
26/09/2023
O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) lamenta profundamente a perda de João Batista Baitello, falecido na data de ontem, 25 de setembro. O pesquisador científico havia se aposentado em junho deste ano, tendo sido homenageado por sua trajetória de contribuição para a ciência e para a conservação da natureza. Pode até ser coincidência, mas é bastante simbólico que tenha nos deixado na primavera.
Baitello graduou-se em História Natural pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São José do Rio Preto (SP) em 1972, antigo Instituto Isolado da USP, hoje campus da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Doutorou-se em Botânica pela Universidade de São Paulo em 1980.
O biólogo ingressou no Instituto Florestal (IF) em 1976 e foi diretor geral da instituição entre 2006 e 2007. Especialista na família Lauraceae e profissional bastante produtivo, ao final do ano passado Baitello publicou mais uma descoberta. A última das 11 espécies inéditas que ele descreveu ao longo de sua carreira.
Quando ingressou na instituição, a missão que lhe foi dada pelos dirigentes do IF foi o resgate das exsicatas do Museu Florestal “Octávio Vecchi”, uma modesta coleção iniciada em 1927 pelo engenheiro silvicultor polonês Mansueto Koscinski e o agrônomo português Octávio Vecchi no então Serviço Florestal e continuada pelo biologista Dom Bento José Pickel, monge beneditino, que se aposentou em 1960, deixando 5.515 exsicatas. Após a chegada de Baitello, o herbário foi transferido para outro edifício. Atualmente, possui mais de 55 mil exsicatas.
Em 2017, foi premiado com a medalha Alba Lavras, concedida pela Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) a quem tenha se destacado em favor da Ciência. Seu currículo soma incontáveis publicações, entre artigos científicos e livros. Apenas para citar alguns, é um dos autores de Plantas pequenas do cerrado: biodiversidade negligenciada, livro de 2018 traz que 577 espécies ilustradas do bioma. Em 2020, publicou o livro “O Passado Magnífico da Ilustração e da Pesquisa Científica no Serviço Florestal do Estado de São Paulo: 1942 a 1960”, que faz uma retrospectiva de um período de 18 anos de produção técnico-científica e artística da instituição, reunindo centenas de ilustrações botânicas e fotografias históricas.
Além das plantas, o pesquisador também tinha grande interesse pela história. Frequentador de museus e bibliotecas, estava sempre examinando documentos antigos para desvendar o passado, mas com o olho no futuro. Não é a toa que foi ele o escolhido para palestrar sobre o naturalista sueco Alberto Löfgren quando o Instituto Florestal recebeu o cônsul da Suécia, em 2018. Antes disso, em 2016, Baitello abriu a 10ª edição do Seminário de Iniciação Científica do Instituto Florestal com a palestra “A ilustração científica e fatos históricos dos principais setores de pesquisa no Serviço Florestal de 1927 a 1960”. Foi uma apresentação inesquecível, porque além da riqueza e da densidade do conteúdo apresentado, o secretário adjunto de Meio Ambiente da época, que foi acompanhar o evento, não deu conta e acabou saindo bravo no meio da apresentação por achá-la muito longa. Diferentemente do resto das pessoas que lotavam o auditório. Frequentemente o pesquisador científico estava envolvido com a formação de novos cientistas. Naquele Seminário, foi um dos orientadores em trabalho de iniciação científica premiado de uma aluna de História.
Baitello também era conhecido por ser um ótimo fotógrafo. Por muitos anos, quem chegasse bem cedinho no Parque Estadual Alberto Löfgren, podia encontrá-lo andando com uma câmera em mãos buscando registros da vida silvestre. Suas fotos foram bastante utilizadas tanto em trabalhos científicos quanto em eventos de popularização da ciência, como a exposição “A Diversidade de Cores da Biodiversidade”, realizada em 2013. Naquele mesmo ano, coordenou pesquisa no Parque Estadual do Juquery que identificou 420 espécies, das quais 273 são exclusivas da vegetação de Cerrado. Dividindo seu tempo entre o escritório e o campo, com os levantamentos de espécies de flora que realizou, Baitello contribuiu com a elaboração de planos de manejo, com a criação de Unidades de Conservação da Natureza e com a elaboração e atualização das listas vermelhas das floras paulista e brasileira.
Foto: Baitello mostra exsicata de Ocotea koscinskii, descrita em 2017 e com o nome em homenagem a Mansueto Koscinski/ Crédito: Paulo A. Muzio
Texto: Núcleo de Divulgação Científica
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