19/07/2023

Na última segunda-feira (17), a pesquisadora científica Andrea Soares Pires, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), foi entrevistada no programa Estúdio Alesp, produzido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. A bióloga é coordenadora do subprograma de mamíferos do Programa de Monitoramento da Biodiversidade (Monitora BIOSP) da Fundação Florestal/IPA/Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística estado de São Paulo (Semil). Ela falou sobre a parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que no último mês levou ao registro de um novo filhote de onça-pintada no mosaico de Unidades de Conservação de Paranapiacaba, na região do Vale do Ribeira.

Após o registro do bebê onça, a Semil realizou enquete para que o público elegesse seu nome e o escolhido foi Barti. Ainda não é possível identificar o sexo do animal, que tem a idade estimada de 8 meses. A pesquisadora do IPA explicou sobre o funcionamento do programa de monitoramento. “Temos 400 armadilhas fotográficas espalhadas por várias áreas do estado, nas Unidades de Conservação e com elas fazemos registros de animais de pequeno, médio e grande porte. Barti foi encontrado no Parque Estadual Intervales. Era um animal novo para as nossas câmeras. Para todas as onças que são registradas tanto no Monitora BIOSP, da Fundação Florestal, quanto no projeto do ICMBio, nós integramos os dados e identificamos cada uma delas”, relatou Andrea. A mãe do bebê também apareceu nas imagens. “Geralmente os filhotes de onças-pintadas caminham com a mãe até uns 11 meses a 1 ano de idade”, comentou.

A pesquisadora esclareceu que o monitoramento de mamíferos tem como alvo algumas espécies que são chaves para a conservação. “Protegendo essas espécies, conseguimos proteger toda a cadeia trófica associada. Então, além da onça-pintada, trabalhamos com a onça-parda, a anta, a queixada e, nas áreas de Cerrado, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira. E apesar de trabalharmos com o foco nessas espécies, todas as outras que são registradas são analisadas. Nesse contexto, cada uma dessas espécies indica a qualidade do ambiente. O programa também monitora borboletas frugívoras, que são excelentes indicadoras da qualidade de habitat. Quanto mais temos a presença de uma espécie como a anta, por exemplo, que é o maior herbívoro das américas, temos a certeza de que aquele ambiente está bem preservado. Assim como a onça-pintada, pois o fato de termos áreas com esse felinos já mostra o quão efetivas estão sendo nossas ações de conservação. É extremamente importante termos áreas no estado de São Paulo abrigando essa espécies. Porque elas são topo de cadeia. Então quando conservamos uma onça pintada, conservamos todo mundo abaixo desse topo de cadeia trófica”, argumentou Andrea.

Cada vez que o animal passa em frente a essas câmeras, que têm sensores de movimento, é realizado o registro. As câmeras funcionam 24 horas por dia ao longo de 120 dias. “Depois da captação das imagens, fazemos uma análise de como esses animais estão ocupando as áreas. Essas informações são super importantes para que possamos subsidiar a tomada de decisão, em especial para a proteção desses animais. Trabalhamos com análises estatísticas sobre como esses animais ocupam o território, sobre como eles usam os habitats e em relação a algumas variáveis ambientais. Para as espécies que detectamos nas armadilhas fotográficas, nós obtemos respostas de como se movimentam naquele território. Isso nos fornece informações sobre onde é necessário aumentar a fiscalização ou como tratar da relação da comunidade do entorno com essa espécies, uma série de informações importantes para que tomemos decisões assertivas para a proteção dessas áreas,” concluiu a pesquisadora.

Guia de onças-pintadas do estado de São Paulo

A proteção dessas espécies de fauna e dos ecossistemas nos quais estão inseridas requerem uma série de ações de política públicas, entre elas ações voltadas para que o público possa conhecer o que se tem dentro dessas áreas protegidas.

Uma dessa iniciativas para levar à população informações sobre a fauna paulista é um guia de onças pintadas de São Paulo, que deverá ser lançado no final de agosto. “Será o primeiro guia para o estado, com as onças que foram identificadas desde 2006, no projeto do ICMBio, até as mais recentes, junto com o Monitora BIOSP”, revelou Andrea. Já são 50 onças catalogadas. Cada animal tem um conjunto de manchas, chamadas de rosetas, que são únicas, funcionando como a impressão digital de cada indivíduo. “Para o guia, estamos fazendo o mapeamento das rosetas de cada onça”.