
11/07/2019
Exposição “Bicho: Quem te viu, quem te vê”, que aborda os conflitos relacionados à fragmentação da paisagem, já atingiu de forma gratuita um público superior a 120 mil pessoas
As Unidades de Conservação (UC) são áreas protegidas com o objetivo de preservar a biodiversidade de ecossistemas do patrimônio natural nacional. Esses locais são protegidos pela Lei do Sistema Nacional das Unidades de Conservação (SNUC).
Ações de educação, comunicação e valorização dos ambientes protegidos são necessárias para a divulgação da importância das Unidades de Conservação. Já que, desta forma, há uma aproximação com a população, e a oportunidade de transmitir diversos conhecimentos científicos de forma popular e lúdica.
Neste sentido, foi criada a exposição itinerante “Bicho: Quem te viu, quem te vê”. Inaugurada em 2015, a mostra aborda questões como o atropelamento de animais silvestres e outros conflitos relacionados à fragmentação da paisagem. Por meio de painéis, são apresentados registros fotográficos e ilustrações, de como se deu a evolução da ocupação dos ambientes naturais do interior paulista e o que restou deles. Além de contar com atividades interativas como vídeos documentários, efeitos sonoros, quebra–cabeças, e animais silvestres taxidermizados (técnica de montar ou reproduzir animais para exibição ou estudo através da preservação da forma da pele, planos e tamanho do ser).
De acordo com um estudo publicado na IF Série Registros nº56, as paisagens naturais do interior paulista apresentaram uma enorme baixa durante o século XX. Em especial a partir da década de 1920 com a expansão das culturas de café. Em 1990 o Estado de São Paulo atingiu seu menor índice de áreas florestais com 11,5%, ou seja, cerca de 3,3 milhões de hectares. Em 2009, dados do último inventário florestal revelaram que o Estado apresenta 4,3 milhões de hectares com 17,5% de áreas florestais, sendo a maioria, unidades de conservação e outras categorias de áreas protegidas.
A exposição é, portanto, um canal para salientar a importância das UCs. Neste processo, a Interpretação Ambiental (IA) é uma das formas mais eficiente e dinâmica desenvolvida por meio de diferentes estratégias. “A IA é uma ferramenta pedagógica que se propõe a sensibilizar o individuo, tirando o mesmo de sua zona de conforto. A exposição, por meio de imagens, sons e, em especial animais taxidermizados estimula o interesse do público de todas as idades. Isso faz com que possamos dialogar novos conceitos e comportamentos fundamentais ao processo de conservação da biodiversidade”, explica o pesquisador científico do Instituto Florestal Paulo Ruffino.
Ainda de acordo com Ruffino: “A exposição traz aos visitantes sua localidade. Esta conexão e identificação com as áreas naturais mais próximas devem ser estimuladas pelos gestores destes espaços protegidos, garantindo assim o interesse e/ou a visita das pessoas a estes locais”.
Atualmente a mostra está exposta no Centro de Ciência e Cultura – Profº Osvaldo Roberto Leite em Limeira, interior de São Paulo. Segundo a pesquisadora do Centro de Divulgação Científica Cultura da Universidade de São Paulo (CDCC/USP), Silvia Aparecida Martins dos Santos, a “Bicho: Quem te viu, quem te vê” já passou por mais de 14 municípios paulistas envolvendo mais de 24 locais distintos, e atingiu de forma gratuita um público superior a 120 mil pessoas.
O estudo realizado sobre a exposição acompanhou sua passagem por quatro áreas protegidas do interior do Estado de São Paulo: a Estação Experimental e Ecológica de Itirapina, o Parque Estadual de Vassununga, o Parque Estadual de Porto Ferreira e a Estação Ecológica de Jataí. Ao todo as unidades tiveram 5.593 visitantes, sendo sua grande maioria alunos e professores de escolas públicas e
particulares.
Através de um questionário de avaliação os visitantes destacaram os animais taxidermizados como um dos elementos mais interessantes e apontaram o recorrente aparecimento de animais nos espaços urbanos.
Vale ressaltar que a mostra faz parte do protejo de pesquisa “Exposição itinerante como estratégia para a conservação da fauna silvestre na região central do Estado de São Paulo” e foi concebida pelo Centro de Divulgação Científica e Cultural em parceria com o Instituto Florestal, Fundação Florestal e Laboratório de Educação Ambiental do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos.
Conservação in situ e ex situ
A redução dos biomas devido à expansão da agricultura, o crescimento das cidades, e o aumento da malha viária, vêm contribuindo também com a perda e até com a extinção da fauna. Em menos de 50 anos, espécies como a onça-pintada, a anta, o cervo-do-pantanal e o cachorro-vinagre foram extintas na região central do Estado.
Segundo o pesquisador Paulo Ruffino, a conservação dos seres vivos ocorre por meio direto, onde o organismo a ser conservado se encontra em seu ambiente natural de ocorrência (in situ), ou indireto, quando este organismo vai ser conservado em ambiente distinto do que naturalmente ocorre (ex situ). “Dois exemplos são: o mico-leão-preto, primata nativo do Estado de São Paulo, que hoje só possui população viável no Parque Estadual do Morro do Diabo. A conservação da espécie se dá de forma direta (in situ), protegendo a unidade de conservação. E a ararinha-azul, ave nativa de regiões de matas de galeria da caatinga brasileira, que foi considerada extinta da natureza, porém, conta com mais de 160 indivíduos em cativeiros no Brasil e no exterior. Sua conservação, portanto ocorre de forma indireta (ex situ)” exemplifica.
Ações de conservação in situ e ex situ foram implementadas e algumas espécies estão novamente habitando as áreas naturais da região. Um exemplo é a reintrodução do cervo-do-pantanal na Estação Ecológica do Jataí.
As áreas protegidas são estratégicas à conservação das espécies, contudo, ainda apresentam ameaças constantes às diversas espécies de animais silvestres por conta dos atropelamentos em rodovias e de caça. A exposição “Bicho: Quem te viu, quem te vê” busca informar e sensibilizar os visitantes através de dados e dos animais taxidermizados, como o lobo-guará e a suçuarana mortos por atropelamento.
“Caçar Animal Não É Legal”
A exposição itinerante, de forma indireta, também se relaciona com outros trabalhos do IF. O Museu Florestal Octávio Vecchi, que recebeu a “Bicho: Quem te viu, quem te vê” em 2015, hoje sedia a 2ª edição do Artevista – Arte em Defesa dos Animais.
A exposição “Caçar Animal não é Legal” faz parte do Projeto Internacional de Arte para Crianças e Adolescentes da ONG Olhar Animal, com o apoio do MICA – Movimento Infantojuvenil Crescendo com Arte, e tem como objetivo estimular o respeito e a defesa aos animais. Crianças e adolescentes do Brasil e do mundo foram convidados a expressar, através de desenhos, sua sensibilidade e consciência sobre o assunto.
Foram recebidas, via internet, quase 400 obras vindas da Indonésia, Escócia, Bielorrússia, Lituânia, Polônia, Sérvia e do Brasil. Todos os desenhos finalistas estão expostos para visitação pública no Museu Florestal até o dia 19 de julho.
A exposição aborda um dos temas de maior destaque e discussão atualmente. Vale lembrar que a caça profissional e esportiva de animais silvestres foi proibida no Brasil há mais de 50 anos, e que qualquer atividade ilegal ou novas leis que facilitem esta proibição fere o princípio da dignidade animal, conforme prevê a Constituição de 1988.
Texto: Amanda Nunes
Fotos: Acervo Instituto Florestal