
28/04/2023
Processos de restauração ecológica em áreas de vegetação e florestas levam à futura recuperação de mananciais, conservação da biodiversidade e funcionam como barreiras para acidentes ambientais
Para recuperar matas, florestas e demais formas de vegetação é indispensável adotar medidas abrangentes e constantes, que contar com suporte técnico, profissionais capacitados, informação consistente, pesquisa, planejamento, recursos financeiros, tecnologias adequadas e políticas públicas atentas à preservação e conservação do meio ambiente, como demonstra o estudo de “Análise de processos de restauração ecológica” desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA).
O objetivo central deste módulo de pesquisa é avaliar o comportamento de diferentes técnicas de restauro em territórios paulistas, incluindo as áreas de Mata Atlântica e de Cerrado, e, a partir dos dados obtidos, desenvolver novas modelagens e tecnologias capazes de promover a restauração ecológica, tanto em áreas urbanas, como em propriedades rurais. De maneira simultânea, o estudo contribui com a capacitação de profissionais e a formação de um banco de dados robusto – com fotografias aéreas – que fornecerá séries históricas como suporte à elaboração de políticas públicas voltadas à prevenção e conservação do meio ambiente.
A investigação auxilia ainda no cumprimento da Década da Restauração de Ecossistemas da ONU (2021-2030), que propõe a meta de recuperação de 12 milhões de hectares de florestas para o Brasil, e compõe um dos módulos do projeto central “Desafios para conservação da biodiversidade frente a mudanças climáticas, poluição e uso e ocupação do solo” (Proc. FAPESP 2017/50341-0).
Vale ressaltar que projetos de restauração ecológica interferem diretamente na recuperação de mananciais de água, criam importantes barreiras ecológicas, capazes de reduzir picos de enchente, erosão do solo e criam melhores condições de manejo para a agricultura. Por isso, também é fundamental o envolvimento de todas as esferas do poder público, especialmente dos municípios, que são a primeira instância a ser afetada em caso de desastres naturais, como ocorreu em Mariana e Brumadinho, entre tantas outras.
No entanto, para recuperar matas e florestas devastadas por acidentes ambientais, ocupação indevida do solo, desmatamento ou outras atividades prejudiciais ao meio ambiente, é indispensável adotar medidas específicas, que abranjam informação; pesquisa; planejamento; recursos financeiros e humanos; desenvolvimento de técnicas e tecnologias adequadas; capacitação de profissionais e elaboração de políticas públicas atentas à preservação e conservação do meio ambiente.
Soluções baseadas na natureza
O conceito estabelecido pela Society for Ecological Restoration (SER) refere-se à restauração ecológica como um processo abrangente, que engloba conceitos como: recuperação; restauração; reabilitação; recomposição; e reflorestamento.
Por sua vez, o processo de Restauração Ecológica, diferentemente da Recuperação de Áreas Degradadas (RAD), atua como ferramenta estratégica para retornar um ecossistema a uma condição historicamente documentada, que foi perdida ou degradada. Também envolve a reconstrução de ecossistemas em um estado funcional, utilizando técnicas e métodos que imitam ou aceleram os processos naturais de recuperação. “Em nossa experiência, na Mata Atlântica, a restauração tem apresentado melhor resultado com plantios de alta diversidade de espécies do bioma”, como sinaliza uma das responsáveis pelo módulo de pesquisa, Dra. Katia Mazzei.
Os resultados gerados a partir de estudos multidisciplinares, para identificar espécies nativas em diferentes recortes de Mata Atlântica e o Cerrado, e implementar, quando for o caso, novas técnicas de plantio e monitoramento são de extrema importância para a consecução de projetos de recuperação. “Não se trata apenas de restabelecer a vegetação, mas sim de recompor um ecossistema em suas funções, convivendo com uso do solo em diversas dinâmicas econômicas”, explica Katia.
No caso de áreas com forte interface urbana, a pesquisa no município de São Paulo revelou que, pequenos plantios de restauração ecológica adaptados às áreas urbanas podem contribuir para o enfrentamento das mudanças climáticas, agregando novos resultados para outro campo do conhecimento, a Arquitetura com ênfase em arborização urbana.
O número e variedade de espécies são elementos que interferem diretamente nas condições de êxito do processo da restauração ecológica. “É preciso identificar o que havia nos biomas daqueles territórios anteriormente. E esta nem sempre é uma resposta fácil de ser obtida, porque depende de inúmeras variáveis, desde os eventos ocorridos, como deslizamentos, enchentes, quedas de barreiras, incêndios e de suas proporções, até às condições do próprio bioma, que podem estar em áreas de transição”, ressalta a pesquisadora.
Para auxiliar nessa busca, o grupo de estudos liderado pelo então diretor-geral do Instituto de Botânica, Dr. Luiz Mauro Barbosa, desenvolveu um produto inovador, que complementa e amplia informações disponíveis sobre 2.951 espécies de hábitos diversos, além de indicar ações básicas para a elaboração de projetos com este propósito. Trata-se da “Lista de Espécies indicadas para restauração ecológica para diversas regiões do estado de São Paulo”, resultado de mais de três décadas de pesquisa e de parcerias entre pesquisadores e instituições de todo o país, voltados a estudos desta natureza.