29/02/2024

Foto: Pesquisador Sérgio Garcia demonstra como funciona o processo de escarificação mecânica

Estudo sobre quebra de dormência de sementes de aroeira-preta realizado no Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) revela que tratamento com ácido sulfúrico acelera o processo de germinação, assim como o que utiliza água corrente. Em relação à porcentagem de sementes que germinaram, todos os tratamentos testados obtiveram bons resultados, exceto o que utilizou a água fervente e obteve um índice de zero porcento de germinação. A pesquisa tem a autoria do pesquisador científico Sérgio Garcia e da técnica de laboratório Sebastiana Dutra, ambos do IPA, e da bióloga Ana Cecília Bezerra. O artigo científico foi publicado em dezembro passado no periódico científico Revista Agrária Acadêmica.

A aroeira-preta é uma espécie arbórea que ocorre na Mata Atlântica, no Cerrado, e na Caatinga, do Paraná ao Ceará. Também é encontrada na Argentina, no Paraguai e na Bolívia. É melífera e tem potencial para uso em reflorestamentos mistos. Em várias regiões do país, esta espécie é considerada como vulnerável ou ameaçada de extinção.

A dormência é observada quando as sementes são colocadas para germinar em canteiros para a produção de mudas, ou em laboratório, e não germinam na sua totalidade ou apenas parcialmente. O fenômeno acontece mesmo que ocorram as condições necessárias para a germinação, ou seja, com fornecimento de água, temperatura, oxigênio e luz adequados à espécie. Trata-se de uma estratégia de algumas espécies para que a germinação se distribua ao longo do tempo, visando a sua sobrevivência. Se ocorrer algum problema após o início da germinação, como geada ou falta de água em solo seco, mesmo após uma pequena chuva, e todas as sementes iniciarem a germinação ao mesmo tempo, caso não apresentem dormência, pode acontecer de todas morrerem. No entanto, a dormência das sementes pode não ser interessante para algumas atividades humanas, como agricultura, silvicultura, produção de mudas e restauração ecológica. Nesse sentido, é importante entender o processo para se obter uma germinação rápida e uniforme.

As causas da dormência podem ser: a presença de substâncias que fazem parte ou estão sobre a casca da semente e inibem sua germinação; tegumento (ou casca) que impede a passagem de água e/ou oxigênio, fatores importantes para a germinação; e embriões imaturos que irão se desenvolver lentamente após a dispersão das sementes pela planta-mãe e neste ínterim não germinam. Essas causas podem atuar isoladamente ou em conjunto.

Nos estudos de quebra de dormência são testados diferentes tratamentos para verificar qual ou quais deles são mais efetivos, dependendo da espécie. Alguns dos tratamentos verificados envolvem o uso da escarificação do tegumento, que pode ser mecânica (com materiais abrasivos como lixas) ou química (com ácido sulfúrico), para permitir a entrada de água nas ranhuras formadas; estratificação das sementes (semeadura destas em areia umedecida, por exemplo, a baixa temperatura) para embriões imaturos; imersão das sementes em água corrente por um período longo (muitas vezes, pode levar horas) para a lavagem de substâncias que estão sobre o tegumento e inibem a germinação, entre outros.

Na pesquisa com a aroeira-preta, o tratamento com lixa levou aos maiores resultados em relação ao índice de germinação das sementes, ainda que todos os outros tratamentos tenham obtidos  bons resultados, com exceção daquele que utilizou água fervente (este tratamento causou um dano muito grande ao embrião a ponto de se ter uma germinação de zero por cento). Porém, em outros trabalhos, este tratamento pré-germinativo foi eficiente com sementes de outras espécies florestais. Com base nisso, é recomendado que se façam novos testes com temperaturas e períodos de tempo inferiores.

Em relação à velocidade de germinação, os resultados apontaram a utilização de ácido sulfúrico e a lavagem em água corrente como os melhores tratamentos.

O tratamento no qual as sementes permaneceram embebidas durante 24 horas, obteve resultados significativamente inferiores àqueles nos quais as sementes tiveram o seu tegumento lavado em água corrente por duas horas. Os autores do trabalho concluem que a lavagem das sementes propiciou um aumento na velocidade de germinação, indicando que substâncias inibidoras estariam sendo escoadas pela lavagem.

A identificação de um ou mais tratamentos efetivos na superação da dormência é uma informação de grande utilidade. Na análise de sementes, esse conhecimento é necessário para se obter uma germinação homogênea, diminuindo o tempo de análise e proporcionando resultados mais confiáveis. Essa informação também é utilizada na produção de mudas, visando obter um estande rápido e uniforme e com isso baratear os custos de produção, pois o tempo das mudas no viveiro é menor e elas ficam menos sujeitas as pragas e doenças.