
23/12/2024
Foto: Tauató-pintado, tipo raro de gavião florestal, uma das espécies ameaçadas de extinção / Crédito: Fabio Schunck
Na última sexta-feira, 20 de dezembro, a agência de notícias Bori divulgou estudo realizado por pesquisador do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos e publicado em periódico científico do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA). O estudo mapeou 239 espécies de aves em área da Serra de Paranapiacaba, dentre elas, duas ameaçadas de extinção: a saíra-sapucaia (Stilpnia peruviana) e o tauató-pintado (Accipiter poliogaster). A pesquisa, que aproveitou dados coletados por observadores de aves amadores na plataforma digital eBird, aponta a relevância de modalidades de turismo ecológico, como observação de aves, para gerar renda e fomentar a conservação.
O artigo científico “Aves da região do Vale da Quietide, Ibiúna, Sudeste do Brasil” está disponível no volume 36 da Revista do Instituto Florestal.
Veja abaixo o texto completo da matéria publicada na página da Bori:
239 espécies de aves são mapeadas em área da Serra de Paranapiacaba; 2 estão em risco de extinção
Uma pesquisa fez o primeiro levantamento científico das espécies de aves residentes, endêmicas e migratórias do Vale da Quietude, localizado em Ibiúna (SP), município que fica a cerca de 70 km da cidade de São Paulo, na Serra de Paranapiacaba – uma região da Serra do Mar que se estende pelo sul do estado. O inventário, publicado nesta sexta (20) no periódico “Revista do Instituto Florestal”, registrou 239 espécies, preenchendo uma lacuna no conhecimento sobre a biodiversidade local.
A mata atlântica, bioma no qual a região está inserida, é estudada ornitologicamente há cerca de 200 anos, mas ainda há áreas com pouca ou nenhuma informação sobre a biodiversidade, que é grande e varia de acordo com características locais, como habitat, temperatura e altitude.
“A Serra de Paranapiacaba passou por processos de desmatamento no passado, e hoje encontramos ali florestas muito bem preservadas e outras que estão se recuperando. Como a mata atlântica tem uma elevada biodiversidade, esperávamos encontrar uma quantidade grande de aves, mas conseguimos registrar ainda mais do que imaginávamos”, conta o ornitólogo Fabio Schunck, do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, e autor do artigo.
Entre as 239 espécies registradas na área, entre os anos de 2022 e 2023, duas delas estão ameaçadas de extinção: a saíra-sapucaia (Stilpnia peruviana) e o tauató-pintado (Accipiter poliogaster), um tipo raro de gavião florestal.
“Isso demonstra que a área, uma propriedade particular, está protegida e que as aves estão seguras ali — podem se reproduzir e viver tranquilamente para que tenham a possibilidade de sair da lista de espécies ameaçadas”, diz Schunck.
As espécies encontradas na área analisada seguem o padrão existente na região adjacente ao norte da Serra do Mar. Assim, a pesquisa acrescenta mais uma peça ao quebra-cabeças do conhecimento sobre a biodiversidade local, indicando que a mudança de espécies na Serra de Paranapiacaba começa a ocorrer em algum limite mais ao sul.
“Avançamos com esse estudo, mas novas pesquisas na região precisam ser feitas para determinar melhor onde está esse limite entre as distribuições geográficas das espécies e caracterizar com maior precisão a biodiversidade da Serra de Paranapiacaba”, afirma o cientista.
A pesquisa de campo foi feita em quatro visitas entre abril de 2022 e agosto de 2023. Cada visita durou sete dias e aconteceu em uma estação diferente do ano para ampliar a variedade de espécies detectadas e suas sazonalidades de ocorrência. Os registros foram feitos em foto e áudio do canto das aves. O pesquisador contou ainda com o suporte de informações geradas por pessoas que não são cientistas para analisar a biodiversidade do local, prática conhecida como ciência cidadã.
Ao longo dos últimos nove anos, observadores de aves registraram em uma plataforma digital própria para dados do tipo, o eBird, a presença de 238 espécies na região do Vale da Quietude. Juntando os dados coletados em campo com aqueles disponíveis online na plataforma, o número de espécies de aves com algum registro chega a 259.
Segundo o pesquisador, o levantamento ajuda a fomentar a observação de aves, atividade ligada ao turismo ecológico que cresce no país e ajuda a preservar florestas e animais. O catálogo de aves que vivem ali pode atrair os praticantes da atividade, gerando novas fontes de renda para a região e fortalecendo a preservação da natureza local. “Queremos que a região passe a ser frequentada por observadores de aves, que vão registrar novas espécies e ampliar esse inventário. Esse é um processo contínuo”, diz.
Os registros feitos por Schunck também foram disponibilizados no eBird para incentivar a visita de observadores e fornecer dados para outras pesquisas feitas em qualquer lugar do planeta.
Fonte: Agência Bori
Parceria para divulgação de ciência brasileira
O IPA herdou do Instituto Florestal a parceria com a Bori, que surgiu como resultado de uma articulação entre editores de Revista do Instituto Florestal e a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC). A agência de notícias constrói uma ponte entre os meios de comunicação e as pesquisas científicas realizadas no Brasil, por brasileiros e publicadas em periódicos científicos nacionais. A equipe da Bori avalia os artigos científicos, seleciona os mais relevantes, prepara matérias e as envia para centenas de jornalistas cadastrados, alcançando desde profissionais autônomos até aqueles que atuam em grandes mídias.
Desde o final de 2021, foram produzidas 14 matérias jornalísticas sobre pesquisas publicadas na Revista do Instituto Florestal no âmbito dessa parceria. Até o momento, foram realizadas divulgações de artigos de autoria tanto de pesquisadores do IPA quanto de outras instituições, como a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do Acre (Ufac), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Cuiabá, no Mato Grosso, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), no Rio Grande do Norte, a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), em Minas Gerais, e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Segue abaixo o histórico das divulgações das pesquisas publicadas na revista do IPA realizadas pela Agência Bori:
Estudo identifica aptidão da jurema-preta para uso em pisos de madeira (6/12/2021)
Com grande volume de água, bacias de Cunha (SP) são importante manancial da Mata Atlântica (30/03/2022)
Cultivo de eucalipto protege matas e contribui para preservação da biodiversidade em florestas (11/05/2022)
Dezoito espécies de aves são vistas pela primeira vez em matas de brejo no interior de SP (30/06/2022)
Esterco de aves é o que mais reduz acidez de solo e favorece plantações no Cerrado, aponta estudo (12/09/2022)
Um terço das Áreas de Preservação Permanente em São Luiz do Paraitinga (SP) estão suscetíveis a inundações (16/12/2022)
Árvore usada na restauração do Cerrado se torna mais fértil com adição de calcário e fósforo (30/04/2023)
Desmatamento do interior paulista provocou desaparecimento de 80 espécies de aves (22/05/2023)
Uma em cada dez espécies de árvores da Serra de Paranapiacaba está em risco de extinção (30/06/2023)
Uso de casca de coco melhora cultivo de bromélias e pode reduzir o extrativismo predatório (4/12/2023)
Ao menos 86% das espécies nativas de animais vertebrados do estado de SP estão em unidades de proteção (18/12/2023)
Óleos naturais como o de açaí têm potencial para preservar madeiras amazônicas usadas no setor moveleiro (3/05/2024)
Foto inédita: furão-pequeno é flagrado pela primeira vez em unidade de conservação ambiental, em São Paulo (12/07/2024)
239 espécies de aves são mapeadas em área da Serra de Paranapiacaba; 2 estão em risco de extinção (20/12/2024)
A Revista do Instituto Florestal está recebendo submissões de artigos
A Revista do Instituto Florestal é uma revista de acesso aberto e agora está na plataforma Open Journal Systems – OJS, com suporte da Lepidus Tecnologia. A submissão dos artigos e a tramitação agora se dá de forma eletrônica. Para saber mais, acesse o link: https://rif.emnuvens.com.br/revista/about/submissions. A plataforma hospeda toda a coleção dos artigos da Revista, oferecendo mecanismos de busca e possibilitando downloads gratuitos, melhorando o acesso tanto para o corpo de cientistas, técnicos e alunos do IPA, quanto para o público externo, tornando os artigos mais acessíveis à sociedade de uma forma geral.
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