
15/10/2020
Equipes do Instituto Florestal propõem novos usos de madeiras de espécies nacionais e estratégias de conservação da vegetação nativa
IMG: Xiloteca do IF, com amostras das madeiras usadas para identificação de espécies e análise de suas propriedades físicas
Léo Ramos Chaves
O arquiteto e arqueteiro Daniel Lombardi passou uma semana em setembro aplainando a madeira de uma espécie de árvore com a qual ainda não havia trabalhado, o louro-chumbo (Licaria crassifolia), para fazer um arco de violoncelo, com 72 centímetros de comprimento, que em seguida iria para mãos de músicos para ser avaliado. Em seu ateliê, em São Paulo, ele produz outros arcos de violoncelo e também de violino, viola e contrabaixo com ipê-amarelo (Handroanthus sp.), pau-santo (Kielmeyera coriacea) e itaúba (Mezilaurus itauba), vendidos de R$ 3 mil a R$ 9 mil.
Seu propósito é oferecer alternativas ao pau-brasil (Paubrasilia echinata), cujo uso comercial é proibido por se tratar de uma espécie em risco de extinção. “O ipê é excelente para fazer arcos”, diz Lombardi. Um de seus colaboradores nos testes de propriedades de madeiras de espécies nativas é o biólogo Eduardo Longui, do Instituto Florestal (IF) de São Paulo, que acompanhou também a fabricação de um clarinete com outra madeira nacional, a aroeira (Myracrodruon urundeuva), feito pela engenheira florestal Lívia Barros.
A construção de instrumentos musicais é apenas uma faceta pouco conhecida de uma instituição discreta, ainda que centenária. Sua história começou com o Horto Botânico da Cantareira, criado em 1896 e dirigido inicialmente pelo botânico sueco Alberto Loefgren (1854-1918), um dos pioneiros do conservacionismo no Brasil. Do Horto, em 1911, brotou o Serviço Florestal, transformado em instituto em 1970, com a finalidade de cuidar da conservação, pesquisa e produção florestal no estado. Sediado no Parque Estadual Alberto Loefgren, mais conhecido como Horto Florestal, na cidade de São Paulo, o IF administra 47 áreas verdes, com 52 mil hectares (1 hectare equivale a 10 mil metros quadrados). Nelas estão 14 florestas estaduais, de Mata Atlântica e Cerrado, e 10 estações ecológicas, voltadas à conservação ambiental e pesquisa sobre seleção e melhoramento genético de espécies nativas.
Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.