29/08/2023

A pesquisadora científica aposentada do antigo Instituto de Botânica (atual Instituto de Pesquisas Ambientais) Célia Leite Sant’Anna foi a mais recente entrevistada da série ‘Memória em vídeo dos Botânicos do Brasil’, produzida por Massanori Takaki, professor titular aposentado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro. Em cerca de uma hora de gravação, a botânica narrou resumidamente sua trajetória profissional.

Célia inicia a entrevista se autodenominando uma botânica atípica, por ter trabalhado com microrganismos (cianobactérias e microalgas). Em seguida, relata sobre seu processo de ingresso na Universidade de São Paulo (USP) para cursar sua graduação em Ciências Biológicas no ano de 1969. Em relação ao contexto histórico, comenta que mesmo a área de biologia não passou impune à violência imposta pelo regime militar. “Tive colegas que tiveram que sair do país. Era um clima tenso. Mas aquilo definiu a cidadã que sou hoje”, revela.

Após a graduação, fez um estágio curto no Instituto Biológico, vinculado à Secretaria de Agricultura do estado de São Paulo, onde conheceu Lilian Zaidan, que viria a ser sua colega de longa data e que foi quem sugeriu que ela procurasse o Instituto de Botânica, à época vinculado à mesma pasta de governo. Na nova instituição, conheceu Carlos Bicudo, que a orientou na iniciação científica, no mestrado e no doutorado. À época da pesquisa de doutorado, estudando algas verdes, passou dividir seu interesse pelas cianobactérias, grupo intermediário de seres vivos até então pouco estudado no Brasil. Mais tarde, desenvolveria um pós-doutorado na França, no Museu Nacional de História Natural, tendo a oportunidade de envolver também o Instituto Pasteur no processo.

De volta ao Brasil, começou a receber estudantes e, sob a abordagem da taxonomia, a formar recursos humanos para trabalhar com as cianobactérias. Célia se credenciou ao programa de pós-graduação da Unesp de Rio Claro e, assim que foi criado o Programa de Pós-Graduação do Instituto de Botânica, passou a integrar o corpo docente da instituição. Entre 2013 e 2017, a ficóloga foi coordenadora do Programa.

A pesquisadora conta que nos anos 2000 a taxonomia de cianobactérias foi pra outro nível com a introdução da biologia molecular. E foi nessa época que Célia passou a ser procurada por órgãos ambientais como a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). “O pessoal da área de monitoramento me procurou muito pra dar cursos e assessorar em problemas que eles tinham na identificação dessas cianobactérias, pois elas ocorrem em grande quantidade nas águas de abastecimento público e são produtoras de toxinas. Ajudei a identificar qual espécie era tóxica, qual não era, qual crescia mais em determinadas condições ambientais etc.  Fizemos manual para identificação das cianobactérias nos reservatórios do estado de São Paulo. Além disso, outras empresas e agências de qualidade da água me procuravam. Dei cursos para órgãos de outros estados do país”, relata.

Célia também foi presidente da Sociedade Brasileira de Ficologia, entre 2007 e 2010, e curadora do herbário de algas do Instituto de Botânica, de 1994 a 2013.

Assista ao vídeo completo:

Texto: Núcleo de Divulgação Científica / IPA