
16/09/2015
Dando sequência às comemorações da Semana do Cerrado, o Instituto Florestal (IF) e a Fundação Florestal (FF) realizaram no dia 15 de setembro a Mesa redonda “Falando de Cerrado”. O evento aconteceu no Auditório Augusto Ruschi, na Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA), e promoveu o encontro de diversos especialistas sobre o bioma.
A secretária adjunta do Meio Ambiente Cristina Maria do Amaral Azevedo abriu o evento. As palestras foram conduzidas por quatro especialistas da Universidade de São Paulo, a começar pelo Dr. Leopoldo Coutinho, uma das maiores referências nacionais em cerrado, que apresentou a palestra “Bioma Cerrado: o fogo e a biodiversidade”. Em seguida, a Dra. Vânia Pivelo ministrou a palestra “O que podemos dizer sobre a conservação do cerrado?”. O Dr. José Carlos Motta Jr falou sobre o estudo que realizou com a avifauna da Estação Ecológica Itirapina. Por fim, o Dr. Marcio Martins apresentou seus estudos sobre conservação de anfíbios e répteis no Cerrado.
Entre outras informações importantes apresentadas nas palestras, o professor Leopoldo Coutinho destacou alguns dados interessantes e, conforme ele mesmo ressaltou, pouco conhecidos pela maioria: “O Brasil é um dos países mais ricos em biomas do mundo, se devendo isto em grande parte às suas dimensões que, ao norte ultrapassam o equador e ao sul, o Trópico de Capricórnio, estendendo-se desde o Atlântico até o centro do continente sul-americano. Isto condiciona diferentes tipos climáticos em suas distintas regiões. Sendo o clima o principal fator determinante da vegetação, seguido pelas condições edáficas, é de se esperar, portanto, que o Brasil seja detentor de uma grande diversidade biológica, não apenas em termos de número de espécies, mas também em quantidade de biomas. Ao contrário do que se divulga, no Brasil encontramos nada menos do que 16 tipos de biomas e não apenas seis. O Cerrado, ao lado das Caatingas Nordestinas e das Campinaranas Amazônicas, é um bioma de savana, que se caracteriza pelo clima tropical estacional, com chuvas no verão e seca no inverno. Sua vegetação apresenta-se como um mosaico de fisionomias, que vão do campo limpo ao cerradão, passando pelo campo cerrado e cerrado sensu stricto. O especialista ainda teceu algumas considerações fundamentais sobre o papel do fogo no Cerrado: “O fogo, que pode ser natural ou antrópico, é responsável em boa parte por esse mosaico. As fisionomias mais abertas de cerrado são altamente tolerantes e até mesmo dependentes desse fator. Já as fisionomias mais fechadas, como o cerradão, sofrem com a sua incidência mais frequente. As queimadas abrem os cerradões, transformando-os em campos cerrados e campos limpos. Para mantermos um máximo de biodiversidade é aconselhável que o manejo do fogo seja adequadamente implementado em nossas unidades de conservação, impedindo que, com o tempo, tudo se transforme em cerradão, por um lado, ou em campo limpo, por outro. O manejo do fogo é uma prática adotada com sucesso em outras savanas, como na África do Sul e na Austrália”.
O fogo foi um dos assuntos mais comentados durante o evento. Os palestrantes foram unânimes em reforçar a importância do manejo correto e acompanhado do elemento no cerrado. “É preciso se antecipar ao fogo natural, para não perder o controle. Um dos maiores problemas do Cerrado é a alteração do regime do fogo. Metade do Cerrado já não existe mais”, destacou a Prof.ª Vânia Pivelo.
Outro tópico comentado durante as palestras foi a biodiversidade e a extinção de animais do Cerrado. Muitas espécies são endêmicas desse bioma e estão correndo risco de extinção devido à situação das áreas, principalmente pela utilização incorreta do fogo e por existirem caçadores nos locais. De acordo com o Prof. José Carlos Motta Jr, existem muitos caçadores na área e a solução é intensificar a fiscalização. Importante destacar que provocar incêndio e caçar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, é crime, previsto na Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (lei de crimes ambientais), passível de detenção e multa.
A pesquisadora científica do IF Natália Macedo Ivanauskas moderou os debates que ocorreram após as palestras. Luís Alberto Bucci, também pesquisador da casa, conduziu o cerimonial. Mais de cem participantes inscritos estiveram presentes no evento.
No saguão do auditório, aconteceu exposição itinerante “Cerrado – imagens de uma paisagem ameaçada”, com fotografias de fauna e flora do bioma clicadas por técnicos e pesquisadores do IF. A exposição poderá ser visitada na SMA até o dia 21 de setembro.
Links das palestras:
José Carlos Motta Junior – “Avifauna da Estação Ecológica Itirapina e sua conservação: um estudo de caso em UC no interior paulista”
Fotos: Paulo Andreetto de Muzio
Mais informações: Serviço de Comunicações Técnico-Científicas – Tel (11) 2231-8555 / Ramal 2004