
03/03/2023
Com Sandra Monteiro Borges Florsheim
Sou a Sandra Monteiro Borges Florsheim, Bióloga, Pesquisadora Científica, Mestre e Doutora em Ciências Florestais pela ESALQ-USP. Quando iniciei os estudos equivalentes ao ensino médio, eu queria ser uma engenheira eletrônica e me matriculei em um curso técnico particular. Para ajudar meus pais a pagar esse curso, prestei o concurso público como auxiliar de laboratório. Entrei no Instituto Florestal e comecei a trabalhar na Seção de Madeira. Me apaixonei e investi na carreira científica.
Com alguns conhecimentos adquiridos em vários anos de trabalho com anatomia, identificação e qualidade da madeira, em 2007 surgiu a necessidade de colocar em prática essa experiência adquirida. O Governo do Estado de São Paulo, maior consumidor de madeira da Amazônia, adotou uma nova postura com a intensificação da fiscalização de madeira, coibindo a entrada e comercialização de madeira ilegal com fiscalizações policiais, com o projeto São Paulo Amigos da Amazônia. Nesta ação, eram realizadas identificação da madeira in loco, nas rodovias e também em madeireiras de todo estado. As primeiras operações envolveram um efetivo de policiais militares ambientais. Essa operação também representou um marco nas ações de fiscalização de madeira no Brasil, com forte repercussão internacional.
Por causa da crescente demanda pelo serviço de identificação de madeira e da falta de especialistas, eu desenvolvi uma nova metodologia para envio de imagens, que revolucionou as operações de fiscalização. Desde então, tenho trabalhado intensivamente no treinamento da Polícia Ambiental e da Polícia Rodoviária Federal na identificação macroscópica da madeira e na nova metodologia.
Com o projeto São Paulo Amigos da Amazônia, eu me destaquei como protagonista em uma parceria inovadora entre a ciência e a polícia militar e federal. Apesar do policiamento ainda possuir baixa representatividade feminina em seu efetivo, eu não vivenciei nenhuma situação de barreira enquanto mulher em uma função estratégica. Em todas as ações nas estradas e em estabelecimentos de venda e desdobros de madeira (madeireiras) sempre houve uma relação de reconhecimento, respeito e parceria comigo e com o meu trabalho, tanto por parte da Polícia Ambiental como da Rodoviária Federal.
Com o projeto São Paulo Amigos da Amazônia, eu tive um papel fundamental na popularização do conhecimento científico para a utilização de um sistema de identificação de madeira por milhares de agentes da polícia ambiental e outros profissionais vinculados às operações de fiscalização. A divulgação científica, neste caso, possibilitou o estabelecimento de uma nova era no combate da extração ilegal de madeira e evidenciou que a construção do conhecimento e sua transferência para a sociedade proporciona segurança e confiança nas nossas ações técnicas e no desenvolvimento de políticas públicas acertadas, direcionadas à solução dos maiores desafios que enfrentamos na atualidade.
Meu pai e, em especial a minha mãe, foram as pessoas que mais me inspiraram no desenvolvimento de minha trajetória científica, principalmente por enfrentarem adversidades pela vida e, ainda assim, nunca desistirem de seus objetivos e sonhos, com o lema “se for de coração, siga em frente”.
A competição com os cientistas “machos de plantão”, a responsabilidade de dar conta da casa, dos filhos e ainda ter que me superar consistiu no maior desafio que enfrentei enquanto mulher-cientista. Felizmente, muitas das situações que enfrentei estão ficando no passado: a ciência brasileira tem avançado bastante na representatividade de gênero – a atuação feminina na construção do saber é crescente nas várias áreas do conhecimento.
Para inspirar gerações de meninas e de mulheres a seguir carreiras científicas gostaria de dizer para vocês fazerem o que gostam e completarem o seu caminho. Não parem!