25/04/2025

O pesquisador científico do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) de São Paulo Denilson Fernandes Peralta integra a equipe de projeto que busca reduzir as lacunas do conhecimento da biodiversidade amazônica, através de coletas botânicas, e fortalecer redes colaborativas com foco na região Norte do Brasil. Denilson é botânico especialista em plantas sem flores, frutos e sementes que se reproduzem por esporos, como as briófitas. Nos dias 23 e 24 de abril, ele esteve presente no 1º Encontro do Projeto Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto do Rio Negro, que aconteceu no Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus/AM.

Tsiino Hiiwiida significa Cabeça do Cachorro em Baniwa e representa o compromisso do projeto com o protagonismo indígena, tendo indígenas trabalhando junto com pesquisadores não indígenas. Liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o projeto conta a participação de universidades e institutos de pesquisa e foi um dos 22 selecionados no edital Expedições Científicas, do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Durante o Encontro, pesquisadores, militares e representantes de povos indígenas envolvidos no projeto discutiram desafios para a realização de pesquisa em regiões de difícil acesso, características geográficas e da biodiversidade da região do Alto Rio Negro conhecida como Cabeça do Cachorro, tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Venezuela, onde serão realizadas expedições científicas em parceria com as comunidades.

“A finalidade desse primeiro encontro é uma apresentação conjunta das diferentes áreas de estudo que compõem o projeto, planejamento estratégico e organização do cronograma das expedições, além de estreitar a relação com o CMA, importante parceiro na operacionalidade do projeto com o apoio logístico”, explica o pesquisador do Inpa e coordenador do projeto Charles Zartman.

Para ele, o projeto é um marco na ciência brasileira ao unir pesquisadores, comunidades indígenas e forças militares na missão de revelar a biodiversidade ainda desconhecida de uma das regiões mais remotas da Amazônia e que possui uma das maiores diversidades étnicas – 24 povos indígenas – e uma das maiores populações indígenas do Brasil. Ao integrar conhecimento científico, saberes tradicionais e logística estratégica, a iniciativa inovadora fortalece a presença do Estado na tríplice fronteira e amplia as fronteiras do conhecimento sobre um dos territórios mais biodiversos e culturalmente ricos do planeta.

Para o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, essa parceria é estratégica, permitindo chegar mais longe e mais profundamente na Amazônia. A maioria das pesquisas no bioma está concentrada próximas a rios e a áreas onde existe alguma infraestrutura. “Isso quer dizer que uma parte grande da Amazônia permanece pouco conhecida. Com o apoio e participação direta de organizações como o CMA e das comunidades indígenas, isso vai permitir que nossas equipes cheguem mais longe e nas regiões mais distantes da Amazônia”, destacou, complementando que não se pode imaginar em proteger um patrimônio sem conhecê-lo, e a pesquisa intercultural é fundamental nesse processo.

O Chefe do Estado-Maior do CMA, General de Brigada Calderaro, ressaltou a presença do Exército na Amazônia Ocidental, em particular na Cabeça do Cachorro, lembrando que a defesa nacional extrapola o homem com fuzil. “Passa também pela presença na área científica e no domínio de conhecimentos que são necessários para todos nós”, disse Calderaro.

Coleta de cogumelo na Serra Bela Adormecida. Foto Charles Zartman/ Inpa


Ampliação do conhecimento

O Projeto Tsiino Hiiwiida é um dos projetos contemplados pela Iniciativa Amazônia+10 para apoio de expedições científicas voltadas à ampliação do conhecimento sobre a sociobiodiversidade e a biodiversidade amazônica. O objetivo do edital é preencher duas lacunas importantes do conhecimento científico sobre a região, uma geográfica e outra taxonômica, ciência que estuda a classificação e nomenclatura dos seres vivos, além de expandir as pesquisas sobre a diversidade sociocultural dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia.

A equipe do projeto é composta por pesquisadores de oito instituições de pesquisa de diferentes estados brasileiros (Inpa, IPA, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Instituto Federal do Maranhão, Universidade Federal da Paraíba e Universidade de Brasília) e uma da Inglaterra (Natural History Museum). A iniciativa conta com o financiamento das agências de fomento dos respectivos estados e país: Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e UK Research and Innovation (UKRI).

Na Iniciativa Amazônia+10 foram aprovados 22 projetos, que contemplam 60 localidades pouco abordadas pela comunidade científica e serão estudadas por um período de até 36 meses. Entre elas estão as terras indígenas, reservas de desenvolvimento sustentável e extrativistas e outras regiões de difícil acesso.

Fonte: Inpa