
03/12/2020
Por Natália Ferreira de Almeida
Na última sexta-feira, 27 de novembro, o servidor do Instituto Florestal (IF) Paulo Andreetto de Muzio defendeu sua dissertação de mestrado Os sentidos do Museu Florestal “Octávio Vecchi”.
O objetivo da pesquisa foi compreender o funcionamento da divulgação científica no Museu Florestal “Octávio Vecchi” e a contribuição deste museu e do Serviço Florestal (denominação do IF entre 1911 e 1970) na constituição dos saberes ambientais no Estado de São Paulo. Foram analisados documentos históricos do arquivo do Museu, com recorte nas décadas de 1930 e 1940, quando o espaço era a sede da pesquisa científica do Serviço Florestal.
O estudo descreve como são constituídos os imaginários que afetam as práticas institucionais, científicas e de divulgação, abordando questões como: a relação entre a identidade paulista após a ascensão econômica do Estado com a cultura cafeeira e a criação de instituições públicas de pesquisa científica no século XIX, dentre elas a Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo (embrião do Instituto Florestal); a forma como os discursos do eurocentrismo, da colonização e da imigração constituem o imaginário do cientista dentro do recorte da pesquisa e tem consequências até hoje com o apagamento das práticas das populações tradicionais; os efeitos do discurso econômico no imaginário coletivo sobre o Meio Ambiente.
A pesquisa também traz um debate sobre a prática da divulgação científica, superando a concepção de que esta atividade é mera tradução, simplificação ou transmissão do conhecimento científico. Nos textos de divulgação da Silvicultura estudados, a maioria assinada pelo engenheiro silvicultor Mansueto Koscinski, foi identificado o uso de outros discursos além do científico (como o militar, o religioso, o econômico, o jurídico, entre outros) e a modulação de seus dizeres de acordo com os diferentes interlocutores.
O trabalho mostra o contexto que possibilitou que o Museu fosse colocado de pé e se tornasse sede da pesquisa científica no Serviço Florestal: desde a institucionalização da ciência em São Paulo a partir do século XIX e expansão do Estado consolidados na Era Vargas, até a forma como os cientistas se articulavam com o setor privado e com as outras instituições públicas e de ciência.
Os resultados alcançados constituem importante contribuição à história ambiental, à história das ciências em geral e da silvicultura mais especificamente, além de ajudar a salvaguardar a própria memória da instituição. A escassez de documentação precedente à década de 1930 aponta para a necessidade de uma atenção especial voltada à preservação dos acervos em momentos de transição.
Com base nas experiências do passado da instituição, o estudo traz reflexões sobre como a divulgação científica pode ser feita atualmente, inclusive no que diz respeito à área de Meio Ambiente.
A pesquisa foi realizada no âmbito do Programa de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A banca da defesa da dissertação de mestrado teve como presidente o orientador Eduardo Roberto Junqueira Guimarães, do IEL/Unicamp e como membros Cristiane Pereira Dias, do Labjor/Unicamp e José Simão da Silva Sobrinho, da Universidade Federal de Uberlândia. A exposição e arguição ocorreram em ambiente virtual por conta da pandemia de Covid-19.
Em breve o texto da dissertação estará disponível no Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp.