
23/12/2020
Você sabia que pesquisas científicas apontam que o fruto da palmeira-juçara é mais rico em nutrientes do que as bolinhas do açaí? Exames fitoquímicos indicam que seus efeitos benéficos à saúde vão além e estão documentados em vários estudos. Sua capacidade antioxidante é a chave para prevenção de doenças cardiovasculares, desordens neurológicas, do câncer e da diabetes, além de ajudar a diminuir o colesterol ruim e aumentar o bom.
Esse é apenas um dos motivos para a importância do IX Seminário Frutos da Mata Atlântica: o sabor da biodiversidade, promovido pelo Instituto Florestal (IF) da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo e realizado dia 18 de novembro, de forma virtual devido à pandemia da Covid 19, com a participação de parceiros como Unesp, Unifesp, Coopafasb, JICA e Coopafasb.
O seminário teve múltiplos enfoques: um deles, saber o que a ciência e os pesquisadores têm encontrado de novo na Mata Atlântica como remédios e alimentos e fazer a divulgação. ”O mundo vai precisar de muita coisa para comer nos próximos anos e a polpa da Juçara será um produto muito rentável em futuro próximo”, destaca Luis Alberto Bucci, diretor geral do Instituto Florestal. Segundo ele, é importante frisar o objetivo principal do seminário que começou em 2012 para desenvolver modelos de Sistemas Agroflorestais (SAF), no Vale do Ribeira, tendo como componente principal a palmeira-juçara, mas também frutas nativas da Mata Atlântica, como cambuci, uvaia, araçá, pitanga, cabeludinha, gabiroba, entre outras. A polpa da juçara já foi testada no Japão em pílulas e tem sido comercializada regionalmente.
Bucci lembra, ainda, dos aspectos ecológicos de proteção à palmeira-juçara que quase desapareceu devido à grande exploração para corte e retirada do palmito. “Queremos mudar a mentalidade dos produtores de retirada do palmito, porque é preciso derrubar a árvore para retirar o produto, e porque a exploração sem planejamento colocou espécie em risco”, acentua.
Os SAFs são implantados em pequenas áreas, com parceiros que cuidam dessas mudas sem interferir na sua atividade principal.
De 2012 a 2019, a iniciativa contou com financiamento da ONG japonesa Versta, que reúne profissionais da área cultural e que pretende contribuir globalmente para a redução do efeito estufa e localmente para recuperação da Mata Atlântica. “É um projeto de pequena escala e grande duração que começou em 2012 com patrocínio do Fundo Global de Meio Ambiente do Governo do Japão e se estende até 2019”, explica Guenji Yamazoe, funcionário aposentado do IF, profundo conhecedor da Mata Atlântica e da palmeira-juçara.
O projeto está assegurado pelos próximos três anos, com o patrocínio de duas empresas japonesas, a Mitsui e a EAON, uma rede de supermercados. Após várias experiências de plantio da palmeira-juçara – em área sombreada de um goiabal, em área ensolarada, em áreas úmidas, até com mina d’água, com pisoteio de gado ou veado e muita matéria orgânica, e ainda em um chazal, área abandonada de plantação de chá oriundo da Índia, em 2020 o projeto entrou em nova fase.
“Em 2020, aproveitando a mudança dos patrocinadores, começamos o repovoamento da juçara em área de vegetação secundária e/ou sob bananal abandonado”, conta Guenji. De acordo com o especialista, a expectativa é plantar 40 hectares. Já foram plantados 14 hectares na Área de Proteção Ambiental (APA) de Cajati. Neste ano, o projeto passou a contar com a parceria da ONG Iniciativa Verde na parte operacional.
Participaram do seminário como palestrantes: Veridiana Vera de Rosso, da Unifesp Baixada Santista com a palestra “Frutos da Mata Atlântica: uma abordagem translacional na pesquisa e nutrição”; Gilberto Ohta de Oliveira, da Rede Solidária Sete Barras, Cooperativa da Agricultura Familiar de Sete Barras (Coopafasb) falando sobre “Um olhar do produtor: oportunidades de fomento para comercialização dos frutos da juçara”; Marco Aurélio Pizo, da Unesp Rio Claro, com o tema “A diversidade das interações entre animais frugívoros e plantas e a dispersão das sementes” e Eliza Carneiro, fotógrafa e autora do livro “Juçara, a palmeira da Mata Atlântica”. E, contou com a presença de Hiroshi Sato, representante-chefe da JICA no Brasil e Nanci Venâncio, presidente (interina) da Abjica.
A gravação do evento está disponível no canal do Youtube em https://youtu.be/4GOqU7fIra8
Mais informações: Miguel Luiz Menezes Freitas miguellmfreitas@yahoo.com.br