
06/11/2015
Nathalie Gravel apresenta três estudos de casos de sucesso em governança ambiental: Canadá, Costa Rica e Brasil
O Instituto Florestal (IF) recebeu em sua sede, no dia 05 de novembro, a visita da pesquisadora canadense Nathalie Gravel. Professora e pesquisadora da Universidade de Laval (Quebec, Canadá), Nathalie possui pós-doutorado pela Universidade de Yale e especialização em geografia da América Latina e Caribe.
Nathalie se propôs a falar de governança a nível comunitário, que tem o objetivo de criar comunidades unidas para trabalhar projetos comuns e capazes de encontrar soluções para seus próprios problemas através da negociação e solidariedade. Ressaltou a importância dos saberes tradicionais das populações. Falou ainda sobre a necessidade de se construir um vocabulário comum para estimular e capacitar aqueles que não tem o hábito de participar.
O conceito de governança pressupõe um processo de interações sociais e o meio pelo qual múltiplos atores podem atuar. É uma alternativa à gestão tecnocrata e autoritária dos recursos. “Se não há seres humanos no território, não há conflito. Logo, não há a necessidade da governança”, afirma a pesquisadora.
A pesquisadora não negou a dificuldade para se chegar à governança ambiental e apresentou algumas condições sem a qual ela não acontece: modernização política; estabelecimento de mecanismos de coordenação horizontal; redistribuição das competências entre estados, instituições locais e internacionais e sociedade civil.
Em sua palestra “Governança dos recursos florestais e hídricos: lições de Canadá, Costa Rica e Brasil”, Nathalie apresentou três modelos que tiveram êxito. Segundo ela, existem poucos casos de sucesso como esses e por isso é muito importante estudar esses modelos para tentar replicá-los. Concluiu sua apresentação afirmando que as instituições (e o IF se inclui aqui) devem possibilitar o acesso aos dados criados em experiências como essas.
Território indígena Nação Haida (Vancouver)
O primeiro estudo caso apresentado foi do Canadá. Desde 1984, havia um conflito de alta intensidade entre a companhia florestal e comunidade indígena e ambientalistas na ilha de Meares. A companhia queria cortar as árvores da ilha, onde se encontra a fonte de água potável da comunidade. O conflito culminou uma grande manifestação, em 1993, que a pesquisadora considera o início do movimento ecologista do país. Neste momento histórico, ocorreu a união entre o povo local e os ambientalistas, aliança que fortaleceu o movimento. Como consequência, foi declarada a moratória do corte de árvores em Meares. Em 1994, ocorreu a criação do conselho de gestão dos bosques, na qual a Nação Haida participou de maneira equitativa nas decisões. Após alguns avanços e retrocessos ao longo dos anos a área passaria a ter usos múltiplos com os indígenas gerenciando tanto as atividades turísticas quanto os recursos florestais.
Bosque Modelo Reventazón (Costa Rica)
Reventazón era segundo rio mais poluído da Costa Rica. Sua bacia hidrográfica é composta por indústrias, agropecuária e uma grande cidade. Atualmente, não é uma bacia conservada, entretanto, fornece 50% da água potável da capital. O Bosque Modelo Reventazón foi fundado em 2003. Os princípios dos Bosques Modelo estão pautados na promoção do desenvolvimento sustentável em territórios de alto valor biológico e cultural, trabalhando de forma associativa, integrando todos os atores e promovendo o intercâmbio de conhecimentos. O grande desafio na Costa Rica foi unir os múltiplos atores, como indígenas e empresários, conciliando diferentes interesses para atingir metas comuns.
Segundo Nathalie, com a criação de um bosque modelo pode-se dar assistência à criação de outros. “Não se perdem os saberes”. O Bosque Modelo Reventazón foi o primeiro criado na Costa Rica e um dos primeiros da Rede Internacional de Bosques Modelo. O Brasil possui três, sendo dois em Minas Gerais e um em Santa Catarina.
Rede Internacional de Bosques Modelo (www.urbion.es)
Rede Asa (Nordeste brasileiro)
A pesquisadora inicia a apresentação do terceiro estudo caso citando a obra literária “Vidas Secas”, de Graciliamo Ramos. Segundo ela, a obra de 1938 ajudou a estigmatizar a região Nordeste do Brasil. Nathalie defende a necessidade de se revisitar a imagem da região, presente no imaginário coletivo como extremamente carente dos recursos mais básicos, como água e alimentos.
A Rede ASA (Articulação para o semiárido) foi fundada em 1999. É uma rede formada por mais de três mil organizações da sociedade civil de distintas naturezas – sindicatos rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas, organizações não governamentais, entre outros. Sua missão é propor a convivência com o semi-árido (em vez de lutar contra ele). Em 2003 foi realizado um programa de construção de cisternas, financiado pelo Governo Federal, Petrobrás e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Em 2007 o programa se ampliaria para a construção de cisternas para agropecuária. Este processo aconteceu através de ação coletiva. As cisternas eram construídas com material local, envolvendo a população e integrando mulheres e jovens no processo, o que fomentou diferentes formas de desenvolvimento. A criação de um sentimento de pertencimento nas comunidades ajudou inclusive a evitar o êxodo rural.
Rede ASA (http://www.asabrasil.org.br)
Fotos: Paulo Andreetto de Muzio
Mais informações: Serviço de Comunicações Técnico-Científicas – Tel:(11) 2231-8555 / Ramais 2004 e 2149