
18/07/2023
No último domingo, 16 de julho, foi celebrada no Parque Estadual Alberto Löfgren (PEAL), na zona norte da capital paulista, a tradicional missa em louvor a São João Gualberto, o santo protetor das florestas e dos guardas florestais. O evento acontece anualmente no segundo domingo do mês. No entanto, choveu bastante e a missa, inicialmente prevista para o dia 9, teve que ser adiada para a semana seguinte. Mas desta vez o tempo colaborou.
Esse tipo de evento representa uma grande oportunidade de aproximar a comunidade das áreas protegidas e da agenda da conservação da natureza. O Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), entendendo a importância de agregar parceiros em sua missão, dá prosseguimento a esse trabalho que vinha sendo realizado pelo Instituto Florestal e, anteriormente, pelo Serviço Florestal do Estado de São Paulo.
Quem foi São João Gualberto
João Gualberto nasceu por volta no ano 1000 em Florença, região da Toscana, na Itália. Em 1028 se deu o fato mais marcante de sua vida: o perdão do assassino de seu irmão Ugo e ingresso no mosteiro de São Miniato. Na Sexta-feira Santa, com o respaldo da lei, teve a oportunidade de matar o assassino de seu irmão, mas não o fez. Em um momento de iluminação, abraçou-o em um ato de perdão. No ano de 1063, fundou a Congregação dos Monges Beneditinos de Valombrosa. Hoje são considerados os responsáveis pela criação de práticas agroflorestais sustentadas e recuperação de bosques. O abade morreu em 1073.
No ano de 1193, foi canonizado pelo Papa Celestino III. Durante o pontifício do Papa Pio XII, em 1951, São João Gualberto foi proclamado como patrono dos guardas florestais. Em 1957, foi nomeado pelo Papa como celeste patrono dos guardas florestais do Estado de São Paulo.
Da Toscana para o Horto
Em 1956, uma estátua do santo doada pelo governo italiano foi solenemente entronizada no Horto Florestal da capital paulista (atualmente Parque Estadual Alberto Löfgren). A imagem localizada no Parque foi esculpida em mármore de carrara e o pedestal onde foi colocada teve sua confecção elaborada e entalhada em arabescos, em madeira de lei brasileira, nas oficinas de marcenaria por antigos artesãos do Serviço Florestal (que em 1970 se tornou o Instituto Florestal e em 2021 passou a integrar o IPA).
No entanto, poucos sabem que, antes de ser trazida para a capital, ao chegar da Itália a estátua ficou retida na alfândega do porto de Santos por cerca de um ano por problemas na documentação.
Histórias que se entrelaçam
Em 2012, entrevista ao informativo IF notícias, a ex-funcionária da instituição Olga Pisaneschi Rodrigues, conhecida como Dona Olga, conta que conseguiu o trabalho por causa do santo preso em Santos . “Meu marido, o Manelão, após muitas idas conseguiu que fosse liberado. Ele tinha muito contato com o Dr. Ismar Ramos (ex-diretor) que, como agradecimento, me convidou para trabalhar. Naquele tempo não precisava prestar concurso. Foi meu primeiro e único emprego”, relatou a servidora que se aposentou após somar 60 anos de casa. Em 2021, Dona Olga recebeu a medalha “João Pedro Cardoso do Mérito Ambiental Paulista”, honraria destinada às pessoas que se destacaram de maneira relevante na contribuição para a educação, preservação e recuperação ambiental no estado de São Paulo. Mulher à frente de seu tempo, foi a primeira usar calças compridas na instituição. No início da década de 1970, à época da passagem do Serviço Florestal para Instituto Florestal, trabalhava na biblioteca, que ficava no andar superior do prédio principal. De acordo com as normas, as mulheres trabalhavam de vestido e salto alto. E constantemente desciam as escadarias do hall principal. Além do inverno paulistano ser bastante frio, as temperaturas são ainda mais baixas quando se está no meio de um parque e cercado de árvores. Para piorar a situação, alguns homens ficavam olhando as funcionárias descerem os degraus. Dona Olga, não se sentindo bem com a situação, apelou ao então diretor geral Armando Ventura para que fosse permitido que as mulheres trabalhassem de calças.