
29/05/2024
No dia 24 de maio, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) promoveu palestra sobre o sargaço, uma macroalga cujo florescimento tem dimensões enormes e, apesar de sua importância ecológica, tem causado impactos significativos em diversos países. A palestra foi ministrada pela ficóloga Ligia Collado-Vides, da Universidade Internacional da Flórida, que esteve no IPA entre fevereiro e maio deste ano como professora visitante no programa de pós-graduação da instituição, com subsídio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O evento aconteceu em ambiente online e teve 28 participantes.
A proliferação de algas marinhas aumentou nos últimos anos, gerando grandes problemas ecológicos e socioeconômicos. A pesquisadora explica que a crise é complexa e não é de hoje. Segundo ela, as algas são sintomas mundiais e relembra a grande aceleração da ação humana que ocorreu a partir da década de 1950 e que provocou distintos impactos nos ecossistemas a partir do aumento do uso de fertilizantes, do turismo, da concentração de CO₂, entre outros fatores.
O florescimento do sargaço afeta costas e oceanos. Por ter dimensões muito grandes, pode ser visto por satélite. O oceano é conectado por correntes, então o sargaço se espalha e gera zonas de acumulação, afetando muitos países. Trata-se de um problema global.
Ligia apresenta alguns resultados de estudos de impactos locais dessa proliferação no México, na região do Caribe. Ela explica que apesar da importância do sargaço para a manutenção de ecossistemas, seu excesso pode bloquear a luz, impedindo a fotossíntese e matando outras algas que ficam abaixo dele, além de causar a erosão da praia, o que é muito grave em uma região onde ocorrem furacões. O sargaço também tem altas concentrações de metais pesados, que em excesso podem ser prejudiciais aos seres humanos, à flora e à fauna locais. Em relação aos impactos sociais, a pesquisadora cita a queda no turismo, que está afetando a economia caribenha, e menciona problemas de saúde pública, contando que em alguns lugares os moradores não conseguem nem sair de casa por conta do forte cheiro, ocasionado pela exalação de ácido sulfúrico e arsênico.
A ficóloga relata que a pesquisa sobre o sargaço para subsidiar seu manejo combina os trabalhos de taxonomia e oceanografia, além de envolver a comunidade. Nesse sentido, referencia a pesquisa de mestrado de Julianna Arita, “Análise integrativa da literatura de Sargassum pelágico (Phaeophyceae) no Atlântico Ocidental e o uso de imagens de satélite e ciência cidadã como ferramenta para estimar sua abundância no oceano“, realizada no programa de pós-graduação do IPA e defendida em 2023. Neste trabalho, foram analisadas imagens registradas nas praias por moradores das áreas afetadas em duas plataformas de ciência cidadã: a Sargassum Monitoring e a Sargassum Watch (Epicollect5).
Para enfrentar os problemas causados pela proliferação de sargaço, Ligia defende a criação e o fortalecimento de programas de educação e letramento ambiental que incluam os conhecimentos indígenas e proporcionem a transmissão de conceitos básicos para políticos e gestores. E que o caminho passa pela colaboração: entre países, entre profissionais de diferentes áreas e entre cientistas e gestores. Ela também entende que é necessário incrementar as coleções científicas e o conhecimento em taxonomia.
Apesar dos impactos, a pesquisadora ressalta que há muitas oportunidades para a utilização do sargaço e menciona seu potencial de captura de carbono. Para isso, pondera que é necessária a ciência para avaliar os riscos.
Assista à palestra no Youtube do IPA: