
16/03/2016
O pesquisador científico do Instituto Florestal (IF) Roque Cielho Filho elaborou, a partir de estudos de flora do município de Avaré, uma lista de espécies nativas com potencial para utilização em arborização urbana. Os levantamentos foram realizados em duas unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto.
A importância de planejar a arborização urbana
A arborização urbana proporciona vários benefícios aos habitantes, tais como conforto térmico e acústico, melhoria da qualidade do ar, embelezamento da paisagem e amenização de enchentes. Em nossas cidades, o padrão de urbanização nem sempre segue um planejamento favorável ao plantio de árvores. Alguns fatores dificultam o cultivo: calçadas estreitas, fiação elétrica aérea e tubulações subterrâneas disputando espaço com as copas e raízes, entre outros. O fato é que não sobra espaço para as árvores na maioria das cidades. Essa realidade aumenta a importância de um planejamento eficiente da arborização urbana, o que envolve, sobretudo, a escolha de espécies que apresentem porte adequado, entre outros atributos biológicos desejáveis. O porte da árvore é um aspecto muito importante e recomenda-se o uso de árvores de pequeno a médio porte para minimizar a interferência com fiação elétrica, tubulações e outras estruturas, bem como para minimizar os danos em caso de queda. Outro aspecto importante é o uso de espécies nativas regionais, de modo a beneficiar a conservação do patrimônio biológico brasileiro, representado pela grande biodiversidade. Historicamente, a arborização urbana tem sido implementada com o uso de um reduzido número de espécies e, em geral, com espécies que não são nativas do território brasileiro, ou que são nativas de regiões e biomas distintos daqueles onde estão sendo plantadas. Além de não contribuir para a conservação da nossa biodiversidade tais práticas acarretam em risco de introdução de espécies invasoras que podem escapar ao cultivo e prejudicar ambientes naturais. Além disso, a baixa diversidade de espécies da arborização amplifica os danos causados por pragas e doenças tal como ocorre nas monoculturas. O uso de árvores nativas regionais em alta diversidade apresenta ainda a vantagem de beneficiar a fauna nativa conferindo abrigo e alimento para os animais, principalmente aves.
Espécies nativas para se plantar em Avaré
A lista abaixo foi compilada a partir de levantamentos de flora na Estação Ecológica de Avaré e na Floresta Estadual de Avaré, popularmente conhecida como “Horto”. As espécies são encontradas nos remanescentes de Mata Atlântica em transição ou não com Cerrado. Os dois biomas ocorrem naturalmente em forma de mosaico em terras avareenses. Com a lista, o Instituto Florestal espera contribuir para o planejamento da arborização urbana no município.
Os levantamentos utilizados para a elaboração foram publicados na Revista do Instituto Florestal em 2013 e na Revista IF Serie Registros em 2015. Podem ser acessados nos links a seguir:
- Estádio inicial de sucessão em floresta estacional semidecidual: implicações para a restauração ecológica.
- A vegetação da estação ecológica de Avaré: subsídios para o plano de manejo
Mestre e doutor em Biologia Vegetal pela Universidade de Campinas (Unicamp), Roque afirma que os estudos de florística, como os citados nos links, não apontam as espécies indicadas para arborização urbana. É preciso fazer um esforço adicional de compilação de informações para identificar as espécies com esse potencial a partir dos estudos florísticos. “Foi isso que eu fiz aqui pra Avaré e pretendo fazer futuramente para outros municípios onde desenvolvemos estudos florísticos. É uma forma de converter o conhecimento científico em informação aplicada para a sociedade“, complementa o pesquisador, que contou com a contribuição do bolsista da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP) José Ricardo Amorim na tabulação dos dados das espécies.
Roque recomenda que a escolha da espécie seja feita por um técnico experiente e mediante avaliação do local onde se deseja fazer o plantio. Aos produtores de mudas, aconselha a realização da coleta de sementes de árvores matrizes num raio máximo de 150 km do município. Recomenda ainda que, antes de serem plantadas, as mudas sejam conduzidas em viveiro no sistema haste única até atingirem uma altura mínima de fuste de 2 metros.
As espécies da lista foram escolhidas com base no critério de tamanho, sendo incluídas apenas as de pequeno a médio porte (5 a 10 metros). Estão indicadas abaixo as árvores que atraem aves, a altura máxima esperada, a cor da flor e a época de floração. A altura máxima pode ser diferente do valor indicado em função das condições ambientais e tratos culturais.
Nome popular | Nome científico | Aves | Altura | Flor | Floração |
baga-de-jaboti | Lacistema hasslerianum |
x |
5 |
branca | set-out |
branquinho | Sebastiania brasiliensis |
5 |
amarelada | out-fev | |
jacatirão | Miconia ligustroides |
x |
5 |
branca | out-nov |
quina | Coutarea hexandra |
5 |
rósea | jul-ago | |
cambuí | Myrciaria tenella |
x |
6 |
branca | dez-fev |
lixa | Aloysia virgata |
6 |
branca | ago-nov | |
cabelo-de-anjo | Calliandra foliolosa |
7 |
vermelha | ago-set | |
ixora-do-mato | Ixora venulosa |
x |
7 |
branca | out-dez |
unha-de-vaca | Bauhinia longifolia |
7 |
branca | dez-jan | |
cambroé | Casearia lasiophylla |
x |
8 |
branca | ago-set |
caujuja | Clethra scabra |
8 |
amarelada | dez-mar | |
cocão | Erythroxylum deciduum |
x |
8 |
amarelada | ago-out |
erva-mate | Ilex paraguariensis |
x |
8 |
branca | out-dez |
guamirim-faxo | Calyptranthes concinna |
x |
8 |
amarelada | fev-mar |
sassafraz-do-campo | Ocotea elegans |
x |
8 |
branca | ago-set |
catiguazinho | Trichilia elegans |
x |
9 |
branca | set-out |
pata-de-vaca | Bauhinia forficata |
9 |
branca | ago-set | |
tamanqueiro | Aegiphila integrifolia |
x |
9 |
branca | dez-jan |
aguaí | Chrysophyllum marginatum |
x |
10 |
amarelada | jan-abr |
aroeira-pimenteira | Schinus terebinthifolius |
x |
10 |
branca | set-jan |
canela-frade | Endlicheria paniculata |
x |
10 |
branca | jan-mar |
chal-chal | Allophylus edulis |
x |
10 |
branca | set-nov |
crumarim | Esenbeckia febrifuga |
10 |
branca | ago-nov | |
erva-de-lagarto | Casearia sylvestris |
x |
10 |
branca | jun-ago |
guaçatonga | Casearia decandra |
x |
10 |
amarelada | jul-ago |
ingá-do-brejo | Inga uruguensis |
x |
10 |
branca | ago-nov |
jaboticabinha | Myrciaria floribunda |
x |
10 |
branca | dez-jan |
jasmim-do-mato | Rudgea jasminoides |
x |
10 |
branca | set-out |
sete-capotes | Campomanesia guazumifolia |
x |
10 |
branca | out-nov |
tabocuva | Pera glabrata |
x |
10 |
amarelada | jan-mar |
Mais informações: Roque Cielo Filho – Floresta Estadual de Avaré – Tel. (014) 3732-0290