de diversos países e prevê a participação popular na coleta de dados por meio da ciência cidadã.
“O projeto se utiliza da fenologia, campo da botânica que estuda as fases recorrentes do ciclo de vida das plantas para acompanharmos os períodos dos principais pontos de desenvolvimento dessas plantas, como o brotamento da folha e do botão, a abertura das flores, formação dos frutos e a queda foliar”, explica Thalita Surian, uma das pesquisadoras do projeto e aluna de iniciação científica orientada por Maria Tereza Grombone-Guaratini, pesquisadora do Departamento de Usos Sustentável dos Recursos Naturais (DUSRN) do IPA. “Na época da floração, o monitoramento é mais intenso, sendo feito quinzenalmente; já no período da frutificação, o monitoramento passa a ser mensal, pois a mudança do fruto do estágio verde para o maduro demora mais tempo”, relata Maria Tereza.
Pelos dados coletados, já é possível observar indícios de que as mudanças climáticas podem estar afetando o comportamento fenológico da espécie. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as árvores da espécie nas ruas e avenidas apresentam comportamento diferente daquelas que estão em parques. Em Rio Claro, interior paulista, os pesquisadores constataram que sua floração é mais prolongada do que nas capitais São Paulo e Belo Horizonte e correlacionam tal diferença a prováveis fatores climáticos, como a temperatura mais alta.
Na frente de pesquisa histórica, buscam-se registros em acervos digitalizados e arquivos. O projeto coleta registros a espécie publicados na mídia impressa, por meio de rigorosa pesquisa em jornais e revistas. As fontes de mídias sociais, como registros no Instagram, também são utilizadas. “Rastreamos ocorrências globais do Jacaranda mimosifolia e, até o momento, foram catalogadas 2.050 postagens, sendo 69% georreferenciadas, abrangendo 60 países. Esse banco de dados inédito permitiu análises das frequências de postagens mensais e anuais, sugerindo que essa ferramenta pode ser eficaz tanto para avaliar o envolvimento da comunidade quanto para monitorar a fenologia urbana e respostas das espécies às variações climáticas”, informa o biólogo Leonardo Ganz, um dos pesquisadores do projeto e também aluno de iniciação científica de Maria Tereza.
A fenologia é muito importante para entendermos como os ecossistemas e as pessoas que fazem parte deles estão se adaptando às mudanças climáticas. “Neste projeto há um esforço interdisciplinar para combinar métodos das ciências e das artes/humanidades para construir melhores compreensões de como as relações da pessoas com os jacarandás mudaram ao longo do último século”, argumenta Michelle Bastian, professora sênior em Humanidades Ambientais da Universidade de Edimburgo, Escócia. Mas por se tratar de uma pesquisa global, é preciso tomar cuidado para que determinados filtros culturais não atrapalhem a interpretação dos dados. “Avaliamos fatores como o tempo, a sazonalidade, como isso molda a abordagem á fenologia dos jacarandás. Por exemplo, como pesquisadora, estou muito interessada em como as suposições sobre o modelo de quatro estações do Hemisfério Norte podem atrapalhar a compreensão do que está acontecendo nos sistemas do Hemisfério Sul”.
A participação ativa do público na coleta de dados é uma ferramenta essencial para a manutenção do banco de dados. “A fenologia está muito conectada com o dia a dia das pessoas. Se conseguirmos envolver as pessoas nesse entendimento, podemos gerar observações em uma escala global”, ressalta Patrícia Morellato, coordenadora do projeto e diretora do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima). “Não basta simplesmente encontrar uma boa fotografia e colocar no sistema. Para manter a credibilidade dos dados, todos os materiais e fontes são minuciosamente checados”, salienta Thalita.
Também estão previstos eventos presenciais no âmbito do projeto. “Existem pessoas que frequentam parques, que possuem interesse em botânica e querem nos ajudar com a pesquisa”, comenta Maria Tereza.
O projeto conta com parcerias entre pesquisadores da África do Sul, Austrália, China e Escócia, dentre outros países que se uniram para formar uma rede global de observação, e tem apoio da Fapesp (2022/07735-5) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (303563/2022-3).
A iniciativa foi divulgada no Boletim CBioClima na edição bimestral de março e abril.
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