
13/08/2024
Um levantamento realizado por um grupo de pesquisadores científicos do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) no Parque Estadual Lagamar de Cananéia (PELC) revelou que a unidade de conservação da natureza (UC) protege 20 de espécies de plantas vasculares em risco de extinção, incluindo duas que até então eram consideradas extintas no estado. A pesquisa foi publicada no início de julho na revista Hoehnea, um dos periódicos científicos do Instituto. Os resultados mostram a diversidade de espécies na área e apontam para a importância das unidades de conservação de proteção integral. No entanto, no artigo científico, os autores alertam que o registro de um ciclone e a presença de espécies exóticas invasoras são indícios de que mesmo as áreas protegidas podem não estar imunes à perda de biodiversidade.
O Parque possui mais de 40 mil hectares e está localizado nos municípios de Cananéia e Jacupiranga, integrando o Mosaico de Unidades de Conservação do Jacupiranga (MOJAC), com 243 mil hectares. Dentre as UCs de Proteção Integral que compõem o Mosaico, o PELC se destaca por ser a única a preservar trechos consideráveis de vegetação natural que se estendem desde o litoral até a a Serra de Paranapiacaba, abrigando diferentes habitats para a conservação da biodiversidade paulista e, por consequência, da Mata Atlântica brasileira. O bioma é uma das áreas naturais mais relevantes para a conservação devido à elevada riqueza e alto índice de espécies endêmicas, mas também sujeita às grandes pressões antrópicas que aumentam o risco de extinção.
Ao longo da pesquisa, foi realizado o levantamento de 540 espécies de plantas vasculares no Parque. Plantas vasculares são aquelas que possuem um sistema especializado para transporte de água, nutrientes e seiva através do organismo. Elas têm estruturas diferenciadas, como raízes, caules e folhas, que permitem uma maior eficiência no transporte de substâncias e suporte estrutural, permitindo que atinjam maiores tamanhos e complexidade em comparação com as plantas não vasculares (como musgos). Entre as plantas vasculares estão incluídas herbáceas, árvores, arbustos, palmeiras, gramíneas, samambaias e licófitas.
Dentre as espécies nativas observadas no estudo, 20 estão presentes em uma ou mais listas de espécies ameaçadas de extinção nas categorias vulnerável, em perigo, criticamente em perigo ou extinta. No artigo, há destaque para duas espécies até então consideradas extintas no território paulista: Myrcia loranthifolia e Peperomia diaphanoides.
Também foram registradas 17 espécies exóticas no PELC, a maior parte em áreas antropizadas. Dentre as árvores frutíferas, destacam-se pelo seu potencial invasor de áreas naturais a goiabeira (Psidium guajava) e o jambeiro (Syzygium jambos). Já o pinheiro (Pinus sp.) é invasor de áreas abertas, o que torna o seu manejo prioritário a fim de evitar que os propágulos alcancem as áreas campestres e as clareiras em meio à vegetação secundária.
O objetivo da pesquisa foi a caracterização da flora, no entanto, durante os trabalhos, houve o avistamento de um grupo de mico-leão-caiçara (Leontopithecus caissara), espécie endêmica da região e ameaçada de extinção em nível estadual, nacional e global. O pesquisador científico do IPA Claudio de Moura, um dos autores do estudo, ressalta a importância da vegetação para a conservação da biodiversidade de espécies, inclusive de espécies da fauna.
Revista Hoehnea
O periódico científico é publicado desde 1971. A partir de 2020, passou a publicar de forma contínua artigos originais, revisões e notas científicas em todos os temas da botânica e da micologia em português, espanhol e inglês. Sua missão é fomentar a produção científica, oferecendo a cientistas do Brasil e do exterior o espaço para a publicação, divulgação e discussão dos resultados das suas pesquisas. Mantém forte viés com a área ambiental, sendo favorável à inter/transversalidade com áreas correlatas à botânica e à micologia, tais como ecologia, educação ambiental, saúde ligada ao meio ambiente, microbiologia ambiental, recuperação de áreas degradadas, conservação da biodiversidade vegetal e de fungos in situ e ex situ, coleções de culturas e herbários. O nome Hoehnea é uma homenagem ao botânico Frederico Carlos Hoehne, fundador e primeiro diretor do antigo Instituto de Botânica.
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