25/03/2024

A geodiversidade se refere à variedade de elementos e de processos relacionados aos elementos abióticos da natureza. São eles os diversos aspectos geológicos, incluindo fenômenos e processos geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos, aquíferos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra.

Assim como as políticas de conservação da natureza se concentram majoritariamente na proteção da biodiversidade, a geoconservação diz respeito à proteção de características únicas do geopatrimônio que podem ser importantes por uma variedade de razões, incluindo sua contribuição para a compreensão da história do nosso planeta, para a pesquisa científica, para a educação e para o turismo de natureza. Esse tipo de conservação envolve a identificação, a avaliação, a gestão e o monitoramento desses elementos para garantir sua proteção a longo prazo.

Acompanhando a evolução científica que orienta a conservação ambiental de maneira integral, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) têm participado de projetos de geoconservação na Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, região centro-leste paulista que envolve os municípios de Analândia, Charqueada, Cordeirópolis, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes. O trabalho acontece no âmbito do Projeto Geoparque Corumbataí, uma iniciativa de desenvolvimento regional sustentável que tem, como um de seus objetivos principais, valorizar e divulgar a geodiversidade presente no território.

O patrimônio natural da bacia hidrográfica é composto por uma geodiversidade notável, com ocorrência de testemunhos dos diversos ambientes que se sucederam ao longo do tempo geológico que, hoje, compõem as belas paisagens da região. Também se destaca a presença do Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água doce do mundo.

Além disso, o projeto tem como premissa a valorização do patrimônio cultural e histórico da região, onde se destaca a cultura caipira típica do interior paulista, o que torna a região um grande atrativo turístico.

O projeto é coordenado, desde 2016, por uma equipe de docentes, graduandos e pós-graduandos da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) – Câmpus de Rio Claro em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Câmpus de Limeira e o Consórcio PCJ. Fazem parte diversas instâncias do poder público, universidades, organizações do terceiro setor e empresas, além da sociedade civil em geral. Paulo Ruffino, pesquisador científico do IPA envolvido, explica que se trata de um projeto de vida destes profissionais e que envolve a sociedade como um todo. Alguns projetos de valorização de geossítios são parte dos frutos já alcançados por meio de parcerias, como é o caso do Parque Geológico de Assistência, do Jardim Geológico da Unesp, do Jardim Geológico do Sesc Limeira e, mais recentemente, do projeto do geossítio Voçoroca da Mãe Preta, do qual o IPA faz parte. “O Instituto vem somar no sentido de assessorar tecnicamente e politicamente sobre as possibilidades de proteção legal da área. Temos uma proposta clara de modelo de conservação nos moldes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)“, detalha Ruffino.

Um geoparque é uma área com características naturais, históricas e culturais de grande relevância científica, educativa e turística. “A valorização desses aspectos por meio da geoconservação e do envolvimento da sociedade podem levá-lo à chancela de Geoparque Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ou seja, ao reconhecimento de seu valor em escala internacional”, esclarece a pesquisadora e pós-graduanda Maria Vitoria Baptista. Na região do Geoparque existem geossítios, áreas específicas de relevância geológica que são identificadas e avaliadas conforme sua raridade, sua representatividade, sua integridade, entre outros critérios. Um desses geossítios é a Voçoroca da Mãe Preta.

No dia 21 de fevereiro, aconteceu o exame de qualificação de mestrado de Maria Vitoria. O projeto de pesquisa “Propostas de valorização, gestão e divulgação do patrimônio natural da Voçoroca da Mãe Preta, geossítio do Geoparque Corumbataí” ocorre no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente da Unesp de Rio Claro, na linha de pesquisa Planejamento e Gestão do Meio Físico, e tem orientação do professor José Alexandre Perinotto e coorientação do professor José Eduardo Zaine. A pesquisadora científica Kátia Mazzei, do IPA, foi membra da banca avaliadora.

“Na dissertação há o aprofundamento dos estudos e análises ambiental, política e fundiária da Voçoroca da Mãe Preta, que resultaram em três propostas de proteção para a área. A participação do IPA nesta pesquisa foi interpretar a área de estudo à luz do SNUC de maneira a potencializar usos múltiplos, sem perder a qualidade e possibilidade de proteção junto à legislação brasileira”, explica Ruffino.

O IPA auxilia ainda nos trabalhos de campo. No dia 19 de fevereiro, o pesquisador esteve junto à equipe do projeto em uma ação de restauro de um fragmento de Cerrado na área do geossítio.