09/02/2023

 

Pesquisadores desenvolvem estudo contínuo de mapeamento e modelagem de grupos mais vulneráveis de espécies com potencial de desparecimento, devido a fatores climáticos, poluentes e uso do solo

O projeto intitulado “Desafios para Conservação da Biodiversidade frente a Mudanças Climáticas, Poluição e Uso e Ocupação do Solo” (Proc. FAPESP 2017/50341-0) tem como missão identificar como agem as alterações climáticas, de poluição atmosférica e do uso do solo na vegetação nativa e seus efeitos na área do ‘Cinturão Verde’ de São Paulo.

Uma das mais importantes e ameaçadas unidades de preservação ambiental do estado, a região é considerada patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), por abrigar grande parte dos mananciais e exemplares de vegetação nativa de Mata Atlântica na capital paulista e região metropolitana da cidade.

Conduzido pela equipe de cientistas do IPA, o estudo foi consolidado durante a gestão do Dr. Luiz Mauro Barbosa, Diretor do antigo Instituto de Botânica. O estudo tem nove módulos e mapeou mais de 70 municípios próximos a cidade de São Paulo e vem reunindo informações por meio de estudos de campo e experimentos em laboratório, para criar modelagens que ampliem o olhar da sociedade sobre a biodiversidade; além de aprimorar o conhecimento em torno da formação e conservação dos ecossistemas; permitir a troca de dados entre institutos de pesquisa ao redor do mundo; contribuir para o processo de formação e capacitação profissional, bem como à educação ambiental e ao desenvolvimento de políticas públicas de preservação e restauração ecológica.

Um dos desafios do grupo multidisciplinar é responder a indagações que levaram ao desenvolvimento do estudo, identificando e classificando quais são os grupos de espécies terrestres e aquáticas de plantas, algas, fungos, sementes mais vulneráveis e com risco potencial de desaparecimento.

Simultaneamente, os pesquisadores procuraram evidenciar os fatores mais agressivos a esses grupos, entre os quais estão os agentes climáticos e os poluentes. A ideia, segundo uma das pesquisadoras principais do projeto, Dra. Marisa Domingos, é “desenvolver modelos consistentes, capazes de prever cenários para os próximos trinta anos, a partir de dados históricos, estudos de campo e em laboratório”.

Assim como as respostas não podem ser avaliadas de maneira isolada, o projeto exigiu dos pesquisadores análises conjuntas, uniu profissionais de diferentes níveis, dos mais experientes aos que estão iniciando seus estudos nessa área, como os alunos de Iniciação Científica. “Todos estão voltados a um grande tema, trabalhando de maneira integrada, mesmo que com diferentes módulos e diferentes coordenadores, com autonomia de atuação, inclusive com verbas distintas para cada projeto”.

Novas tecnologias e desenvolvimento de profissionais

Este trabalho integra o Plano de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIP), criado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com o propósito de ampliar a capacitação científica e tecnológica e, desta maneira, criar condições de atender demandas da sociedade paulista, incluindo resultados orientadores de políticas públicas para o tema.

Com o aporte de recursos destinados pela Fapesp, foi possível adotar novas tecnologias, adquirir equipamentos para a instalação do laboratório multiusuário (Laboratório de Estudos Ambientais – LEA/IPA), que atende a diferentes análises de biomarcadores. Também foram instaladas as câmaras de crescimento, nas quais é possível simular situações em condições pré-existentes em regiões antrópicas naturais, em um ambiente artificial e, desta maneira, monitorar os parâmetros que afetam o crescimento das plantas. “Um grande avanço para a pesquisa e para a ciência”, como define a Dra. Marisa. Diversos estudos sobre restauração ecológica, envolvendo modelagem e indicação de espécies mais adequadas para restauração, também vêm sendo desenvolvidos no âmbito do projeto, afirma o PqC Luiz Mauro Barbosa.

O estudo foi prorrogado até 2023 e possibilitou reunir pesquisadores do Brasil e do exterior, além de formar e capacitar mais de quarenta pesquisadores na área da conservação ambiental.  O IPA ofereceu bolsas para Jovem Pesquisador, Doutorado, Pós-Doutorado e Mestrado e também incentivo à Iniciação Científica, para jovens estudantes de graduação que desejam prosseguir com suas pesquisas.

Os resultados obtidos durante esse período, acrescidos de informações já existentes, bem como o incremento do banco de dados do Instituto de Pesquisas Ambientais, por meio de suas coleções históricas, geram conhecimento para tomadas de decisões futuras. Pode-se afirmar, por exemplo, que os efeitos da elevação da temperatura associados ao depósito de nitrogênio no solo, causado pela poluição industrial e veicular em zonas urbanas, modificam o processo de ciclagem do nitrogênio no ecossistema, prejudicando não só a manutenção das espécies nativas, como um empobrecimento do solo e o esgotamento dos mananciais.

Para Marisa, a pesquisa estabelece uma ponte entre o conhecimento sobre as ameaças em um processo de extinção e as ações de restauração necessárias, com foco em problemas distintos, mas de maneira concreta.