
31/07/2023
No dia 21 de julho, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) recebeu em sua unidade Jardim Botânico uma comitiva de funcionários do Gardens by the Bay, um parque de Singapura. Os visitantes vieram obter informações sobre as trocas de sementes e plantas realizadas entre os países no passado, captar imagens das espécies brasileiras que foram plantadas no país asiático e conhecer novas plantas do Brasil com potencial para serem introduzidas no Gardens by the Bay.
Clarice Xue, especialista sênior em arboricultura do Gardens by the Bay, conta que este ano é o 60º aniversário de uma campanha de plantio de árvores lançada por Lee Kuan Yew, primeiro-ministro fundador de Singapura. “Os primeiros horticultores de nosso país viajaram para as regiões ao longo do cinturão tropical do mundo em busca de árvores e arbustos floridos. Houve trocas documentadas de sementes e plantas com vários institutos e jardins botânicos ao redor do mundo. Gostaríamos de prestar homenagem a essa jornada ecológica pioneira. Através de nossa busca, encontramos registros antigos de trocas de plantas entre o então Instituto de Botânica (atual IPA) e o Jardim Botânico de Singapura. Estamos interessados em rastrear esses registros de trocas feitas no passado. Além dos registros, também gostaríamos de realizar filmagens das espécies originárias do Brasil que foram plantadas em Singapura. Por fim, estamos procurando novas plantas do Brasil com potencial para um novo domo (estufa) que será construído no Gardens by the Bay“, relatou Clarice.
Uma jornada inusitada
Ao estabelecer o primeiro contato com os visitantes de Singapura, a equipe do IPA constatou que o envio de espécies do Instituto de Botânica para aquele país foi feito por um pesquisador russo, Boris Vassilievich Skvortzov, que teve uma passagem curiosa pela instituição. Os visitantes foram recebidos no prédio principal da unidade do IPA. O pesquisador científico aposentado Carlos Bicudo deu as boas-vindas aos visitantes, apresentando um breve relato histórico do Instituto de Botânica e do pesquisador russo, com quem conviveu. “Em 1967, o professor Skvortzov deixou Harbin, na China, e veio para São Paulo com sua esposa Olga. Ele começou a trabalhar em nossa instituição como pesquisador visitante, porque quando chegou ao Brasil ele já tinha ultrapassado a idade máxima permitida no estado de São Paulo para ser oficialmente funcionário. Trabalhou por dois anos e meio como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e mais alguns anos como bolsista do fundo de pesquisa do Instituto de Botânica, até seu falecimento em 1980. Skvortzov era dedicado e produziu mais de 100 artigos sobre os fitoflagelados da área do Instituto de Botânica e adjacências. Ele coletou e encaminhou diversos materiais, como plantas com flores, sementes, samambaias, musgos e fungos. Contudo, é importante ressaltar que ele enviou esse material para o exterior por conta própria, motivo pelo qual pouco sabíamos sobre isso em nossa instituição”, esclareceu Bicudo.
A vinda da comitiva de Singapura para o Brasil trouxe surpresas tanto para eles quanto para nós. Durante as conversas e avaliando as anotações dos visitantes do Gardens by the Bay sobre as amostras que eles receberam de Boris, a equipe do IPA verificou que algumas sementes de bambu encaminhadas constavam como sendo da espécie Merostachys multiramea.
Acontece que em 1995, a pesquisadora científica do Instituto de Botânica, Tatiana Sendulsky, filha do cientista russo, verificou que na verdade, tratava-se de uma nova espécie, para a qual deu o nome científico de Merostachys skvortzovii em homenagem ao pai. Sendulsky fez um estudo de revisão de “Merostachys” e descreveu, além de M. skvortzovii, mais sete novas espécies. Ao final da descrição autora, fez sua homenagem: “Esta espécie é nomeada em homenagem ao falecido Boris V. Skvortzov, Professor de Botânica da Chinese Forest Academy (Harbin, Manchuria), que dedicou seus últimos anos ao estudo da flora brasileira, coletor do material tipo e pai amado da autora.”
Na recente visita, os membros da comitiva puderam observar no herbário da instituição uma exsicata dessa nova espécie descrita pela pesquisadora. Eles também visitaram a biblioteca e o orquidário do IPA, além da área concessionada. A comitiva foi recebida pelos pesquisadores científicos Silvia Souza, Denilson Peralta, Rosangela Bianchini e pela equipe do Núcleo de Divulgação Científica, além do diretor técnico do Jardim Botânico de São Paulo Nino Amazonas. Dentre os visitantes, estava presente Derek Wee, vice-diretor do Gardens by the Bay.
Texto: Núcleo de Divulgação Científica/IPA