22/06/2016

Entre 2011 e 2012, Caio Souza, estudante biologia e estagiário do Instituto Florestal (IF) desenvolveu pesquisa que avaliou o plantio de duas espécies nativas com potencial comercial, a aroeira e o angico-vermelho, em consórcio com a espécie pioneira capixingui, também nativa. O objetivo foi verificar a influência de diferentes proporções da pioneira na sobrevivência e crescimento das espécies de interesse comercial. A pesquisa foi realizada em Paraguaçu Paulista e envolveu os pesquisadores do IF Osmar Vilas Bôas e Giselda Durigan. O estudo foi apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

Atualmente, Caio é mestre em biociências pela Unesp e nos contou um pouco mais sobre sua pesquisa, recém publicada na Revista do Instituto Florestal. Falou também sobre a importância de se realizar estudos com espécies nativas que tenham potencial comercial madeireiro.

Por que estudar espécies nativas para fins comerciais?
O Brasil apresenta grande demanda por madeira para os mais variados fins: produção de carvão, papel e celulose, móveis, além da construção civil leve e pesada, demanda esta que vem crescendo nos últimos anos. “Quase 20% dessa demanda corresponde a madeiras de espécies nativas. O problema é que o plantio dessas espécies nativas para a extração de madeira não é suficiente para suprir essa demanda, resultando na extração ilegal de madeira diretamente de remanescentes florestais”, alerta Caio. “Conhecendo melhor as particularidades do cultivo dessas espécies, é possível planejar plantios que sejam mais eficientes em termos de produção madeireira, aliviando a pressão extrativista nas florestas naturais ao mesmo tempo em que supre a demanda de madeira pela indústria”, complementa.

Há algumas décadas são desenvolvidas no Brasil pesquisas voltadas ao cultivo de espécies florestais nativas com potencial comercial. Entretanto, o foco desses estudos são plantios com apenas uma espécie. Dessa forma, plantios consorciados ainda são raros enquanto objetos de estudo.

Mas o que são plantios consorciados?
Os plantios consorciados (também conhecidos por plantios mistos ou mixed stands) são formas de cultivo na qual duas ou mais espécies são plantadas simultaneamente no mesmo local. O plantio pode ser realizado sob variados modelos de espaçamento e proporção entre espécies. “A ideia é que as espécies de interesse comercial tenham sua produtividade beneficiada pela interação com as demais espécies cultivadas no local, bem como pela interação destas espécies com o meio. Um plantio misto de sucesso deve ter a produtividade superior ao monocultivo da espécie de interesse comercial”, explica Caio.

O entrevistado cita o exemplo clássico do plantio consorciado de espécies de eucalipto com leguminosas fixadoras de nitrogênio: “Estudos já apontaram crescimento significativamente superior, tanto em diâmetro quanto em altura, para os eucaliptos consorciados quando comparados aos cultivados em plantios puros”.

Influência das espécies pioneiras no crescimento das secundárias
O estudo que é tema desta matéria avaliou o desempenho das duas espécies nativas de interesse comercial (aroeira e angico vermelho), em consórcio com o capixingui.

O capixingui é uma espécie pioneira. A aroeira e o angico vermelho são espécies secundárias. “Espécies pioneiras são as primeiras a ocuparem o ambiente, por esta razão são chamadas também de espécies colonizadoras ou oportunistas. Geralmente apresentam crescimento rápido, grande capacidade de dispersão e desenvolvem-se melhor sob abundância de luz solar. As espécies secundárias (ou não-pioneiras) aparecem em momentos posteriores da sucessão ecológica, sendo espécies mais especializadas, de crescimento lento e ainda apresentando a capacidade de germinar e se desenvolver sob a sombra.”, explica Caio.“Em florestas de momento sucessional mais avançado as espécies secundárias tendem a ser maioria, sendo comumente exemplificadas por árvores de grande porte com o ciclo de vida mais longo”, acrescenta.

O estudo foi realizado em dois experimentos de restauração florestal, um plantio consorciado de aroeira e capixingui e o outro de angico-vermelho e capixingui. Foram realizados com cinco repetições de cada tratamento (25, 50, 75 e 85% da espécie pioneira).

Os experimentos foram instalados no ano de 1997, na microbacia hidrográfica do ribeirão Água da Cachoeira (tributário da bacia do Médio Paranapanema), no município de Paraguaçu Paulista. Quinze anos após o plantio, foram constatados alguns padrões:

  • mortalidade superior da espécie pioneira em comparação às secundárias;
  • crescimento mais rápido da aroeira e do angico-vermelho quanto maior a proporção da espécie pioneira;
  • não houve variação no volume de madeira produzido por que possa ser explicada pela proporção de pioneiras para nenhuma das duas espécies.

Embora a consorciação com espécies pioneiras favoreça o crescimento individual das espécies-alvo, não há nenhum efeito da consorciação no volume de madeira produzido por hectare.

“No caso deste estudo, o maior volume médio de madeira produzido por indivíduo de cada uma das espécies-alvo (secundárias) foi explicado pela mortalidade das espécies pioneiras, o que reduziu a competição por recursos e permitiu que as espécies-alvo se desenvolvessem melhor. Além da relação entre espécies pioneiras e secundárias, outros fatores também influenciam no crescimento e desenvolvimento das espécies em um plantio consorciado, sendo que estes fatores variam desde as características do meio (que podem favorecer determinadas espécies em detrimento a outras) até características particulares de cada espécie que as favoreçam em um ambiente de competição”, conclui Caio.

Para ele, ainda é cedo para se fazer generalizações sobre plantios consorciados, porém, fica bem evidente a necessidade de novos estudos para que haja cada vez mais entendimento sobre os processos ecológicos envolvidos nesse tipo de plantio. Dessa maneira, a produtividade dos plantios de espécies nativas poderá ser melhorada e, consequentemente, os problemas ambientais e econômicos relativos à exploração dessas espécies poderão ser atenuados.

Os resultados da pesquisa realizada foram publicados na Revista do IF, volume 27 nº 2.